A Colômbia é o principal alvo das autoridades venezuelanas que continuam a procurar esclarecimentos sobre o atentado direcionado a Nicolás Maduro no passado fim-de-semana. Desta vez, foi Julio Borges, um opositor do dirigente sul-americano e antigo presidente do Congressi, que vive em Bogotá há vários meses, que foi acusado pelo Supremo Tribunal da Venezuela de estar ligado aos ataques a Maduro, dando-lhe ordem de detenção.

Mas, a história não acaba aqui: segundo o próprio Governo, através de uma série de vídeos, foram prometidos 43 milhões de euros e a cidadania norte-americana aos autores do atentado, caso este tivesse sido bem sucedido.

De acordo com o jornal espanhol El País, Julio Andrés Borges Juyent, um dos mais destacados opositores de Maduro e ex-presidente do Congresso, foi formalmente acusado pelo mais alto tribunal venezuelano por fazer parte da conspiração que visava o suposto assassinato do sucessor de Hugo Chavez. Radicado na Colômbia há alguns anos, Borges já reagiu à notícia através de uma intervenção no Senado desse país vizinho, desmentindo a sua participação no atentado e afirmando que a tomada de posição não o surpreende já que há muito o acusam dos mais variados complôs. “Há anos que nos acusam deste tipo de coisas: primeiro disseram que íamos bombardear Caracas com um avião, que estávamos envolvidos em conspirações militares, que estávamos a agir em conluio com o Governo da Colômbia…”. O mesmo tribunal ordenou a “detenção imediata” do político.

Detido foi também o reivindicativo líder estudantil Juan Requesens, acusado de também terfeito parte desta tentativa de assassinato. No dia anterior ao suposto rebentamento de explosivos transportados por drone, Requesens foi levado pala os calabouços do Servicio Bolivariano de Inteligencia (SEBIN) e, até hoje, desconhece-se o seu paradeiro oficial. A sua irmã, Rafaela Requesens, também foi detida, mas poucas horas depois foi libertada.

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[Veja a intervenção inflamada de Requesens no parlamento venezuelano, dias antes de ter desaparecido nas mãos do SEBIN]

“Uma detenção arbitrária” — é esta a forma como Borges define a prisão de Requesens. “Sequestraram-no, levaram-no contra às leis, contra a Constituição, violaram todos os direitos humanos”, afirmou na mesma intervenção no Congresso colombiano. “A sua família nem sabe onde ele está”.

Nomeio de tudo isto, poucas horas depois de ser conhecida a decisão do Supremo venezuelano, a Assembleia Nacional Constituinte — dominada pelo chavismo — votou a favor da revogação da imunidade parlamentar de Borges e de outras cinco pessoas, opositoras de Maduro que também foram acusadas de fazer parte da conspiração. Diosdado Cabello, o presidente da Assembleia Constituinte venezuelana, já afirmou que ainda serão anunciados outros nomes associados ao atentado, assim que as investigações o permitirem. Esses outros presumíveis conspiradores fazem parte dos partidos Primero de Justicia e Voluntad Popular e já devem ter fugido da Venezuela

“Os militares foram de uma fraqueza inacreditável. Fugiram!” Já não estão ao lado do regime de Maduro?

Borges, que mantém grande proximidade com Ernesto Macías, o presidente do Senado colombiano, deixou uma mensagem a Maduro: ” Você [Nicolás Maduro] estará fora do poder, preso por violação dos direitos humanos e pela destruição da democracia”.

Entretanto, o Governo venezuelano já divulgou uma série de vídeos onde apresenta “provas” que aos autores do atentado do passado sábado foram oferecidos 43 milhões de euros (50 milhões de dólares).

“Ofereceram pagar-lhes 50 milhões de dólares e guarida nos Estados Unidos”, afirmou o narrador dos vídeos divulgados pela cadeia estatal de rádio e televisão.

Os 43 milhões de euros e os supostos “conspiradores”

O jornal El Español afirma que o Governo venezuelano acredita que os autores materiais receberam na Colômbia “treinos para que pudessem manejar convenientemente os drones e os explosivos”. Esses supostos exercícios decorreram numa quinta chamada Atalanta, no município de Chinácota, na zona norte de Santander, em Cúcuta.

Maduro afirmou que os terroristas se auto-intitulavam “grupo número 2, grupo bravo” nas suas comunicações internas e receberam ordens para sobrevoar a zona onde o próprio se encontrava, assim como vários chefes políticos e militares do regime, com dois drones carregados de explosivos.

Explicou ainda que os drones estavam carregados com estilhaços e procuravam “matar todas as autoridades presentes no palanque presidencial” durante a celebração do aniversário da Guarda Nacional Bolivariana (GNB, a polícia militarizada).

O Governo assinalou como possíveis autores intelectuais Rayder Alexander Russo Márquez, “conhecido como Pico, protegido pela Colômbia”, e Osman Alexis Delgado, “financeiro residente nos EUA”. Existem ainda outros supostos culpados deste atentado: um sargento da GNB reformado, Juan Carlos Monasterios, Yanina Pernía, Alberto Bracho, Argenis Valero Ruiz e Brayan Oropeza. Estes dois últimos pilotavam os drones, segundo fontes oficiais.

O governante venezuelano decidiu ainda mostrar fotografias de dois sujeitos, identificados como Yilber Alberto Escalona e Gregorio José Yaguas, que serão técnicos de explosivos. Pediu ainda para que quem tivesse informações sobre o paradeiro dos dois homens em questão.

O coronel reformado Oswaldo Valentín García foi classificado como o “chefe dos assassinos” que planavam matar Maduro no passado sábado. “Ele está a tentar angariar militares e convencê-los a juntarem-se às suas aventuras criminosas (…) trabalha diretamente com o governo cessante de Juan Manuel Santos [ex-presidente da Colômbia]”, afirmou o líder venezuelano.

Toda operação, relatam estas acusações, foram feitas com a conivência de um oficial da polícia fronteiriça, Mauricio Jiménez Pinzòn, que permitia o livre transito dos supostos conspiradores entre a Venezuela e a Colômbia.

Finalmente, a mensagem acusatória terminou com a informação de que alguns dos implicados  foram apanhados em flagrante, que outros alugaram um imóvel durante seis meses, em Caracas, para planear toda a operação, e tiveram também ligados aos confrontos violentos e antigovernamentais de 2014 e 2017. “Estou seguro de que vão receber a mais dura, a mais pesada condenação (…) todos são protestantes violentos  que fazem parte de organizações políticas da direita venezuelana”, terminou o líder sul-americano.

De recordar que há quem sugira que este episódio está a ser aproveitado por Nicolás Maduro para sanear uma série de adversários políticos, associando-os ao acontecimento do passado sábado.