A ONU lamentou este sábado a decisão dos Estados Unidos de cortarem o financiamento à Agência de Assistência aos Refugiados Palestinianos, enquanto a Liga Árabe a condenou e o Egito expressou preocupação com a situação humanitária que dela derivará.
Descrevendo a agência como um organismo “que fornece serviços essenciais e contribui para a estabilidade da região”, o secretário-geral da ONU, António Guterres, citado em comunicado pelo seu porta-voz, Stéphane Dujarric, sublinhou que “os Estados Unidos têm sido tradicionalmente o maior contribuinte da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinianos”.
“Apreciamos o seu apoio durante os anos passados“, prosseguiu Guterres, acrescentando que a agência tem a sua total confiança e elogiando o trabalho do respetivo comissário-geral, Pierre Krähenbühl, cujos esforços para ultrapassar a inesperada crise financeira que o organismo enfrentou este ano classificou como “incansáveis, rápidos e inovadores”. O responsável máximo da ONU recordou que Krähenbühl alargou a base de doadores, recolheu fundos consideráveis e explorou novas vias de apoio, além de ter tomado medidas administrativas para aumentar a eficiência e reduzir gastos.
A difícil situação económica da agência especializada das Nações Unidas deve-se sobretudo aos cortes anunciados em janeiro pelo Governo do Presidente norte-americano Donald Trump. Em 2017, os Estados Unidos doaram 364 milhões de dólares à organização, quantia que este ano foi reduzida a 65 milhões, em vez dos mais de 360 milhões previstos. Tendo em conta um défice de 146 milhões de dólares que já estava incluído nas contas, a decisão de Washington criou um buraco de 446 milhões de dólares no orçamento da agência, uma “situação financeira sem precedentes”, segundo Krähenbühl. Tradicionalmente, os Estados Unidos contribuíram com cerca de um terço do orçamento anual da agência, que em 2017 ascendeu a cerca de 1.100 milhões de dólares.
Finalmente, na sexta-feira, o Departamento de Estado norte-americano anunciou a decisão de cortar todo o financiamento. O Governo de Trump tinha questionado o sistema de financiamento da agência da ONU, considerando que Washington assumia um “peso desproporcionado” e, por não ter visto mudanças “suficientes” no seu funcionamento, tomou a decisão de cancelar a sua ajuda.
A Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinianos tem um sólido recorde de fornecer educação de alta qualidade, saúde e outros serviços essenciais, muitas vezes em circunstâncias extremamente difíceis para os refugiados palestinianos, que estão em situação de grande necessidade”, lê-se no comunicado.
Guterres emitiu ainda um apelo aos outros países para que ajudem a preencher a brecha financeira existente, para que a agência possa continuar a fornecer a sua vital assistência, dando também “um sentimento de esperança a esta vulnerável população”. Por sua vez, a Liga Árabe pediu também à comunidade internacional para fazer frente à situação criada pelo Governo Trump fazendo doações adicionais ao organismo especializado das Nações Unidas.
Em declarações à imprensa na sede da organização pan-árabe, na capital egípcia, o conselheiro do secretário-geral da Liga Árabe para Assuntos Palestinianos, Said Abu Ali, defendeu que “os Estados Unidos não têm o direito de abolir a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinianos, que foi criada com base numa resolução da ONU que representa a posição e a vontade da comunidade internacional” em relação aos refugiados palestinianos.
UE critica “decisão lamentável” dos EUA de corte da ajuda aos refugiados palestinianos
Abu Ali sustentou igualmente que “o incumprimento pelo Departamento de Estado norte-americano dos seus compromissos internacionais não deverá afetar o compromisso internacional para com os refugiados palestinianos para alcançar a paz, a segurança e a estabilidade no Médio Oriente e no mundo”.
O secretário-geral, Ahmed Abulqueit, emitiu em seguida um comunicado expressando “preocupação e condenação” perante a medida de Washington e responsabilizando o Governo Trump pelas consequências de uma decisão que pode “causar grandes danos a cerca de cinco milhões de refugiados que dependem, para a sobrevivência diária, dos serviços oferecidos pela agência” e também aos países árabes que os albergam, “especialmente aqueles, como o Líbano e a Jordânia, que atualmente também hospedam um grande número de refugiados sírios”.
Também o Egito reagiu este sábado à decisão dos Estados Unidos, expressando “profunda preocupação” com a “situação humanitária dos refugiados palestinianos”. Em comunicado, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio, Ahmed Abu Zeid, frisou que a situação desses refugiados “é mais difícil de dia para dia”, com o aumento das dificuldades da agência da ONU para desempenhar o seu “importante papel” no que respeita a acudir “às questões vitais e necessárias dos refugiados”.