As chamas já tinham consumido uma parte considerável do palácio do Museu Nacional do Rio de Janeiro quando alguns dos funcionários do Museu chegaram ao local, depois de terem sido alertados pelas notícias na Internet. Emocionados, alguns arriscaram a própria vida para entrar no prédio, numa tentativa desesperada para salvar o que ainda pudesse ser salvo; outros, devastados com a dimensão da perda, limitaram-se a expressar o seu sentimento de perda.

“Eu estava em casa, recebi a notícia pela Internet. Vim para saber se poderia ajudar em alguma coisa. Conseguimos entrar e retirar pouca coisa. Logo depois, tivemos que sair. Acho que a perda é praticamente total. Ninguém pode dimensionar o que foi perdido”, afirmou à Globo Sérgio Azevedo, que trabalha no museu e foi o seu diretor até 2010.

Rui da Cruz Jr., funcionário do Museu, escreveu um depoimento emocionado:

Queimamos o quinto maior acervo do mundo.
Queimamos o fóssil de 12 mil anos de Luzia, descoberta que refez todas as pesquisas sobre ocupação das Américas.
Queimamos murais de Pompeia.
Queimamos o sarcófago de Sha Amum Em Su, um dos únicos no mundo que nunca foram abertos.
Queimamos o acervo de botânica Bertha Lutz.
Queimamos o maior dinossauro brasileiro já montado com peças quase todas originais.
Queimamos o Angaturama Limai, maior carnívoro brasileiro.
Queimamos alguns fósseis de plantas já extintas.
Queimamos o maior acervo de meteoritos da América Latina.
Queimamos o trono do rei Adandozan, do reino africano de Daomé, datado do século XVIII.
Queimamos o prédio onde foi assinada a independência do Brasil.
Queimamos duas bibliotecas.
Queimamos a carreira de 90 pesquisadores e outros técnicos.
O que arde no Museu é uma parte da história antropológica da humanidade. Da história científica da humanidade.
Se eles pudessem, nos queimavam junto com as paredes do museu, com o prédio em si, com as salas de onde D. Pedro II reinou, com os corredores por onde transitaram os feitores da primeira constituição da república, se eles pudessem, nos queimavam.
É imensurável o que perdemos.
Eu tô engolindo o choro.
“Todos que por aqui passem protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir o seu próprio futuro”.
Era isso que vinha escrito no chão, frente ao Museu Nacional”,

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A vice-diretora do Museu Nacional, Critiana Cerezo, também foi para o local mal ouviu as primeiras notícias da tragédia. Estava no chão, devastada, a ser confortada por colegas da sua equipa, quando desabafou: “Estou arrasada. É um trabalho de muitos anos. É triste ver tudo isto perder-se”.

De Luzia aos dinossauros, o que se perdeu no Museu do Rio?

Os danos são irreparáveis. Da coleção de múmias egípcias, ao fóssil de Luzia, a mais antiga habitante da América do Sul, ao fóssil do maior dinossauro montado no Brasil, “acabou tudo”, garante um dos poucos funcionários autorizados a acompanhar as equipas de bombeiros no rescaldo do incêndio, citado pela Folha de São Paulo.