Parecia um domingo normal, com as visitas a decorrerem até às 17 horas como previsto. O que não estava previsto era que um incêndio deflagrasse cerca de duas horas e meia depois e destruísse quase completamente 20 milhões de artigos de botânica, zoologia, paleontologia, geologia, antropologia e documentos históricos. Entretanto, a imprensa brasileira avançou que o Meteorito de Bengedó, o maior encontrado no Brasil, sobreviveu ao incêndio. E as imagens provam-no.

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O Museu Nacional do Rio de Janeiro, fundado por D. João VI, tinha completado 200 anos, a 6 de junho. Localizado na Quinta da Boa Vista — um nome que faz jus ao espaço envolvente —, era a mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina. Agora, o espólio está reduzido a cinzas e as paredes do edifício, que chegou a ser a moradia oficial da família imperial, em risco de derrocada.

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“Infelizmente ainda não conseguimos mensurar o dano total do acervo, mas precisamos mobilizar toda a sociedade para a recuperação e uma das mais importantes instituições científicas do mundo”, disse Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, em comunicado divulgado na página do Facebook da instituição.

Entre os artigos mais emblemáticos e importantes estava “Luzia”, com 11 mil anos, o mais antigo fóssil humanos das Américas  ou as preguiças gigantes, de há cerca de 8,6 mil anos, que enchiam os sonhos das crianças brasileiras.

Entretanto, e ao contrário do que tem sido noticiado, a imprensa brasileira avançou que o meteorito Bendegó, com 5.260 quilogramas — 95% dos quais de ferro —, o maior alguma vez encontrado no Brasil, foi encontrado intacto dentro do que restou do Museu Nacional. Está na entrada da instituição: “O meteorito não é um material combustível, ou seja, ele não reage ao oxigénio do ar e não responde ao processo de combustão. Ele já entra na atmosfera em fogo. Então, o que tinha para ser queimado nele, já foi”, explicou José Luiz Pedersoli Júnior, químico e especialista em gestão de risco e património cultural, Veja.

Na memória de muitas crianças e adultos ficará também o Dinoprata, o dinossauro Maxakalisaurus topai encontrado na cidade de Prata, Minas Gerais. Este dinossauro que viveu há cerca de 80 milhões de anos, media 13 metros e pesava nove toneladas. Foi o maior dinossauro de grande porte montado no Brasil. O Dinoprata esteve desmontado e enfiado numa caixa desde 2017 na sala fechada dos dinossauros, mas uma angariação de fundos pela internet permitiu que a sala voltasse a abrir. O Dinoprata voltou a reinar, mas por pouco tempo.

A coleção egípcia era outro dos grandes destaques do museu. Começou a ser adquirida pelo imperador D. Pedro I e contava agora com 700 itens — era a mais antiga das Américas e maior da América Latina. A imperatriz Teresa Cristina foi a grande impulsionadora da coleção de arte e artefatos greco-romanos. E nas coleções de Etnologia podiam ainda destacar-se os artigos referentes à cultura indígena, cultura afro-brasileira e culturas do Pacífico.

O interesse do reino e do império permitiu que o museu prosperasse e as coleções fossem sendo enriquecidas. Mas a falta de apoio do Governo e as sucessivas reduções de verba por parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que atualmente geria o museu, fizeram com que a instituição tivesse dificuldade em fazer até obras de manutenção ou até em pagar o salário a funcionários — em 2015 esteve 11 dias fechado por falta de pagamento a funcionários.

O Museu Nacional tinha conseguido recentemente um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social no valor de 21,7 milhões de reais (cerca de 4,6 milhões de euros), segundo comunicado da instituição. O dinheiro destinava-se à restauração e requalificação do museu e incluía ainda a instalação de novos equipamentos para a prevenção de incêndios. Uma ajuda que não chegou a tempo de evitar a tragédia.

A jornalista Mônica Sanches disse à TV Globo que durante as reportagens que tinha feito ao museu em maio, e antes disso, tinha reparado que as sancas estavam a cair, a fiação estava exposta. A deterioração do museu era clara, assim como a dificuldade em conseguir verba para as reparações necessárias.

Na Quinta da Boa Vista, onde estava instalado o museu, existe também um Jardim Zoológico que foi atingido pelos fumos do incêndio. Segundo a Globo, os animais estarão bem.

Na fotogaleria (no topo do artigo) pode conhecer o exterior do museu e parte do acervo perdido. Em baixo encontrará outras imagens do espólio, incluindo algumas da enorme coleção paleontológica detida pela instituição.

A coleção egípcia era uma das mais destacadas do museu e o sarcófago de Sha-Amun-en-su uma das atrações mais populares. Foi um presente que D. Pedro II recebeu, em 1876, na sua segunda visita ao Egito.

Além das múmias artificiais do Egito. O museu tinha também algumas múmias naturais, múmias que foram preservadas por processos naturais ainda que tenham resultado de um ritual fúnebre. Um dos exemplos é a múmia de atacamenha (em baixo). Outro exemplo é a múmia Aymara colocada em posição fetal dentro de uma cesta, tal como o povo Aymara dormia. Este povo vivia junto ao lago Titicaca, entre o Perú e a Bolívia.