O embaixador do Vaticano que acusou o papa de reabilitar um ex-cardeal norte-americano defendeu esta sexta-feira que o “flagelo da homossexualidade” no sacerdócio é responsável pelos abusos sexuais na Igreja Católica e que o Vaticano é hipócrita ao recusar admiti-lo.
O arcebispo Carlo Maria Viganò acrescentou esta sexta-feira, numa carta, um terceiro capítulo à guerra de palavras sobre o encobrimento do ex-cardeal Theodore McCarrick, em resposta a um cardeal do Vaticano que o repreendeu e acusou de montar um “blasfemo” plano de assassínio político do papa Francisco com as suas acusações.
Viganò acusou Francisco de ter reabilitado McCarrick, de 88 anos, retirando-lhe as restrições impostas durante o papado de Bento XVI devido a acusações de que pressionava seminaristas a terem relações sexuais com ele, e instou-o a resignar devido ao escândalo McCarrick, que desencadeou uma crise de confiança na hierarquia nos Estados Unidos e no Vaticano.
O papa Francisco reagiu às denúncias sobre McCarrick retirando-lhe o título de cardeal, após acusações de que tinha molestado um menor, e ordenando uma investigação do Vaticano aos seus arquivos para determinar como McCarrick subiu na hierarquia apesar de indicações de que também tinha molestado adultos.
Guerra de poder no Vaticano. Acusações credíveis contra o Papa ou “manobra política”?
Antecipando o resultado, o cardeal Marck Ouellet, que dirige o gabinete dos bispos do Vaticano, escreveu uma carta, a 04 de outubro, dizendo que tinha passado em revista os arquivos e não tinha encontrado prova de quaisquer sanções canónicas formais assinadas por qualquer papa.
Na sua nova missiva, o arcebispo Viganò observou que Ouellet na prática confirmou a base das suas acusações: que McCarrick foi colocado sob alguma forma de restrição – não necessariamente sanções formais – por causa de alegados abusos sexuais.
Refutando a afirmação de Ouellet de que o Vaticano apenas ouvira rumores sobre McCarrick, Viganò listou todas as cartas que chegaram ao Vaticano a partir de 2000, quando um padre de um seminário de Nova Jérsia pela primeira vez escreveu sobre as suas preocupações com seminaristas convidados por McCarrick para a sua casa da praia e para a sua cama.
Viganò declarou-se chocado por Ouellet ter omitido, na sua carta, qualquer referência às vítimas de McCarrick ou àquilo a que chamou “a principal causa de tantos abusos sexuais: a homossexualidade”.
“É hipocrisia recusar admitir que este flagelo se deve a uma grave crise na vida espiritual do clero e não tomar medidas para resolvê-lo”, escreveu.
Embora o escândalo McCarrick tenha exposto como seminaristas podem ser vulneráveis a abusos sexuais dos seus superiores hierárquicos homossexuais, os estudos têm mostrado que os homossexuais, em geral, não têm maior probabilidade de perpetrar crimes sexuais do que os heterossexuais.
O arcebispo Viganò, que foi embaixador do Vaticano nos Estados Unidos entre 2011 e 2016, aliou-se aos bispos norte-americanos defensores da cultura conservadora, particularmente dando voz à oposição da Igreja Católica ao casamento homossexual.
A mais recente carta de Carlo Maria Viganò foi publicada no blogue de Marco Tosatti, o jornalista conservador italiano que ajudou o arcebispo a escrever e editar a sua acusação original de 11 páginas, e depois fez com que fosse publicada na imprensa de direita a 26 de agosto.