Dizem os dizeres populares que não há duas sem três. Paulo Rangel é vice-presidente do Partido Popular Europeu e uma das figuras mais consensuais para ser candidato pela terceira vez consecutiva como cabeça de lista do PSD às Europeias –quer na ala passista, quer junto dos barões ferreiristas/rioistas — mas continua uma espécie de monge de Bruxelas sobre as Europeias. Após insistência do Observador — durante o Congresso do Partido Popular Europeu, que decorre em Helsínquia — respondeu três vezes sobre a escolha do PSD para as Europeias: “Não falo. Não falo. Não falo”. E completou: “Fiz um voto de silêncio sobre o processo eleitoral das Europeias. Não digo que sim, nem que não, nem mais ou menos, nem se estou ou se deixo de estar“. Vai mais uma insistência: exclui-se da candidatura? “Nem excluo, nem me incluo“.

Nada abala o voto do eurodeputado, mesmo que a pergunta seja feita de outras formas e feitios. Ainda assim é nas entrelinhas que dá para ler a opinião de Rangel sobre o assunto nas respostas que vai dando. “Aguardo que o partido faça a sua reflexão, tenho a certeza de que o partido não deixará de falar com os deputados europeus sobre essa matéria no momento oportuno”, disse o eurodeputado e chefe da delegação do PSD em Bruxelas ao Observador.

Nas fintas de Rangel, também há alinhamentos com o líder: “O presidente do partido já indicou que o momento oportuno seria um bocadinho mais tarde do que aquilo que a imprensa gostaria. Aguardo que ele defina essa oportunidade”. Sobre se está disponível a ajudar o partido nas Europeias, Rangel é claro: “Sempre estive disponível para ajudar o partido, portanto, não é agora que não vou estar.” O que não significa que seja como cabeça de lista, mas também não significa o contrário.

“Confio no PSD em geral e confio no doutor Rui Rio”, diz Rangel sobre a escolha que será feita para cabeça de lista. Sobre o eventual sucesso do partido nestas eleições, Rangel também é claro, mas deixa margem a mais leitura nas entrelinhas: “O PSD tem condições para ganhar as eleições. Será um combate difícil, mas fazendo as escolhas certas e a campanha adequada, o PSD está em condições de ganhar as eleições. O PSD nunca vai a eleições para perder. E não vai a essas para perder. Seja quem for o candidato”. O eurodeputado avisa ainda que se o PSD “ganhar será uma boa rampa de lançamento para as legislativas.”

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Rangel falava com o Observador acerca do Congresso do PPE, que decorre desde quarta e termina esta quinta-feira em Helsínquia. O vice-presidente do PPE diz que este não é “um congresso difícil” e “o único” acontecimento que poderia de “alguma maneira fazer algum ruído é a intervenção de Orbán, que é uma coisa que, no seio do PPE, é bastante divisiva“.Isto porque, embora “todos tenham uma atitude crítica, uns entendem que deve haver diálogo, outros entendem que o PPE já devia ter tido uma posição mais dura.”

Para o eurodeputado do PSD, o que faz o momento difícil não é o congresso, mas as escolhas que se avizinham, pois considera que as “eleições para os partidos pró-europeus, como é o caso do PPE, como será o caso dos liberais, dos socialistas, são eleições muito desafiantes”. Paulo Rangel destaca que existe, no mínimo, “uma nuvem de incerteza muito grande sobre qual é o resultado que vão ter as forças populistas e em particular as mais eurocéticas, qual é o peso que vão ter no futuro parlamento, e qual é o grau de fragmentação que vai haver no Parlamento  isso, realmente, é uma coisa que preocupa.”

“Timmermans é o testa de ferro de Dijsselbloem”

Paulo Rangel elogia o processo do PPE de escolha do candidato, entre Manfred Weber e Alexander Stubb, e ataca os socialistas europeus por terem um candidato único no processo de Sptizenkandidat (escolha do candidato a presidente da Comissão Europeia). Para o eurodeputado do PSD, “o PPE é o único partido europeu que está a fazer um processo transparente de escolha dos candidatos”, isto porque “o PS já foi outra vez para o critério eurocrático da escolha unânime feita pelos líderes, já só tem um que é o Timmermans, como aconteceu com Schulz”. E acrescenta: “Não funciona a democracia europeia nos outros partidos”.

Sobre os candidatos, Rangel tem uma posição similar à de Rio. O chefe da delegação do PSD em Bruxelas explica que “o PSD fez uma opção por Manfred Weber, essencialmente muito orientada não apenas para a sua expressão europeia, mas para a sua capacidade de, se quiser, construir pontes”. Apesar disso, Rangel destaca que “se Stubb ganhar as eleições, o que é improvável, mas não  impossível, teríamos também um muito bom candidato“.

Há cinco anos, contra Jean-Claude Juncker, Michel Barnier, atual negociador da UE no Brexit, teve cerca de 40% dos votos. Agora, Rangel acha difícil que Stubb atinja esses valores, mesmo com o “free vote“. Ainda assim, acha que Stubb ganhou “estatuto europeu”: “Era uma personalidade discreta na Europa, mas tem sido uma campanha muito bem sucedida e eu acho que ele se tornou uma personalidade europeia. Ele será, em todo o caso, uma personalidade incontornável para o futuro”.

Para Rangel, Stubb “ganha créditos para estar na Comissão, para exercer alguma função, como, por exemplo, exerce Barnier agora com o Brexit. Pode vir a ser presidente do Parlamento Europeu, do PPE, sem dúvida que ganhou um estatuto na Europa que antes não tinha”.

Sobre o facto de os socialistas escolherem Frans Timmermans, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, para candidato à Comissão Europeia, Rangel é muito crítico. Desde logo, quando Timmermans disse que o Governo de Costa é um exemplo a seguir, Rangel comentou que isso só pode significar que “conhece mal o exemplo português”.

Rangel lembra que “Timmermans é o homem, é o testa de ferro, de Djesselbloem. Os socialistas portugueses com um candidato como Timmermans vão ter muito que explicar”. E acrescentou:”O Partido Socialista Holandês é dos partidos que mais mal fez a Portugal e nós que estávamos responsáveis pelo Governo da troika sabemos bem o que eles nos fizeram. Era bom que o senhor Timmermans se lembrasse quais eram as suas posições quando era ministro dos Negócios Estrangeiros na Holanda e quais eram as posições de Djesselbloem quando Portugal estava a sofrer. Isso é que era importante lembrar. Timmermans pode vir agora branquear história, mas não vai conseguir.”

O jornalista do Observador viajou a Helsínquia a convite do Partido Popular Europeu.