Plásticos oriundos de pelo menos 25 países invadiram a ilha cabo-verdiana de Santa Luzia, a única desabitada e reserva natural do país, alertam associações ambientalistas, considerando que o lixo ameaça várias espécies na ilha. O alerta foi lançado na página do Facebook da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), após duas visitas à ilha no âmbito do projeto “Desertas — gestão sustentável da reserva marinha de Santa Luzia”.

A organização ambientalista indicou que a primeira visita à ilha de Santa Luzia aconteceu em junho, no âmbito do projeto, que é coordenado também pela Associação ambientalista cabo-verdiana Biosfera I e pela Direção Nacional do Ambiente (DNA) de Cabo Verde, e que organizaram uma campanha de limpeza na praia.

A SPEA divulgou na mesma publicação que os investigadores voltaram à ilha quase seis meses depois e ficaram “chocados” com a quantidade de plástico que se tinha acumulado nesse período. Segundo a sociedade ambientalista portuguesa, a ilha poderia ser um paraíso, mas os plásticos trazidos pelas correntes estão a transformá-la num pesadelo e numa lixeira.

“Decidimos andar uma hora pela praia e tentar encontrar plásticos com rótulos para saber de onde vinha todo aquele lixo. Para nossa surpresa, já havia plásticos provenientes de pelo menos 25 países diferentes“, informou a SPEA, numa publicação acompanhada de fotos dos rótulos dos respetivos países.

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Nas fotos, há rótulos de Portugal, Colômbia, Filipinas, Uruguai, Gana, Tailândia, Reino Unido, Malásia, Uzbequistão, Estados Unidos, Japão, Grécia, Marrocos, Malásia, França ou África do Sul. A mesma organização portuguesa indicou que a praia de Santa Luzia é uma das mais importantes para a reprodução da tartaruga-cabeçuda (caretta caretta), em que Cabo Verde tem a terceira maior do mundo, e que no ano passado fez mais de cinco mil ninhos na ilha.

Durante o nosso passeio, encontrámos os cadáveres ressequidos de duas crias de tartaruga-cabeçuda que não puderam chegar ao mar porque o caminho estava atulhado de plásticos. Morreram de fome, sede e calor dentro de um garrafão de plástico onde ficaram presas logo depois de nascer. Estes sacos, redes, cordas, garrafas, garrafões são uma armadilha mortal para os animais selvagens”, alertou a sociedade portuguesa.

Por isso, apelou: “Não chega limpar as praias, é preciso impedir que os plásticos vão ter ao mar. Vamos virar esta maré“. A publicação é acompanhada ainda por um link de uma petição online, lançada pela BirdLife Europe and Central Asia, para pressionar a União Europeia a investir na conservação dos oceanos. A petição já tem mais de 19 mil assinaturas e o objetivo é chegar às 25 mil.

O plástico e microplástico causa danos ambientais e de saúde pública e, segundo as Nações Unidas, até 2050 haverá mais plástico no mar do que peixes.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Biosfera I, Tommy Melo, lamentou o cenário encontrado em Santa Luzia e adiantou que a organização que dirige tem realizado campanhas de limpezas todos os anos, mas infelizmente o mar volta a trazer mais lixo à ilha. “É por isso que temos que fazer a campanha todos os anos, por causa das tartarugas, para diminuir a mortalidade, e proteger outras espécies”, salientou o biólogo.

Santa Luzia, do grupo de Barlavento e situada entre São Vicente e São Nicolau, é a única ilha desabitada de Cabo Verde, classificada como reserva natural e utilizada para investigação científica, visitas de estudo, pesca e turismo ambiental.

A página sobre as áreas protegidas de Cabo Verde, do Ministério do Ambiente, escreve que a ilha e os ilhéus adjacentes (Branco e Raso) “apresentam um ecossistema singular, com biodiversidade endémica e presença de espécies emblemáticas a nível mundial que necessitam de instrumentos de proteção”.