A administração de Donald Trump está a equacionar emitir uma ordem executiva, aplicável a partir de 2019, para impedir a compra de equipamento das marcas chinesas de telecomunicações Huawei e ZTE por parte de empresas do país. A informação é dada pela agência Reuters, que cita “três fontes conhecedoras do assunto”. A ordem, que pode ser emitida já em janeiro, seria justificada com os riscos que as empresas chinesas podem colocar à segurança nacional do país, já que a administração de Donald Trump acredita que as duas empresas trabalham para o governo chinês e que o equipamento que vendem será uma ferramenta para espiar os EUA.

A ordem executiva está a ser equacionada “há mais de oito meses”. Poderá ser emitida já a partir de janeiro e implicaria decretar “estado de emergência nacional”. O texto da ordem executiva, ainda em construção, não deverá nunca explicitar o nome das duas empresas de telecomunicações chinesas que motivem a opção de bloqueio, mas poderá invocar o diploma Emergency Economy Powers Act para ordenar ao Departamento de Comércio norte-americano que trave a compra de equipamento destas duas empresas, referiram “fontes da indústria das telecomunicações e da administração Trump” à Reuters.

A lei em que a ordem se apoiaria dá ao presidente dos Estados Unidos da América poderes para regular o comércio caso exista uma emergência nacional que coloque em causa a segurança do país.

A agência de notícias tentou falar com representantes da Huawei e da ZTE, que recusaram comentar a possibilidade. As duas empresas têm vindo a negar que utilizem os aparelhos de telecomunicações que vendem fora da China para fins políticos ou de espionagem cibernética. Porém, a ligação do fundador da Huawei ao regime e exército chinês (serviu as forças armadas do país, nos anos 1980, antes de fundar a tecnológica) há muito motivam dúvidas sobre os propósitos da empresa, tendo várias notícias da imprensa mundial alimentado receios nos últimos anos sobre a utilização de equipamentos de telecomunicação chineses.

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Os receios já foram alimentados e assumidos no passado por outros países como a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia, por jornais como o francês Le Monde e a agências de notícias Reuters, pela empresa alemã de cibersegurança G Data e por pessoas como o senador norte-americano Mark Warner e o atual diretor do FBI Cristopher A. Wray.

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A emissão da ordem executiva atenuaria ainda mais a implantação das empresas chinesas de telecomunicações no mercado norte-americano, que tem aliás vindo a diminuir nos últimos anos. As empresas têm, ainda assim, uma forte ligação a operadores de redes de telecomunicações em zonas rurais.

O bloqueio surgiria num momento nevrálgico, já que os operadores de telecomunicações sem fios norte-americanos estão neste momento à procura de parceiros para desenvolver e implementar a próxima geração de redes sem fios 5G, refere a Reuters.

Em agosto, foi aprovada uma lei de Defesa que proibia o governo norte-americano de usar equipamentos da Huawei e ZTE. A Huawei, que atualmente é a segunda maior fabricante de telemóveis do mundo, ia começar a vende dispositivos através de operadoras telefónicas nos EUA no início de 2018. Contudo, a poucas semanas de começar a ter equipamentos à venda através da A&T, uma das maiores operadoras norte-americanas, o acordo cessou, impossibilitando a Huawei de entrar no mercado americano. No país, mais de 90% das vendas de smartphones é feito através de operadoras.

A filha do fundador da diretora financeira da chinesa, Meng Wanzhou, foi detida no Canadá a pedido dos EUA no início de dezembro. A executiva é acusada de ter violado as sanções económicas que os EUA aplicaram ao Irão há várias décadas, através de uma empresa fantoche no país. Atualmente, está em prisão preventiva em Vancouver. O incidente relançou o debate da confiança dos países ocidentais na empresa chinesa para a construção de infraestruturas críticas de comunicação.

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A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Hua Chunying não quis comentar diretamente a notícia, mas deixou algumas críticas mais ou menos veladas à possibilidade: “É melhor deixar os factos falarem por si quando se trata de problemas de segurança. Alguns países têm, sem qualquer prova e fazendo uso da segurança nacional, assumiu tacticamente crimes para politizar e até obstruir e restringir atividades normais de permutas tecnológicas. Isto na realidade trata-se sem sombra de dúvidas de alguém desligar-se em vez de estar aberto ao progresso e à justiça”.