Meng Wanzhou, a diretora financeira da chinesa Huawei que foi detida no Canadá a pedido dos EUA, saiu da prisão esta terça-feira após pagar uma fiança de 10 milhões de dólares canadianos, o equivalente a cerca de a 6,6 milhões. O presidente dos EUA, Donald Trump, admite “intervir” no caso se isso for algo que seja “bom para o país”, ou seja, que facilite a obtenção de um acordo comercial com a China.

A filha do fundador da Huawei, acusada de ter violado as sanções económicas que os EUA aplicaram ao Irão há várias décadas, ofereceu-se para usar uma pulseira eletrónica e pagar, do seu próprio bolso, a uma empresa de segurança privada — composta por ex-polícias e ex-militares — que garantam que ela não sai da sua casa em Vancouver (a executiva tem duas casas na cidade canadiana) sem ordem.

O juiz mostrou-se pouco disponível para aceitar a proposta, por recear que Meng Wanzhou fugisse sem deixar rasto. Mas acabou por mudar de ideias e aceitou a proposta de saída da prisão, provocando uma onda de aplausos numa sala de audiências em tribunal que estava repleta de apoiantes da mulher de 46 anos. Terá sido crucial que quatro amigos de Meng Wanzhou tenham penhorado as próprias casas sob a garantia de que a executiva não iria escapar da cidade à qual tem ligações pessoais há mais de 15 anos.

Além disso, Meng Wanzhou e o marido aceitaram fazer um depósito em dinheiro de 7,5 milhões de dólares, quase cinco milhões de euros, para cumprir outra das 16 condições impostas pelo juiz para libertar a executiva, sob fiança. Outras das medidas de segurança passaram por fazer com que Meng Wanzhou abdicasse dos seus passaportes e, por outro lado, que aceitasse nunca sair de casa durante a noite, exceto por razões de saúde (a executiva sofre de hipertensão grave e chegou a ser hospitalizada por essa razão, depois de ter sido detida).

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Depois da detenção provisória, nos termos do acordo de extradição entre os EUA e o Canadá, o Departamento de Justiça dos EUA tem 60 dias para submeter às autoridades canadianas o pedido formal de extradição, acompanhado pelos documentos oficiais que justificam o pedido. Depois desse prazo, as autoridades canadianas têm 30 dias para apreciar o pedido e a documentação, antes de um juiz tomar uma decisão final — ou seja, o processo de extradição deverá demorar vários meses.

Mas Donald Trump, o presidente dos EUA, mostrou abertura para intervir neste processo se isso puder ser usado como moeda de troca na obtenção de um acordo comercial com a China. Em declarações à Reuters, que estão a ser criticadas por misturarem abertamente a política com a justiça, Trump disse que “qualquer coisa que seja boa para este país, eu faria”.

“Se eu pensar que é algo positivo para o que poderá ser o maior acordo comercial de sempre — algo que é muito importante — e para a segurança nacional, então certamente eu poderei intervir se considerasse necessário”, comentou Trump, reforçando as críticas que estão a ser difundidas nos meios de comunicação social chineses de que a detenção de Meng Wanzhou tem motivações políticas.

Quem já poderá estar a ser “chamuscado” por esta controvérsia é o Canadá, o país onde a executiva foi detida, já que foi detido na China um antigo diplomata canadiano, num caso que ainda não tem uma ligação confirmada com a detenção de Meng Wanzhou.