Há um novo capítulo na longa guerra interna do Podemos entre o seu líder, Pablo Iglesias, e o seu ex-porta-voz, Iñigo Errejón — e a novidade agora é que, pela primeira vez, os dois vão fazer campanha por forças políticas distintas.

O Podemos acordou para uma nova crise esta quinta-feira depois de Iñigo Errejón, co-fundador do partido e líder da sua fação menos radical, ter anunciado que vai entrar nas listas do Más Madrid para as eleições regionais da Comunidade de Madrid, agendadas para 26 de maio deste ano. “Apanharam-nos de surpresa”, disseram fontes do Podemos ao El País. “Não sabíamos de nada.”

A cabeça de lista do Más Madrid será Manuela Carmena, que em 2015 já tinha sido eleita nas listas do Ahora Madrid — aglomerado político que juntava várias forças de esquerda, incluindo o Podemos. Porém, em novembro, Manuela Carmena anunciou que não ia contar com a participação do Podemos para a sua lista de recandidatura.

A crise gerada esta quinta-feira ganhou dimensões tais que Pablo Iglesias interrompeu a sua licença de paternidade — o líder do Podemos foi pai de gémeos com Irene Montero, deputada daquele partido — para anunciar que o partido vai na mesma apresentar uma candidatura autónoma àquelas eleições. Ou seja, vai concorrer contra Iñigo Errejón.

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“Desejo sorte ao Iñigo na construção do seu novo partido com Manuela, mas o Podemos já tem o seu roteiro, definido pelos militantes e decidido nas nossas assembleias cidadãs”, disse Pablo Iglesias numa gravação de áudio partilhada nas redes sociais. “Na Comunidade de Madrid e nos restantes municípios do nosso país, o Podemos vai ganhar, construindo [uma candidatura] com a Esquerda Unida e com o resto dos aliados Unidos Podemos e as candidaturas municipais de unidade.”

O líder do Podemos deixou ainda vários apontamentos de tom mais pessoal. “Nunca imaginei que ia ter de interromper por algumas horas a minha licença de paternidade por uma razão tão triste”, começou por dizer. “Esta manhã, Iñigo Errejón ligou-me para me informar que vai começar um novo projeto político pessoal ao lado de Manuela Carmena, com uma nova marca eleitoral. Poucos minutos depois da chamada, a carta de Manuela e de Iñigo estava em todos os meios de comunicação e nas redes sociais.”

Pablo Iglesias afirmou ainda que ficou “tocado e triste” por esta “manobra” de Iñigo Errejón e disse que os militantes do Podemos “merecem mais respeito”.

Em 2017, Iñigo Errejón e Pablo Iglesias já tinham protagonizado aquela que foi a maior crise interna do Podemos, em vésperas do seu segundo congresso. O ex-porta-voz procurou, à altura, tirar Pablo Iglesias e os seus apoiantes da liderança do partido — algo que acabou por não conseguir, após uma votação esmagadoramente favorável a Pablo Iglesias junto dos militantes. Recorde os dias que antecederam esses congresso neste especial do Observador:

Podemos. O “assalto aos céus” que se despenhou na lama