A defensora dos direitos humanos da Guiné-Bissau Fatumata Djau Baldé apelou esta sexta-feira, em Luanda, à “solidariedade” entre países no combate à mutilação genital feminina, que classificou como uma prática “nefasta e desumana” que transcende fronteiras.

Falando esta sexta-feira, durante uma palestra sobre “Mutilação Genital Feminina e outras Práticas Nefastas e os Desafios para o Empoderamento da Mulher”, promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a ativista afirmou que aquela prática “viola grandemente dos direitos fundamentais das mulheres”.

Sobretudo, os direitos a saúde sexual e reprodutiva. Ela [a prática] deve ser encarada por todos nós, porque os direitos humanos ultrapassam fronteiras, independentemente de sermos países onde a prática existe ou não. Todos nós, enquanto seres humanos, temos obrigação de lutar contra esse mal”, disse

A também presidente do Comité Nacional para o Abandono de Práticas Tradicionais Nefastas à Saúde da Mulher e Criança da Guiné-Bissau, que partilhou no encontro a experiência da África ocidental, nesse domínio, referiu que a solidariedade entre os países “é indispensável”. “Por isso há toda uma necessidade de os países se unirem em prol desse combate, por ser uma prática que transcende fronteiras”, adiantou.

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Na cerimónia que teve lugar na sede do Instituto Nacional da Criança (INAC) de Angola, Luanda, Fatumata, que recordou ter sido submetida à mutilação dos seus órgãos genitais na infância, referiu que a prática no seu país “ainda é preocupante”.

Uma lei que criminaliza essa prática na Guiné-Bissau foi entretanto aprovada em 2011. Segundo Fatumata Djau Baldé, que foi também ministra do Turismo, Solidariedade Social e Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, apesar de ainda se registarem alguns atos clandestinos, o país registou melhoria significativa entre 2010 e 2014.

“Imagina que, em 2010, havia 32% de crianças submetidas à mutilação genital feminina dos 0 aos 14 anos, já em 2014, essa prevalência baixou para 30%. E ainda em 2010, 36% das mulheres queriam continuar com a prática e em 2014 somente 13% das mulheres”, explicou.

De acordo com a ativista, decorre na Guiné-Bissau um inquérito para se aferir as atuais estratégias em matéria da mutilação genital feminina, acreditando que para 2018 a taxa de mulheres que queiram continuar com a prática atinja os 10%. “Daí que significa um grande trabalho de mudança de mentalidade e a consciencialização sobre as consequências nefastas dessa prática”, sublinhou.

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