O Presidente da República surgiu num tom irritado perante as câmaras para justificar o facto de ter posado ao lado da família que confrontou a PSP, inclusive o suspeito de atirar pedras às autoridades no Bairro da Jamaica, no Seixal. Marcelo Rebelo de Sousa — que na segunda-feira fez uma visita surpresa ao bairro — lembrou que é “o Presidente de todos os portugueses” e que por isso só tem uma forma de estar: “Quando ando pela rua e contacto com os portugueses não peço o cadastro criminal, nem o cadastro fiscal, nem o cadastro moral para falar ou tirar selfies.” Sobre as críticas do sindicato da PSP, Marcelo deixou mesmo um ralhete aos representantes dos polícias, dizendo que “só se diminuem” ao colocarem-se no “mesmo plano de comunidades sobre as quais têm de exercer autoridade”.

As selfies de Marcelo na “visita-relâmpago” ao bairro da Jamaica

Marcelo começou por lembrar que, na sua leitura, o que se passou no Bairro da Jamaica, no Seixal, “não foi uma guerra de um bairro negro contra uma polícia branca ou uma polícia branca contra um bairro negro”. O Presidente diz que os portugueses não compreenderiam seria um “comportamento que crie um empolamento artificial da sociedade portuguesa, de um conflito de raças, que seria uma porta aberta à xenofobia e ao radicalismo que deu o resultado que deu noutros países”.

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O Presidente da República deixou mesmo um ralhete ao sindicato da polícia, que se queixou de Marcelo ter visitado o bairro e não ter recebido os representantes das forças de segurança: “Não percebo como se podem colocar no mesmo plano. Não compreendo francamente como se pode equiparar comunidades e forças de segurança. São coisas diferentes. São as forças que exercem a sua autoridade relativamente a todas as comunidades do espaço nacional urbano ou não urbano. Estar a querer equiparar essas realidades é diminuir o papel das forças de segurança“.

Para Marcelo, que continuou num registo mais duro que o habitual, “não perceber isto é não perceber qual é o papel das forças de segurança que estão num plano diferente à sociedade relativamente à qual exercem esta matéria”. E mais uma crítica aos que o criticaram: “Estar a alimentar a polémica sobre esta matéria é direta ou indiretamente, como se assistiu nos últimos tempos, contribuir para um clima que, infelizmente, assistimos nos últimos dias dos bons contra os maus, os brancos contra os negros, negros contra os brancos, uns contra os outros”.

Visita ao bairro da Jamaica. Líder de sindicato da PSP acusa Marcelo de “desprezar” a polícia

O Presidente da República lembrou que já tinha prometido há duas semanas que ia fazer a visita que fez de surpresa ao Bairro da Jamaica. Marcelo Rebelo de Sousa diz que pôde “verificar as condições sociais e o projeto de realojamento” e que aproveito para manter contactos “quer com africanos quer com ciganos. Tive contactos com todos. Sem exceção.” Marcelo diz, portanto, ter perfeita consciência do que “lá foi fazer, o que está ali em causa e os riscos de olhar para aquela realidade de uma forma que não é correta.”

Sobre se não devia ter aguardado que saísse a investigação do Ministério Público para visitar o bairro, Marcelo diz que sempre separou os factos em investigação da realidade daquela comunidade. E avisou: “Não se pode generalizar, que é o que muita gente começou a fazer na sociedade portuguesa. Não se pode confundir pontos de investigação com uma comunidade portuguesa integrada e com forças de segurança que servem o Estado de direto democrático.”