Uma jovem de 19 anos que fugiu do Reino Unido para ir para a Síria alistar-se no Estado Islâmico pede que a deixem voltar para casa depois de ter tido um filho. Shamima Begum, que fugiu da escola com duas amigas em 2015 para rumarem à Síria, já tinha dado uma entrevista ao The Times, na semana passada, na fase final da gravidez, a pedir que a deixassem “regressar a casa”.

De acordo com o advogado da jovem, Tasnime Akunjee, citado pelo Guardian, Shamima teve o filho no passado sábado num campo de refugiados, e tanto a mãe com o filho estavam bem de saúde. Em declarações à Sky News, registadas em vídeo, a jovem diz que não sabia no que se estava a meter quando saiu de casa.

“Sinto que as pessoas possam ter simpatia por mim, por tudo aquilo por que passei. Eu não tinha noção de onde me estava a meter quando saí”, disse, pedindo depois que, “pela saúde do filho”, a “deixassem voltar para casa”. “Não posso viver neste campo de refugiados para sempre. Isso não é possível”, acrescentou.

De acordo com o advogado da família, o nascimento do filho pode fazer aumentar a pressão sobre o governo britânico para acolher a jovem de volta. “Agora estamos a lidar com um bebé inocente, que gostaríamos que pudesse sair do campo de refugiados e voltar ao Reino Unido”, disse.

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“Fui atraída pelos vídeos” e “não me arrependo de ter vindo”

Questionada sobre o facto de ser potencialmente perigosa, Shamima Begum garantiu que nunca fez “nada”, nem sequer “propaganda” desde que chegou à Síria, limitando-se ao papel de “dona de casa”. “Ninguém tem provas de que eu tenha feito alguma coisa perigosa. Desde que vim para a Síria fui apenas uma dona de casa, nos últimos quatro anos fiquei em casa a cuidar do meu marido e dos filhos. Nunca fiz nada. Nunca fiz propaganda, nunca encorajei ninguém a vir para a Síria”, disse.

Shamima casou-se com Yago Riedijk, um alemão de 27 anos convertido ao Estado Islâmico, apenas dez dias depois de ter chegado à cidade síria de Raqqa, em 2015. O casal teve dois filhos — ambos morreram. Esse foi o argumento usado pela jovem ao Times quando apelou pela primeira vez a que a ajudassem a regressar: a proteção do filho. Questionada, contudo, sobre se tinha sido um erro ir para a Síria, a jovem não mostrou arrependimento. “Num sentido, sim, mas não me arrependo de ter vindo porque mudou-me como pessoa. Fez-me mais forte. E casei com o meu marido, que não teria encontrado se tivesse ficado no Reino Unido”, disse este domingo à Sky News.

“Tive os meus filhos, fui feliz aqui. Acontece que se tornou tudo mais difícil e eu não pude aguentar mais”, acrescentou.

Na primeira entrevista que deu ao The Times, publicada na semana passada, a 13 de fevereiro, Shamima dizia ainda que estava a par do modus operandi do Estado Islâmico, nomeadamente das decapitações, e que estava “ok com isso” quando decidiu ir para lá. “Vi todos os vídeos na internet e de alguma maneira fui atraída por eles, tal como eles atraem muitas outras pessoas”, disse, antes de sublinhar que nos quatro anos que serviu o Estado Islâmico foi apenas “uma dona de casa”.

De acordo com o The Guardian, a família da jovem já pediu ao governo britânico que intercedesse a favor do regresso, mas o ministro da Administração Interna, Sajid Javid, não tem dúvidas de que vai fazer tudo para bloquear o regresso. “A minha posição é clara: não vou hesitar em bloquear o regresso de alguém que apoiou uma organização terrorista”, disse, sublinhando que, caso a jovem volte ao país, deverá ser “questionada, investigada e provavelmente acusada”.

Shamima Begum, Kadiza Sultana e Amira Abase, alunas da escola Bethnal Green, com idades entre os 15 e os 16 anos, fugiram em fevereiro de 2015 para Istambul, de onde depois seguiram para a Síria. Na entrevista ao The Times, Shamima confirmou que a amiga Kadiza Sultana acabou por morrer em maio de 2016, com 17 anos, vítima de um ataque aéreo. As restantes terão ficado em Baghuz, última cidade controlada pelo Estado Islâmico, de onde Shamima saiu em junho.