“Não tenho certeza se haverá maioria no Parlamento para sustentar um segundo referendo, mas é uma proposta perfeitamente coerente.” As declarações são de Philip Hammond, ministro do governo de May, e o primeiro a assumir de forma clara que um segundo referendo sobre o Brexit é uma opção. O secretário do Tesouro — que transitou do governo de David Cameron para o de Theresa May e é membro do parlamento desde os anos 1990 — lembra que há muitas pessoas que se opõem fortemente a esta ideia, mas diz, citado pela CNN, que “é uma proposta coerente e que merece ser considerada juntamente com todas as outras propostas”.
À medida que a especulação cresce sobre um possível afastamento de May, embora os seus dois potenciais sucessores tenham afastado essa hipótese, e depois de no sábado milhares de pessoas terem saído à rua para pedir um segundo referendo, Philip Hammond distancia-se, com estas palavras, da posição da primeira-ministra britânica que se recusa a ponderar a hipótese de voltar a ouvir a opinião dos eleitores sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.
Em contrapartida, Michael Gove e David Lidington, os dois membros do governo apontados como possíveis sucessores da primeira-ministra, garantem que não está na altura de substituir May.
O secretário do Tesouro, segundo a CNN, confirmou que o Parlamento irá votar uma série de alternativas ao Brexit esta semana, assumindo que é pouco provável que May consiga fazer passar o seu acordo de saída, chumbado por duas vezes com margens consideráveis. Uma reunião de May com defensores do Brexit este domingo à noite terá terminado sem o apoio suficiente para fazer passar o acordo no Parlamento.
É já esta segunda-feira que o parlamento britânico volta a debater o Brexit, podendo vir a forçar a discussão de alternativas ao acordo de May. A emenda subscrita pelos conservadores Oliver Letwin e Dominic Grieve e pelo trabalhista Hilary Benn pretende retirar ao governo a precedência no estabelecimento da agenda de trabalhos na Câmara dos Comuns, “dada a necessidade de a Câmara debater e votar caminhos alternativos”.
Caberia assim aos deputados apresentarem uma série de propostas, as quais serão debatidas e votadas consecutivamente para saber se existe alguma que reúna o apoio de uma maioria de deputados.
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Golpe em curso? Potenciais sucessores dizem que não
No passado domingo, o Sunday Times falava num “golpe no conselho de ministros para derrubar Theresa May” e substitui-la por um primeiro-ministro interino. O jornal britânico escrevia que May está “à mercê” de um golpe, com vários ministros a fazerem pressão para que abandone o cargo, já que é vista como uma figura “tóxica” e que terá de ser substituída.
A questão é saber por quem: uma hipótese é o adjunto de May, David Lidington, mas esse nome não convence os ministros mais empenhados em sair da União Europeia, que preferem o nome do secretário do Ambiente, Michael Gove.
Acontece que tanto Gove como Lidington dizem apoiar a primeira-ministra britânica e que não está na hora de fazer mudanças na liderança do governo.
“Não está na hora de mudar o capitão do navio”, disse o secretário do Ambiente, Michael Gove, quando confrontado por jornalistas. Já David Lidington, citado pela BBC, disse estar “100%” com Theresa May.
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Por outro lado, no domingo à noite, May reuniu-se com Boris Johnson e outros proeminentes defensores do Brexit para perceber até que ponto tem apoio para voltar a apresentar, pela terceira vez, o seu acordo e conseguir aprová-lo no Parlamento.
Segundo o The Guardian, não houve avanços significativos na reunião onde também estiveram presentes Jacob Rees-Mogg, Iain Duncan Smith e Dominic Raab e onde foi feita uma sugestão a May: se a primeira-ministra quer ver o seu acordo aprovado, terá de deixar claro quando tenciona abandonar o número 10 de Downing Street para que outro primeiro-ministro possa liderar a próxima fase de negociações comerciais com a União Europeia.
Segundo o jornal britânico, May não respondeu a esta provocação.
Também nas ruas cresce a contestação à primeira-ministra. No sábado passado, milhares de pessoas saíram à rua para pedir um segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Segundo Mariella Frostrup e Richard Bacon, os dois organizadores da manifestação, o número de participantes ultrapassou o milhão de pessoas. A informação foi dada ao público quando os organizadores subiram a um palco para um discurso em Parliament Square. De acordo com o The Guardian, alguns dos manifestantes têm mais de 90 anos e saíram às ruas em protesto pela primeira vez na vida.
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