O que interessa saber
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Nome: Rossio
Abriu em: Maio de 2019
Onde fica: No hotel Altis Avenida, Rua 1º de Dezembro, 118, Lisboa
O que é: O novo restaurante do estrelado chef João Rodrigues, do Feitoria, que em muito se assemelha à linha descontraída e altamente criativa da nova vaga de bistros que tem chegado a Lisboa.
Quem manda: O Grupo Altis
Quanto custa: Entre 25€ e 30€
Uma dica: Que aqui se come bem não há dúvidas, e no que a bebida diz respeito também existem opções muito interessantes, seja na oferta de vinhos naturais seja na carta de cocktails
Contacto: 210 440 017
Horário: De domingo a segunda, das 12h30 às 1h (cozinha aberta até às 00.30)
Links Importantes: Facebook, Site
A História
Rossio Gastrobar é o nome do novo projeto do chef João Rodrigues com os hotéis Altis mas tudo nele justificaria um nome diferente, algo como “Astrobar”, afinal trata-se do novo “rooftop” de Lisboa (de onde se pode ver de perto o céu estrelado e muito mais) e é um dos Michelin nacionais que lhe dá vida.
Piadas à parte, esta novidade lisboeta surgiu de um “acrescento” feito ao já existente hotel Altis Avenida, na zona dos Restauradores, em Lisboa. O prédio vizinho a este edifício, que pertencia à Câmara Municipal de Lisboa (era o Serviços de Projetos Arquitetónicos), ficou disponível e decidiram aproveitar: ficaram com ele, aumentaram o número de quartos do Avenida (que soma agora um total de 118, mais 48 do que tinha) e transformaram o último andar, uma antiga cantina, neste Gastrobar. No total a remodelação demorou um ano e meio a ser concluída, processo que se estendeu por mais tempo porque o hotel não deixou de funcionar durante as obras.
A opção de juntar o chef João Rodrigues — que tem uma estrela Michelin no Feitoria — ao projeto foi o “twist” necessário para que este Gastrobar, um sítio onde se podem comer pratos leves e partilháveis enquanto se bebe um copo de vinho ou um cocktail, ganhasse uma identidade própria. Este João juntou-se a outro, o homónimo de apelido Correia que tinha vindo a desenvolver a oferta gastronómica de todo o Avenida e assim nasceu esta novidade.
O Espaço
A viagem por este Rossio Gastrobar começa ao nível da rua, na simples mas requintada nova entrada, criada de propósito para servir o espaço gastronómico, onde só mora a porta do elevador que nos leva ao 7º andar. Entramos nele, esperamos uns minutos e, ao chegar, somos recebidos pelos tons de verde, castanho e cinzento que se unem num estilo próximo do art deco (inspiração que não vem ao acaso já que o arquiteto do edifício foi o modernista Cristino da Silva), pensado pelas arquitetas Cristina Santos e Silva e Ana Menezes Cardoso.
Há um púlpito logo à saída do elevador onde a hostess o recebe antes de o encaminhar para um de dois sítios: as mesas interiores ou, se estiver com sorte e ainda tiver lugar, as exteriores. Assumindo uma forma parecida à da proa de um navio, esta novidade estica-se em direção à baixa lisboeta e culmina numa vista impressionante da zona do Rossio e arredores. Até o rio entra neste enquadramento que, seguramente, fará parte de muitas fotos em redes sociais nos próximos tempos. Há sofás grandes e verdes, cadeiras no mesmo estilo e mesas baixas.
Nota-se que houve atenção redobrada nos pormenores — as mesas, por exemplo, têm uns suportes laterais em ferro onde se encaixam umas peças que servem como uma espécie de prato — e isso está patente em todo o lado, dos sofisticados talheres da marca portuguesa Cutipol às cerâmicas da Studioneves (atelier dos designers Gabi Neves e Alex Hel que se inspiraram na cor dos azulejos que revestem os prédios dos bairros da Mouraria ou Alfama) e os recipientes e utensílios da Rival, marca artesanal portuguesa que faz à mão peças como as tigelas ou as facas de madeira que aqui vai encontrar.
A Comida
Aqui não há dissonâncias: a descontração do espaço e do staff (que usa uma normal t-shirt branca com um avental que até tem mosquetões à cintura) combina perfeitamente com o registo gastronómico onde reinam pratos de aspeto muito simples mas com vincados traços de técnica e criatividade — as pedras basilares daquilo que é a bistronomie contemporânea, essa tendência que já explodiu pela Escandinávia, Grã-Bretanha e França, principalmente, mas que agora começa a chegar mais em força a Portugal. A figura de maior destaque no aspeto culinário é João Rodrigues, claro, mas também há João Correia, que pensou todo o menu com o chef do Feitoria e nele também deixou a sua marca — será ele o chef residente deste projeto.
Tudo isto traduz-se em pratos que nunca têm mais de 3/4 sabores principais e que são pensados para partilhar. As doses não são enormes mas calma, não se exalte: é mesmo assim, afinal isto não é tecnicamente um restaurante, no sentido convencional da palavra, mas sim um gastrobar, um espaço essencialmente pensado para se vir beber um copo e picar qualquer coisa. Também existem opções mais substanciais (no menu caem na secção “Conforto”), claro, mas no geral, o objetivo deste Rossio nunca é deixá-lo empanturrado ou funcionar como um restaurante dito “normal”.
Quer isto dizer que um casal que aqui venha, por exemplo, ficaria satisfeito pedindo três pratos (quatro, se tivessem mais fome) que podem ir das falsas cerejas de foie-gras para barrar em brioche tostado (4uni./10€) à César de frango do campo com queijo de S. Jorge com 30 meses de cura (8€), como entradas. Como “prato principal” há a diabolicamente saborosa Katsu sando de porco alentejano com pickle de cebola e coentros (12€) ou a mais “substancial” Lula com cogumelos shiitake e molho de manteiga cítrico (18€). No capítulo dos doces encontra uma seleção mais reduzida, com apenas três sugestões em que os gelados têm destaque especial. Prove a mistura de chocolate, avelã e fava tonka (6€) e a de Dolce de leite com banana e bolacha Maria (6€) — não se vai arrepender.
Quando o Observador visitou esta novidade o chef João Rodrigues andava a mil, atarefado de um lado para o outro. Mesmo assim conseguiu explicar que a ideia por trás desta oferta gastronómica é seguir os mesmos princípios que fizeram o Feitoria destacar-se, ou seja, apostar na “valorização de produto e pequenos produtores”, vontade que se torna mais difícil de alcançar por culpa do volume. Enquanto no fine dining estrelado do Altis Belém serve umas poucas dezenas de refeições por noite (30/40), a rotação neste Rossio Gastrobar é bem mais elevada.
A ligação com o Feitoria existe e não é escondida, quanto mais não seja porque o próprio cozinheiro pensa em “reutilizar” algumas coisas que lá costumava servir mas agora já não o faz — veja-se as cerejas de foie, um clássico. Pretende-se criar uma espécie de circuito criativo que se traduzirá numa troca de influências e “sinergias” entre o espaço Michelin, este Gastrobar e o futuro restaurante no Mercado da Ribeira, que abrirá no final do mês de maio.
O mundo dos cocktails também é levado muito a sério e será uma das várias âncoras deste espaço, seguramente. Das mãos (e cabeça) da bartender Flavi Andrade, brasileira que mora há cinco anos em Portugal, nasceram misturas como o refrescante Basil, que leva tequila, Agave com manjericão e vários licores que vão do Luxardo ao Chartreuse (13,50€) ou o Ginger, que junta uísque, rum, gengibre, cerveja Dois Corvos Metropolitan e café salgado (12€). A restante oferta de bebidas alcoólicas foi escolhida por André Figuinha, o sommelier do Feitoria, e aposta forte numa grande seleção de vinhos naturais e biológicos, outra grande tendência internacional que começa, mais e mais, a chegar a Portugal.
“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos restaurantes.