Duas garrafas de água na mão, o habitual casaco cinzento com capuz, os cumprimentos a Chris Hughton e restantes elementos da equipa técnica. A entrada de Pep Guardiola no relvado do Falmer Stadium poderia ser um qualquer jogo da Premier League. Tal como o próprio assumira na antecâmara do encontro com o Brighton, não sentia a pressão, queria uma partida com muitos golos e dormira que nem um anjinho. Mas não, este não era um jogo qualquer. E o seu comportamento mostrou isso mesmo.

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Depois de uma primeira jogada fantástica logo a abrir de Bernardo Silva, a conseguir ganhar metros com bola controlada até ao momento do remate na área já muito pressionado por três adversários, o técnico espanhol mantinha-se sentado no banco ao lado do adjunto Mikel Arteta até aos seis minutos, altura em que o iraniano Alireza Jahanbakhsh teve uma tentativa muito perigosa à baliza de Ederson que deixou o brasileiro pregado ao chão a ver o lance passar perto do poste. Os nervos cresciam, levantou-se, voltou a sentar-se mas ficou de vez de pé quando terá recebido a indicação de que o Liverpool estava na frente com um golo de Mané e o Manchester City continuava a sentir muitas dificuldades perante o bloco muito baixo do Brighton.

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Os visitados, que conseguiram resolver a sua permanência antes da última jornada, não conseguiam propriamente esticar o jogo ou sair em transição mas, perante a ansiedade de uma equipa do City com visíveis problemas em desmontar a teia defensiva do adversário, bastou ao Brighton jogar no erro para inaugurar o marcador: depois de um remate de longe desviado para canto, Glenn Murray apareceu sozinho ao primeiro poste para desviar de cabeça e inaugurar o marcador aos 27′. Guardiola, perante a desvantagem, tirou o casaco. Mas, como há não muito tempo, existe um homem talhado para ser herói nos grandes momentos que decidem a Liga: Kun Agüero. Foi assim em 2012, foi assim em 2014, foi assim em 2018, foi assim em 2019.

O argentino que trocou o Atl. Madrid pela Premier League em 2011, naquela que foi uma das primeiras transferências mais sonantes do agora todo poderoso Manchester City, tem vindo a quebrar recordes do clube e voltou a ter um papel de protagonista principal como na época em que marcou nos descontos frente ao QPR o golo que tirou o título ao United: logo no minuto seguinte ao 1-0, e em mais uma jogada onde conseguiu colocar-se no limite da linha de fora de jogo para ultrapassar centrais bem mais fortes no plano físico, Agüero recebeu um passe de calcanhar na área de David Silva e fez passar a bola por entre as pernas dee Mathew Ryan. Guardiola cerrou os punhos, deu indicações para dentro de campo e “explodiu” dez minutos depois (38′), quando Laporte aproveitou uma distração de Murray, entrou na zona “morta” da defesa à zona e cabeceou para o 2-1 num canto, já depois de Bernardo Silva ter visto Ryan a salvar em cima da linha de golo a melhor oportunidade que o português teve.

Kun Agüero marcou assim o primeiro golo do City apenas 83 segundos depois do 1-0 do Brighton (Michael Regan/Getty Images)

O técnico espanhol abraçou Arteta e os restantes adjuntos, fez um sinal de festejo para a bancada onde se concentravam os muitos adeptos do City mas apanhou ainda mais um susto quando Lewis Dunk, na marcação de um livre direto, obrigou Ederson a uma defesa atrapalhada por cima da trave (45′). Ao intervalo, o City era virtualmente campeão depois de ter estado 20 minutos atrás do Liverpool na tabela classificativa e havia outro conforto para o que se seguiria na segunda parte. E tudo porque os anos passam mas, com Agüero, só muda mesmo a cor de cabelo – e foi dos pés do argentino que começou a festa. Por alguma razão, no último mês, Guardiola tinha descrito o argentino como “uma lenda que faz sempre golos importantes”.

Com uma segunda parte de absoluto controlo (83% de posse), com um lance a abrir que motivou muitos (e justos) protestos por atraso de bola de Laporte para Ederson que o guarda-redes agarrou na pequena área, Mahrez, numa fantástica jogada à entrada da área onde deixou Dunk no chão, marcou da melhor forma o regresso aos jogos da Premier League mais de um mês depois com um grande remate de pé direito que fez o 3-1 (63′), numa goleada que fechou com um livre direto de Gündogan nove minutos depois. Pep Guardiola, esse, estava cada vez mais agitado, a pensar nas substituições que poderia ou não fazer. Mas a sua cara dizia tudo: depois do pesadelo logo a abrir, o técnico espanhol teve uma tarde de sonho e pode voltar a dormir como um anjinho com aquela que foi a 14.ª vitória consecutiva na Premier League que deixou o Liverpool em segundo com 97 (!) pontos. E, com isso, os citizens ganharam o sexto título, naquele que foi o seu primeiro bicampeonato da história.