A história parecia ter tudo para começar assim: Scott Daniel Warren, 36 anos, apanhou uma pesada pena de prisão por ajudado a transportar e abrigar migrantes para uma cidade do estado do Arizona, Estados Unidos da América, próxima da fronteira com o México. O norte-americano, um professor universitário de geografia, arriscava-se a apanhar até 20 anos de prisão. Porém, um júri norte-americano responsável por decidir a sua pena optou por não o condenar, não sendo ainda certo que Warren venha a enfrentar novo julgamento, revela a agência de notícias Associated Press.
A versão deste ativista, apresentada pelo seu advogado Greg Kuykendall e citada pela revista Time, era a seguinte: Warren teria apenas sido “gentil” quando providenciara alimentos, água e alojamento a dois migrantes, antes de ser detido no início de 2018. O ativista não poderia virar as costas a dois migrantes alegadamente debilitados que teriam atravessado um deserto para entrar no país, acrescentava a defesa.
A acusação, que pedia pena de prisão para o ativista, veiculava uma versão diferente: acusava-o de conspiração, por albergar e apoiar migrantes que não estariam, segundo a acusação, numa situação de risco. Chamado a pesar os argumentos das duas partes, um júri — coletivo de juízes e cidadãos que conjuntamente decidem atribuir uma pena — não conseguiu chegar a consenso e desistiu de atribuir um veredito.
Scott Warren!
What was left, in the end, was the government argument that if you give food, water and medical aid to somebody and allow them to hang out for a couple of days without calling the authorities, that is a crime. Not just a crime, a felony. https://t.co/Rv0rqBvrzw pic.twitter.com/WA8eme22LE— AM (@34secondsfilm) June 12, 2019
Doctors & nurses support #ScottWarren!
"Everyone has a right to survive. I am sure that there are hundreds of lives that have been saved by humanitarian aid volunteers in Southern Arizona over the last twenty years."
– Sarah Roberts, RN pic.twitter.com/i8xqncKIuf— No More Deaths | No Más Muertes (@NoMoreDeaths) June 4, 2019
A renúncia à condenação (mas também à absolvição) surge numa altura em que grupos de ajuda humanitária que trabalham nos EUA acusam o Governo norte-americano de perseguição e escrutínio apertado, devido às políticas anti-imigração ilegal de Donald Trump. À saída do julgamento, Warren terá “agradecido aos seus apoiantes e criticado os esforços do governo para combater severamente a imigração nos EUA”, revela a Time.
Hoje, continua a ser tão necessário como sempre foi que os moradores locais e os voluntários de ajuda humanitária se solidarizem com migrantes e refugiados, assim como também devemos erguer-nos para defender as nossas famílias, amigos e vizinhos na terra que está a ser mais ameaçada pela militarização das comunidades próximas da fronteira”, terá afirmado o ativista, citado pelo The Guardian
A 2 de julho, um juiz voltará a ouvir os argumentos da defesa e da acusação, não sendo ainda certo se a isso se seguirá novo julgamento. O ativista que foi detido no início de 2018 fará parte de um grupo de ajuda humanitária chamado No More Deaths, que já terá sido alvo de outras acusações judiciais pelo seu apoio a migrantes com estatuto ilegal no país. No início deste ano, por exemplo, o grupo humanitário de que Warren faz parte havia sido acusado de ter deixado água, comida e outras provisões a migrantes que atravessavam o sudeste do estado do Arizona.