O navio humanitário ‘Sea Watch 3’ decidiu esta quarta-feira romper o bloqueio imposto pelo governo de Itália e entrar em águas territoriais italianas para fazer o desembarque dos 42 migrantes, retidos a bordo daquela embarcação há 14 dias.

O ‘Sea Watch 3’, de uma organização não-governamental alemã com o mesmo nome, encontrava-se perto das águas territoriais italianas, em frente da ilha de Lampedusa, depois de ter resgatado, a 12 de junho, este grupo de migrantes, inicialmente composto por 53 pessoas, que estava a bordo de um bote de borracha ao largo da Líbia.

“Decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o que estou a arriscar, mas os 42 (…) estão exaustos. Estou a levá-los para um lugar seguro”, disse na rede social Twitter Carola Rackete, a jovem capitã alemã do ‘Sea Watch 3’.

Os dados relativos ao navio disponíveis em ‘sites’ especializados em tráfego marítimo, citados pelas agências internacionais, mostram que a embarcação tomou, ao início da tarde, a direção do porto de Lampedusa, depois de ter navegado durante vários dias ao longo da linha das águas territoriais italianas.

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“Iremos usar todos os meios democráticos que permitam bloquear este insulto ao direito e às leis”, reagiu o ministro do Interior e líder da extrema-direita italiana (Liga), Matteo Salvini, num vídeo transmitido em direto na rede social Facebook.

O também vice-primeiro-ministro italiano denunciou o “pequeno jogo político sórdido” realizado pela organização não-governamental (ONG), mas também a indiferença manifestada pela Holanda e pela Alemanha.

Os governos de Berlim e de Haia “irão responder” por tal situação, ameaçou Salvini.

Na passada quinta-feira, Matteo Salvini já tinha deixado claro que a proibição de desembarque destes migrantes em território italiano era para manter.

“O navio ‘Sea Watch 3’ não se importa com as regras e participa no tráfico de pessoas. Não darei autorização para atracar, nem agora, nem no Natal ou no Ano Novo, aos que não se importam com as regras”, afirmou então o ministro do Interior italiano, em declarações a uma rádio local.

A jovem capitã alemã de 31 anos e os responsáveis pela ONG Sea-Watch arriscam enfrentar um processo judicial por suspeita de ajuda à imigração ilegal, bem como a apreensão do navio e uma coima de 50.000 mil euros, de acordo com um novo decreto assinado por Salvini.

Foi conhecido recentemente que um ativista português, Miguel Duarte, e mais nove ex-tripulantes da embarcação ‘Iuventa’, um navio de uma outra ONG alemã de resgate humanitário no Mediterrâneo, foram constituídos arguidos e estão sob investigação em Itália por suspeita de ajuda à imigração ilegal.

Miguel é português e resgatou milhares de migrantes no Mediterrâneo. Agora arrisca 20 anos de prisão

Na terça-feira, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou um recurso da Sea Watch que pedia medidas excecionais que obrigassem o Governo italiano a autorizar o desembarque destas 42 pessoas e pediu às autoridades italianas que “continuassem a fornecer toda a assistência necessária” às pessoas vulneráveis a bordo da embarcação.

Entre os 53 migrantes que foram resgatados a 12 de junho, as autoridades italianas autorizaram o desembarque de 11 pessoas consideradas como vulneráveis (crianças, mulheres, doentes).

Em terra, dezenas de cidades alemãs já manifestaram disponibilidade para receber estes migrantes, e o bispo de Turim, Cesare Noviglia, anunciou, na segunda-feira, que a sua diocese também estava disponível para acolher estas pessoas.

Um pároco de Lampedusa, Carmelo La Magra, está acampado há vários dias junto de uma igreja local para exigir o desembarque destes migrantes.

Em janeiro passado, 32 migrantes resgatados pelo ‘Sea Watch 3’ permaneceram retidos no mar a bordo do navio durante 18 dias.

Estas pessoas conseguiram depois desembarcar em Malta por causa de um acordo de distribuição acordado entre vários países europeus, incluindo Portugal.