O governo italiano constituiu arguido um voluntário português que participou no resgate de milhares de migrantes no mar Mediterrâneo. Miguel Duarte trabalha com mais nove pessoas na organização não-governamental (ONG) alemã Jugend Rettet, que, a bordo do navio Iuventa, participou em missões de resgate de migrantes e refugiados no Mediterrâneo. Agora é acusado de auxílio à imigração ilegal. E enfrenta uma pena que pode chegar aos 20 anos de prisão.

A história de Miguel Duarte, aluno de doutoramento em Matemática no Instituto Superior Técnico, está contada na página da PPL, uma comunidade que organiza campanhas de crowdfunding.  Enquanto voluntário daquela ONG, Miguel participou no resgate de 14 mil pessoas. Mas em 2018, no ano em que quase 2.300 pessoas morreram na tentativa de chegar à Europa pelo Mediterrâneo, a Itália acusou-o de apoio à imigração ilegal, tráfico humano e posse de armas de fogo. As duas últimas acusações já caíram. Mas a outra prossegue e pode colocá-lo na prisão.

Segundo o vídeo que Miguel Duarte publicou no YouTube para a campanha conduzida pela Humans Before Borders — uma plataforma portuguesa de apoio aos migrantes –, o estudante envolveu-se em ações solidárias no pico da crise dos refugiados, em 2016: “Já tinha ouvido muitas notícias sobre o sofrimento dos migrantes e refugiados às portas da Europa e sempre tive a sensação que alguma coisa deveria ser feita. Uma pergunta ficava sempre minha cabeça: ‘Porque não eu?’“.

Miguel tinha 24 anos quando decidiu juntar-se a uma tripulação de resgate marítimo no Mediterrâneo central a bordo de um navio de resgate, o Iuventa. “As nossas operações foram interrompidas quando o Iuventa foi arrestado pela polícia italiana. Nove colegas meus e eu próprio fomos constituídos arguidos por suspeita de ajuda à imigração ilegal. Ao longo desse ano, vi passar pelas minhas mãos milhares de homens, mulheres e crianças em completo sofrimento. Basta um dia no mar para nos apercebermos que estas pessoas não vêm por escolha própria”, recorda o jovem natural da Azambuja.

Apesar das acusações que agora sofre, Miguel Duarte afirma que faria tudo novamente — algo que deu o mote à hashtag que tem sido usadas nas redes sociais para escrever sobre a campanha, #EuFariaOMesmo. “Não tenho a mais pequena dúvida que tirar estas pessoas da água é o que está certo. E não tenho a mais pequena dúvida de que qualquer pessoa teria feito o mesmo”, acrescenta.

A campanha de angariação de fundos para Miguel Duarte começou a 7 de junho e já recolheu quase 14 mil euros que o ajudarão a suportar os custos legais do processo — mais quatro mil do que estava inicialmente estipulado. Termina a 12 de julho.

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