“Manobra de distração”, “falta de bom senso” e até “ensaio de vitimização”. As palavras e expressões utilizadas são duras e os parlamentares que as disseram não se escondem: para PS, PSD, CDS e PCP a carta enviada por Joe Berardo a Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República, é mais uma afronta aos portugueses e não vai merecer consideração dos partidos.
Para começar, defende Duarte Pacheco, do PSD, Berardo “nunca devia ter tornado público o conteúdo do que enviou a Ferro Rodrigues”. Berardo queixa-se na missiva de ter sido maltratado na comissão de 10 de maio e pede a intervenção do Presidente da Assembleia da República. “Se havia queixas e se queria escrever ao segundo titular do Estado, tem de se ter o bom senso e reserva”, defende o deputado. Duarte Pacheco fala ainda em “falta de decoro”.
Berardo escreve a Ferro. “Paguei 231 milhões à banca [em juros] a troco de nada”
Já para João Paulo Correia, do PS, o papel de vítima não fica bem a Berardo.“Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele”, lançou. “(A carta) não passa de uma manobra de distração perante as autoridades judiciais e Berardo não vai contar com o PS para isso”, acrescenta João Paulo Correia.
O esquerdista do PCP Duarte Alves também fala em “papel de vítima” e lembra o dia do inquérito ao empresário. “Berardo já fez o ensaio de vitimização na comissão e não conseguiu impor essa estratégia. (O PCP) não vai contribuir para essa estratégia”, afirma Duarte Alves.
Cecília Meireles, do CDS, é mais sucinta e, para a deputada, uma palavra basta para descrever a carta: “autoexplicativa”.
E Eduardo Ferro Rodrigues? O que tem a dizer, afinal, o destinatário da carta sobre a mesma? “Li a carta e respondi”, revela o Presidente da Assembleia da República. Ferro Rodrigues diz no entanto que “o conteúdo da carta foi divulgado” antes de o próprio a ler, confirmando assim o que já tinha sido noticiado pelo Eco.
Na resposta a Berardo, segundo uma nota enviada à agência Lusa, José Berardo foi ainda “informado de que, nos termos legais e regimentais, não pode o presidente da Assembleia da República interferir no funcionamento das comissões parlamentares de inquérito”, uma vez que estas “exercem a sua atividade com total independência, dentro do quadro legal em que foram constituídas”, e gozam dos “poderes de investigação próprios das autoridades judiciais e demais poderes e direitos previstos na lei e na Constituição da República”.
Queixa ao Ministério Público
Acresce que, para além das críticas à carta, os deputados já tinha informado que vão fazer queixa de Berardo ao Ministério Público. O motivo? “Claro delito de desobediência”, referem. Os deputados dizem que a Associação Coleção Berardo, ligada ao empresário, não enviou à comissão parlamentar de inquérito informação satisfatória sobre as mudanças de estatutos que fizeram com que a Caixa Geral de Depósitos e os outros bancos perdessem poder na associação que é dona das obras de arte.