Centenas de manifestantes pró-democracia regressaram esta terça-feira ao aeroporto de Hong Kong, um dia depois de milhares de ativistas terem invadido as instalações, levando ao cancelamento de vários voos. Um contingente da polícia entrou pelas 22h45 locais (15h45 em Lisboa) no aeroporto mas as autoridades já abandonaram as suas posições no exterior do edifício. Os manifestantes começaram a dispersar e os primeiros voos também já foram restabelecidos.

A calma que se vive às 01h00 de quarta-feira (18h00 em Lisboa) no aeroporto internacional de Hong Kong contrasta com os momentos de tensão vividos durante a noite.  Os manifestantes, que se encontravam no terminal 1, na zona onde se efetuam os check-in, tentaram bloquear sem êxito as entradas na zona central, usadas pela polícia para entrar no edifício. A polícia tentou dispersar os manifestantes e vários vídeos publicados nas redes sociais mostraram os momentos de confronto.

As autoridades já tinham aconselhado ao público em geral a não se deslocar para o aeroporto. Alguns voos puderam descolar e aterrar nesta terça-feira daquele aeroporto internacional, um dia depois de mais de 200 voos terem sido cancelados.

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Vestidos de preto, a assinatura do movimento pró-democracia, os manifestantes gritavam: “Levanta-te Hong Kong, levanta-te para a liberdade”.

Voos retomados no aeroporto de Hong Kong, manifestantes anunciam nova concentração

O encerramento do oitavo aeroporto internacional mais frequentado do mundo (74 milhões de passageiros em 2018), numa medida raramente aplicada, foi decidido na segunda-feira e no momento em que o governo central chinês afirmava ver “sinais de terrorismo” na contestação, que agita a região administrativa especial chinesa desde o início de junho.

A chefe do Executivo de Hong Kong advertiu esta terça-feira que a violência das manifestações pró-democracia vai levar o território para “um abismo” e a “uma situação preocupante e perigosa”.

“A violência (…) vai empurrar Hong Kong para um abismo e mergulhar a sociedade de Hong Kong numa situação preocupante e perigosa”, afirmou Carrie Lam, em conferência de imprensa.

A líder do governo acrescentou que o território está “seriamente ferido” e que vai levar “muito tempo a recuperar”, pedindo que “todos coloquem as diferenças de lado e se acalmem”. “Pensem por cinco minutos, pensem na nossa cidade, querem realmente que seja empurrada para o abismo?”, questionou Lam, com lágrimas nos olhos.

Num comentário publicado esta madrugada, a agência de notícias oficial chinesa Xinhua considerou que o futuro de Hong Kong atravessava “um momento crítico”, enquanto dois meios de comunicação do Partido Comunista Chinês, Diário do Povo e Global Times, difundiram dois vídeos que mostravam veículos de transporte de tropas a dirigirem-se, alegadamente, para a zona económica especial chinesa de Shenzhen, adjacente a Hong Kong.

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Cancelada ligação entre Macau e Aeroporto Internacional de Hong Kong pelo segundo dia

A ligação marítima entre Macau e o aeroporto internacional de Hong Kong, efetuada habitualmente ao início da noite, foi cancelada esta terça-feira pelo segundo dia consecutivo, anunciaram as autoridades do território.

A Direção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) indicou que a ligação direta das 19h45 (12h45 em Lisboa) entre o Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Exterior (Macau) e o Aeroporto Internacional de Hong Kong (HKIA) não se vai realizar, na sequência da decisão das autoridades de Hong Kong de cancelarem voos com partida da região administrativa especial chinesa.

“A última viagem” com destino ao HKIA “partiu do Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa às 15h55”, informou a DSAMA, num comunicado idêntico ao emitido na segunda-feira, primeiro dia em que o as autoridades aeroportuárias de Hong Kong cancelaram voos, primeiro com partida e depois a chegar ao território, na sequência de manifestações no terminal.

A contestação social foi desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora medidas para a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da atual chefe do Governo, uma investigação independente à violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.

A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio de “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.

Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.

Artigo atualizado às 19h00 com a informação de que a polícia já abandonou o aeroporto