O sindicato dos motoristas das matérias perigosas levaram um “amigo” para a reunião com o governo na Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho. Apresentado como um mediador externo, Bruno Fialho participou no encontro, segundo Pardal Henriques, para ajudar com a sua “experiência de sindicalista”. Mas afinal quem é Bruno Fialho? É dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), lutou contra a privatização à TAP durante o governo de Passos, esteve na linha da frente da greve europeia contra a Ryanair e foi candidato ao Conselho Fiscal do Sporting na lista de João Benedito.
O apoio de Bruno Fialho ao Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) não é propriamente uma surpresa, já que o é dirigente do SNPVAC, um dos sindicatos que manifestou solidariedade com a luta dos motoristas ainda antes do plenário que fixou a greve.
Dirigente de uma associação com Louçã e Garcia Pereira
Bruno Fialho não é o presidente do SNPVAC (é Luciana Passo), mas é muitas vezes quem fala em nome daquela entidade e o seu principal rosto. Em 2012, falou em nome do sindicato numa audição no Parlamento sobre a privatização da TAP, onde, de resto, já foi mais de uma vez. Nesse mesmo ano defendeu a suspensão do processo de venda da companhia aérea, o que transmitiu ao então secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro.
Durante o governo de Passos — que vendeu a companhia ao consórcio liderado por David Neelman — Bruno Fialho foi um dos rostos que tentou travar o processo e em novembro de 2015 apresentou mesmo uma queixa-crime contra a venda da TAP, que visava governantes de Passos Coelho. Aí Bruno Fialho falava como vice-presidente da “Associação Peço a Palavra”, entidade através da qual foram formalizadas as queixas em tribunal.
A “Associação Peço a Palavra” é presidida pelo realizador António Pedro Vasconcelos, tem como presidente da mesa da Assembleia Francisco Louçã e como vice-presidente Ricardo Sá Fernandes. No Conselho Fiscal estão nomes como Paulo de Morais e Garcia Pereira. A Associação Peço a Palavra é uma associação sem fins lucrativos que, segundo se pode ler no site da associação, “promove a dinamização de uma cidadania ativa relativamente aos interesses nacionais, ajudando todos os cidadãos a ter uma maior participação democrática”.
Apesar de o governo PS ter revertido a privatização da TAP, a associação não ficou satisfeita com a solução e, já em 2019, Bruno Fialho assinou três artigos no Público, em coautoria com António Pedro Vasconcelos. O último deles é bastante crítico da atual gestão da companhia, que é privada, e tem como título: “Não TAP os olhos: o “rei” Neeleman vai nu!” Nesse mesmo texto, os autores acusam o Governo de “ao dar um passo importante no sentido de travar a alienação da TAP e a sua possível dissolução, afinal, mais não fez do que uma operação de cosmética, deixando que Neeleman continue a usar a nossa companhia para servir os seus interesses e ambições pessoais.”
O terror da Ryanair. Da greve europeia à queixa a Bruxelas
Bruno Fialho também tem sido o rosto da oposição à companhia aérea Ryanair. Em maio de 2018, Bruno Fialho esteve em Madrid com sindicatos de outros países da Europa a preparar formas de luta para pressionar a Ryanair. Dessa reunião saiu mesmo um ultimato à companhia: caso a companhia recusasse aplicar as leis laborais em cada país, seria convocada uma greve à escala europeia. No dia 25 de julho desse ano ocorreu mesmo a greve e houve registo 30 voos cancelados em Portugal. Quem falou em Portugal em nome dos grevistas? Bruno Fialho. “Congratulamo-nos pela coragem com que o trabalhadores enfrentaram esta greve feita de baixo de ameaças da Ryanair”, disse nesse dia em declarações ao Expresso.
Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil pondera avançar com greve europeia
A luta contra a Ryanair continua com Bruno Fialho a denunciar o encerramento da base de Faro depois do Estado português ter alegadamente subsidiado a companhia. Aliás, já a 7 de agosto de 2019 Bruno Fialho anunciou que o SNPVAC iria fazer uma queixa junto da Direção-Geral da Concorrência europeia (DGComp) para que a entidade europeia investigue subsídios dados pelo Estado português à Ryanair para que tivesse uma base em Faro. “Foram distribuídos vários milhões de euros pelo Estado português em subsídios à Ryanair para que esta tivesse voos a partir de Portugal, e vamos fazer junto da DGComp e pedir-lhe que investigue isso. Em Faro estamos a falar de subsídios atribuídos ao longo de nove anos”, disse Bruno Fialho em declarações ao Expresso.
Candidato na lista de Benedito nas eleições no Sporting
Pedro Pardal Henriques teve um lapso: quando falava esta quinta-feira sobre Bruno Fialho, disse: “Bruno Carvalho”. E logo retificou: “Desculpem, Bruno Fialho”. Foi um lapso, mas Bruno Fialho também é do Sporting, concorreu nas eleições para os órgãos sociais do clube.
Sócio nº 78.384 do Sporting, Bruno Fialho foi candidato a vogal do Conselho Fiscal e Disciplinar pela lista A, que tinha como candidato a presidente do conselho diretivo o antigo capitão de Futsal do Sporting, João Benedito.
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Bruno Fialho é também sócio da BFVM Consulting — Consultoria, Investimento e Gestão Imobiliária, uma empresa criada em 2014. A empresa tem como objeto, como o nome sugere, em “consultoria para os negócios e gestão”, “consultoria e assessoria nas áreas económica, financeira, fiscal, comunicação” e “compra e venda de imóveis e revenda dos adquiridos”.
Esta quinta-feira, Bruno Fialho, que o Observador tentou sem êxito contactar, disse em declarações ao Expresso antes de entrar na reunião que a sua presença poderia “serenar os ânimos”. E conta a razão pela qual achou que tinha sido convidado pelo SNMMP a estar presente: “Como estou habituado a negociar, eles consideram benéfica a minha presença e eu aceitei o convite”. Apareceu de mochila no ombro na Praça de Londres, mas nunca será “o mediador” do conflito nos termos da lei. Pode, sim, ser o interlocutor de um dos lados: o sindicato dos motoristas.