Foi anunciado nesta terça-feira, através de uma nota enviada à comunicação social, que o governo brasileiro recusou os 20 milhões de dólares (17,9 milhões de euros) oferecidos pelos países do G7 para combater os incêndios na Amazónia. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Ernesto Araújo, fez uma publicação no Twitter comentando a recusa, que acontece porque o Brasil não quer “relativizar a soberania sobre o seu território”.
5/O Brasil não aceitará nenhuma iniciativa que implique relativizar a soberania sobre o seu território, qualquer que seja o pretexto e qualquer que seja a roupagem.
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) August 26, 2019
O ministro da Casa Civil brasileiro, Onyx Lorenzoni, já afirmara na segunda-feira que o Governo rejeitaria a ajuda de 20 milhões de dólares. “Agradecemos, mas talvez esses recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa. Macron (Presidente francês) não consegue sequer evitar um previsível incêndio numa igreja que é património da humanidade (incêndio na Catedral de Notre-Dame) e quer ensinar o quê para nosso país? Ele tem muito o que cuidar em casa e nas colónias francesas”, disse Onyx ao G1.
O chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, anunciou na segunda-feira que o G7 forneceria uma ajuda imediata de 20 milhões de dólares (17,95 milhões de euros) para combater o incêndio na maior floresta tropical do mundo.
Na cimeira do G7, dos países mais industrializados do mundo, participaram durante o fim de semana os líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Porém, Onyx Lorenzoni acredita que Macron poderá ter “objetivos colonialistas” na ajuda atribuída pelo G7.
“O Brasil é uma nação democrática, livre e nunca teve práticas colonialistas e imperialistas como talvez seja o objetivo do francês Macron”, acrescentou o ministro da Casa Civil.
As declarações de Onyx assemelham-se às do chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, que quando confrontado com a oferta de ajuda do G7 mostrou ter dúvidas acerca da intenções desses países.
“Será que alguém ajuda alguém, a menos que seja pobre, sem retorno? Isto é, sem esperar por algo em troca”, questionou Bolsonaro, junto à entrada do Palácio da Alvorada, sua residência oficial.
O chefe de Estado do Brasil mostrou a capa do jornal brasileiro “O Globo”, cuja manchete principal dizia: “Macron promete ajuda dos países ricos para a Amazónia”.
Amazónia. Bolsonaro diz ter dúvidas sobre ajuda dos países do G7 para combater incêndios
Com o jornal nas mãos, Jair Bolsonaro insistiu e perguntou: “O que eles querem na Amazónia por tanto tempo?”.
Sem mencionar qualquer país em particular, o Presidente brasileiro disse que, no final da semana passada, falou com “líderes excecionais” sobre a grave situação gerada pelos incêndios na Amazónia, que na sua opinião realmente desejam colaborar com o Brasil na luta contra as chamas.
No entanto, numa aparente alusão a Macron, acrescentou que não conversou com aqueles que, no seu entender, querem “continuar vigiando o Brasil”.
Posição diferente teve na segunda-feira o ministro do Meio Ambiente brasileiro, Ricardo Salles, que afirmou que a ajuda anunciada pelo G7 aos países atingidos pelos incêndios da Amazónia é “sempre bem-vinda”. “Acho uma excelente medida, é muito bem-vinda”, disse Salles, citado pelo portal de notícias G1.
O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).