São impressionantes e não aconselhadas aos mais sensíveis as transcrições das conversas mantidas no passado dia 2 de outubro entre o jornalista saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos, e o pelotão de morte composto por 15 homens encarregues de o assassinar, obtidas pelos serviços secretos turcos e agora reveladas pelo jornal Daily Sabah. Há registos não apenas das últimas palavras do dissidente e colunista do Washington Post, que se recusou a escrever um SMS a despistar o próprio filho e acabou a implorar pela pela vida — “Tenho asma. Não façam isso, vão sufocar-me” — mas também das conversas que os seus algozes mantiveram entre si.

A primeira foi registada 12 minutos antes da chegada de Khashoggi ao consulado, para levantar os documentos de que precisava para o casar com a sua noiva turca, entre Maher Abdulaziz Mutreb, descrito como o “número dois” do esquadrão de morte, e Salah Muhammed Al-Tubaigy, médico legista do Departamento de Segurança Geral Saudita — que tinha sido encarregue de desmembrar o corpo do jornalista. Ambos fazem parte do grupo de cinco suspeitos que enfrentam a pena de morte na Arábia Saudita, pelo envolvimento no crime.

Mutreb: “É possível por o corpo num saco?”

Al-Tubaigy: “Não. Demasiado pesado, e muito alto também. Sempre trabalhei com cadáveres. Sei cortar muito bem. Apesar disso nunca trabalhei num corpo quente, mas também trato disso facilmente. Geralmente ponho os meus auscultadores e ouço música enquanto corto cadáveres. Pelo meio bebo o meu café e fumo um cigarro. Depois de eu o desmembrar, tu enrolas os pedaços em sacos de plásticos, põe-los em malas e leva-los (para fora do edifício).”

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“O meu superior nas Provas Forenses não sabe o que eu estou a fazer. Não há ninguém para me proteger”, é ouvido Al-Tubaigy a dizer. Garante o Daily Sabah, numa tentativa de garantir a proteção de Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita.

A conversa terminou às 13h14, quando Mutreb pergunta se o “animal que vai ser sacrificado” já chegou e um terceiro elemento do grupo entra na sala para anunciar que sim, Jamal Khashoggi chegou. Às 13h39, exatamente 25 minutos depois, estaria morto, anuncia, explica o jornal turco, o som de uma serra para autópsias — que só se silenciará meia hora mais tarde.

Antes de morrer, asfixiado por um saco de plástico, o jornalista saudita, impotente e incrédulo, ainda perguntou: “Como é que uma coisa destas pode acontecer num consulado?”.