O Conselho de Finanças Públicas (CFP) considera que a aceleração do crescimento económico prevista pelo Governo para 2020 no Projeto de Plano Orçamental publicado esta quarta-feira “comporta elevados riscos” e não permite considerar o cenário apresentado “como prudente”.

O documento enviado na terça-feira para Bruxelas e publicado esta quarta-feira prevê que a economia portuguesa desacelere de um crescimento de 2,4% em 2018, para um crescimento de 1,9% em 2019 e volte a acelerar para um crescimento de 2% no próximo ano. Um cenário que levanta dúvidas ao CFP na análise que faz ao documento.

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“Para 2020, o perfil de aceleração do crescimento económico considerado pelo Ministério das Finanças comporta elevados riscos descendentes, tendo em conta a degradação das perspetivas económicas nos principais parceiros comerciais da economia portuguesa”, lê-se no documento.

O CFP lembra que a previsão do Governo para esta aceleração do crescimento económico se baseia essencialmente “na dinâmica do comércio externo” com o Governo a prever para 2020 “uma aceleração das exportações em simultâneo com uma desaceleração das importações” face a 2019.

“A previsão do Ministério das Finanças de abrandamento no ritmo de crescimento das importações de bens e serviços em 1,3 ponto percentual para 4,1% em 2020 tem implícita uma quebra não sustentada na elasticidade das importações face à procura global, de 1,8 em 2019 para 1,6 em 2020”, indica ainda. Por isso mesmo, a entidade liderada por Nazaré Costa Cabral indica que, com todas as outras variáveis constante, “a manutenção em 2020 da elasticidade das importações face à procura global estimada para 2019 levaria, neste cenário, ao crescimento das importações em 4,7% e ao abrandamento do ritmo de crescimento do PIB”. Para quanto? 1,7% em vez dos 2% previstos pelo Governo no esboço enviado para Bruxelas e apresentado esta quarta-feira.

Uma previsão baseada em pressupostos que, segundo o CFP, “não permitem considerar o cenário apresentado como prudente, dados os elevados riscos descendentes que incidem na previsão de aceleração da atividade económica em 2020”. Já em relação à previsão de crescimento para 2019, o CFP considera-a como “mais provável”.

Ainda assim, a entidade liderada por Nazaré da Costa Cabral lembra que, dada a revisão do Instituto Nacional de Estatística (INE) para o crescimento do PIB em 2017, 2018 e no primeiro semestre de 2019, manter-se uma previsão de crescimento para o corrente ano igual à que tinha no Programa de Estabilidade “implica que esse cenário ou era demasiado otimista na altura da sua elaboração ou o abrandamento da economia agora estimado para 2019 é mais forte do que o anteriormente esperado pelo Ministério das Finanças”.