A secretária dos Assuntos Exteriores e da União Europeia do Governo catalão, Mireia Borrel, tem uma explicação bipartida para o desencontro do presidente espanhol em funções, Pedro Sánchez, e o presidente da Generalitat, Quim Torra: o governo de Espanha não tem o que oferecer à Catalunha e o PSOE está em período eleitoral.

“A primeira razão é um problema de fundo. Não há um projeto para quem recusa o status quo, mas não quer a independência. Não há um partido que ofereça um meio-termo”, declarou numa conferência de imprensa em Lisboa, continuando: “A segunda razão é eleitoralismo. Se Pedro Sánchez fez bem as contas, e acho que as fez, percebeu que estar contra a Catalunha dá votos”.

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O ataque ao presidente espanhol veio aliado a um pedido-crítica. “O nosso mantra é diálogo, diálogo diálogo“, disse, deixando a ressalva de que o Junts per Catalunya quer um referendo, mas está aberto a outras soluções: “Que venham propostas. Queremos ideias do governo espanhol. Nós não podemos fazer todas as propostas, se não isto é um monólogo em vez de um diálogo”.

Para chegar a esse diálogo, Mireia Borrel já só vê um caminho. Diz que é preciso intervenção internacional, até porque o mundo “não pode ficar em silêncio” quando há um “retrocesso democrático perigoso em Espanha, em que se estão a questionar as liberdades de manifestação e de reunião”.

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Admite que a mensagem da Comissão Europeia sobre o bloqueio do website do Tsunami Democràtic não foi uma condenação ao estado Espanhol, mas diz que tem de existir um problema para a União Europeia dar atenção ao tema.

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Numa semana de protestos, 199 pessoas foram detidas, 236 polícias e centenas de civis ficaram feridos. Os prejuízos, só em Barcelona, ascendem a 2,5 milhões de euros. A secretária dos Assuntos Exteriores e da União Europeia do Governo catalão, questionada sobre o que estava nas letras pequenas destes números, respondeu exaltada: “Não condeno a violência em minúsculas. Fui muito clara. O presidente da Generalitat foi muito claro. Condenamos a violência totalmente. Não podemos brincar com isto. Condenamos a violência em maiúsculas, a negrito e sublinhado“.

As recentes manifestações independentistas em Espanha cresceram com a condenação dos políticos que organizaram o referendo de 2016 na Catalunha. Na linha da posição independentista, Mireia Borrel fala em “presos políticos”, numa “vingança” do governo de Espanha, mas diz desconhecer a hipótese de os presos serem libertados durante o dia, indo à prisão só para dormir.

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A certeza que Mireia Borrel repetiu aos jornalistas portugueses e espanhóis reunidos nas sala Malagata do Hotel Gat Rossio foi de que não há quebras entre os independentistas, mesmo quando se fala na queda do governo de coligação da Esquerda Republica da Catalunha e do Junts per Catalunya. “Fala-se em divisões quanto o que temos é diversidade no movimento independentista, que se reflete nos partidos.  Mas a questão é fifty-fifty, 48% [contra] para 44% [a favor] da independência”.

A política catalã referia dados do Centro de Estudos de Opinião da Generalitat, mas o mesmo estudo revela que, quando a pergunta não é binária (um sim ou não à independência), os apoios fragmentam-se. Só 34,5% dos catalães quer a independência, enquanto 24,5% prefere ser um Estado dentro de uma Espanha federal. 7,8% procura maior integração com o resto do país, enquanto 27% diz que basta manter a autonomia da Catalunha.

Confrontada com o resto dos números, que diz “conhecer bem”, Mireia Borrel volta à proposta original: “Tudo depende da pergunta que fazemos, por isso é que precisamos de um novo referendo“.