“Mas ela antes era muito boa aluna”. Foi esta frase dita pelas suas duas avós, quando a apresentavam às amigas, que Beatriz Costa nunca mais esqueceu. Natural de Coimbra, estava a estudar design de comunicação na Faculdade de Belas Artes no Porto.
“Inicialmente fiquei só chateada, mas depois falei com a minha mãe, que é professora de escultura, e ela disse-me para desvalorizar. Não consegui habituar-me àquilo, sé é a vida que vou ter, não posso simplesmente deixar que as pessoas achem que os artistas não são bons alunos ou que não se esforçam”, começa por dizer em entrevista ao Observador.
A sua reação foi tão forte que deu frutos. “A raiva em mim é uma coisa muito criativa, quando a sinto tento sempre criar algo com ela.” E assim foi. Durante o curso, Beatriz descobriu a ilustração, onde assina como “biakosta”, e em Erasmus, na Cracóvia, aprendeu animação, serigrafia e desenho narrativo, “uma mistura entre a ilustração e o design”. É entre entre estas duas disciplinas que a jovem de 22 anos se move.
Desde pequena que gosta de escrever, tanto a realidade que vive como coisas ficcionais, e graças ao gosto pelo desenho a banda desenhada começou a fazer mais sentido. No projeto de final da licenciatura, Beatriz fez um livro onde juntou a escrita e o desenho como forma de mostrar a realidade de quem, como ela, escolheu o design e a criatividade como forma de vida.
“Queria passar um dia com elas, assistir às aulas, à forma como trabalhavam, conhecer que tipo de ferramentas e possibilidades têm, no fundo, se sentiam o mesmo que eu.”
Durante três meses desenvolveu um estudo antropológico com registo jornalístico e diarístico, onde entrevistou alunos em escolas de design em Lisboa, Coimbra, Aveiro e Caldas da Rainha, e perguntou-lhes, por exemplo, porque escolheram esta área, se a família teve influência nessa opção e o que gostavam de fazer no futuro. Apesar de ter obtido uma amostra pequena, conseguiu chegar a algumas conclusões.
“Penso que a nossa geração é muito otimista. Não temos grandes expectativas, é difícil encontrar trabalho e há sempre a possibilidade de emigrar, mas acho que as pessoas se mantêm otimistas e com muitas opções em aberto”.
Entre o otimismo, também houve espaço para críticas, no que diz respeito a uma necessidade de especialização na área, e reflexões do que poderá ser o design no futuro. “Há uma consciência de que o design tem o poder de educar. É uma disciplina que precisar de outras disciplinas, é super adaptável e está sempre a mudar, consoante a tecnologia e as necessidades da própria sociedade.”
Entre as entrevistas, Beatriz desenhava a banda-desenhada a grafite, numa autêntica viagem de investigação, onde o seu olhar crítico e analítico sobre o contexto do ensino do design em Portugal está bem presente.
Uma angariação de fundos para o livro chegar às prateleiras
Depois de conseguir um 18 na nota no projeto final, a intenção de Beatriz Costa não ficou por ali. “Queria fazer chegar o livro chegar ao maior número de pessoas possível.” No verão criou uma campanha de crowdfunding que terminou no início de outubro, onde angariou mais de dois mil euros para conseguir imprimir 250 exemplares.
O lançamento do livro “Nova Geração de Designers” acontece este sábado, pelas 16h, na galeria Senhora Presidenta, na zona do Bonfim, no Porto, onde também se poderá conhecer um trabalho paralelo de animação da autora. “Chama-se ‘Perguntas a Designers’ e foi uma entrevista curta e engraçada sobre design que fiz a alguns colegas. Gravei as suas vozes e depois animei-os, num estilo de desenho semelhante ao do livro.”
O livro estará disponível por 16€ na galeria Senhora Presidenta, no Bonfim, na Livraria Dr. Kartoon, em Coimbra, e online, através das suas redes sociais. No futuro, a designer gostava de tirar o mestrado fora do país, continuar a explorar a ilustração e ainda escrever outro livro, “seja em formato físico ou divulgá-lo através da internet”.