A jornalista e até aqui diretora-adjunta de informação da TVI e TVI24, Judite Sousa, anunciou esta quarta-feira que vai abandonar a estação. A decisão foi comunicada através da conta oficial de Judite Sousa no Instagram. Ao Observador, revelou não poder adiantar muito mais sobre a saída, mas garantiu estar “muita tranquila nesta nova fase” da sua vida. E acrescentou:

A iniciativa foi minha, como sempre desejei que acontecesse nas diferentes etapas da minha vida: ser eu a decidir o meu próprio destino. Era uma decisão que vinha a ponderar desde o início do ano, que começou a ser tratada pelas partes há cerca de três meses e que foi concluída esta quarta-feira com a assinatura de um acordo amigável e consensualizado entre mim e a TVI”, apontou.

Relativamente ao seu futuro, Judite Sousa adiantou: “Tenho muitos projetos profissionais em vista, mas neste momento a minha vida está em aberto. Aquilo que quero fazer nos próximos dias é descansar.

“Foram oito anos” de “paixão pelo jornalismo”

No comunicado publicado esta quarta-feira no Instagram, a antiga diretora-adjunta de informação da estação tinha referido: “Depois de uma longa e serena ponderação, decidi terminar a minha relação profissional com a TVI. Foram oito anos que me permitiram, em total liberdade, vivenciar a paixão pelo jornalismo com sentido de dever e responsabilidade ao serviço de uma empresa privada. Este é o momento para expressar gratidão a todos os meus companheiros de trabalho das diferentes áreas da empresa”.

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Admitindo que os últimos anos “foram particularmente difíceis”, Judite Sousa agradeceu “sinais de conforto” que recebeu da estação. Também agradeceu a José Alberto Carvalho, “que me desafiou para esta viagem, com amizade, em 2011”. Os dois jornalistas foram contratados à RTP pela TVI depois da saída de José Eduardo Moniz e de Manuela Moura Guedes.

A antiga diretora-adjunta de informação da estação também agradeceu a Sérgio Figueiredo, diretor de informação, “as oportunidades profissionais” que lhe concedeu nos últimos quatro anos “e que a ajudaram a ultrapassar “momentos mais difíceis da minha [sua] existência”.

Finalmente, uma palavra aos espetadores da TVI cujo carinho e apoio nunca me faltaram”, acrescente por último.

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Judite de Sousa já não apresentava telejornais há algumas semanas. O anúncio da sua saída da estação de Queluz surge no momento em que a Cofina aguarda as autorizações do regulador para fechar a compra da Media Capital, dona da TVI. Após o anúncio deste negócio chegaram a sair notícias, no jornal Sol, de que a Cofina teria interesse em afastar alguns pesos pesados da TVI como Judite de Sousa e José Alberto de Carvalho, informação que foi desmentida pelo grupo dono do Correio da Manhã.

Contactado pelo Observador, o diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, não quis fazer comentários à saída de Judite Sousa, que era um dos quadros superiores e mais bem pagos da estação.

TVI diz que Judite Sousa saiu “por vontade sua”

Judite Sousa saiu “por vontade sua”. A informação é corroborada pela TVI, num comunicado enviado aos jornalistas. Num texto em que informa que a “até à data a Diretora-adjunta de Informação da TVI e da TVI24, jornalista e apresentadora de programas de informação, deixará de ter um vínculo contratual com a estação”, a estação refere:

Por vontade sua, e depois de um longo percurso em que a Jornalista dedicou a vida profissional à informação e ao sector, de forma isenta e profissional e com o inequívoco reconhecimento dos espectadores e dos portugueses pelo mundo fora, as partes chegaram a acordo relativamente ao término deste vínculo profissional.

O comunicado acrescenta ainda que a saída foi decidida por “comum acordo” e após Judite Sousa ter, “em inteira liberdade e consciência”, demonstrado “vontade em terminar este ciclo da sua carreira”.

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José Rodrigues dos Santos: “Feliz será a televisão que a conseguir contratar”

José Rodrigues dos Santos, jornalista e apresentador de programas de informação da RTP, trabalhou de perto com Judite Sousa no canal público e já reagiu à saída da antiga diretora-adjunta de informação da TVI e TVI24. Contactado pelo Observador, disse: “Esta notícia significa que uma profissional muito competente e altamente qualificada está pelos vistos disponível no mercado de trabalho. Feliz será a televisão que a conseguir contratar”.

Quem também já comentou a notícia foi Manuela Moura Guedes, que antecedeu Judite Sousa no cargo de diretora-adjunta de informação da TVI. Começou por dizer: “Este anúncio não me surpreende muito, porque a Judite está afastada há algum tempo do ecrã, provavelmente por desgaste. As pessoas tomam decisões sobre a sua vida profissional porque já não lhes interessa continuar nas mesmas funções, porque estão desgostosas, por uma impossibilidade ou porque aparece alguma coisa nova que as seduz. Há várias situações possíveis”.

Não sei se a Judite tem algum convite, não tenho informação sobre isso, mas sei que nos últimos tempos não terá tido um ambiente como gostaria – não tanto na redação, mas na estação. Nos últimos meses houve mudanças na empresa e isso coincidiu com o progressivo afastamento dela do ecrã. Se a anunciada venda da TVI pode ter influenciado esta decisão, não sei”, apontou Manuela Moura Guedes.

Lembrando que a profissional que agora sai da TVI “tem um lugar de grande destaque no jornalismo português”, Manuela Moura Guedes elogiou ainda Judite Sousa por ter sido sempre “muito dedicada, esforçada e empenhada. Acompanhei de perto o início da carreira dela, quando estava na RTP, e sei o que ela lutou. Fez de tudo em jornalismo, a apresentação surgiu mais tarde. Como a RTP era a única estação de televisão, num país em que a televisão tem tido um papel tão importante na vida dos portugueses, é natural que ela tenha alcançado grande notoriedade. Ela fez por isso e mereceu-o. Consigo fazer uma apreciação profissional, separando-a das características pessoais. Fomos muito próximas, hoje não tanto, mas continuamos a falar”.

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A RTP, a TVI, os livros e quem a queria “tramar” na estação

Judite Sousa começou a trabalhar como jornalista na RTP, tendo ascendido posteriormente ao cargo de diretora-adjunta de informação do canal público, no qual trabalhou durante a maior parte do seu percurso profissional em jornalismo. Em 2011, quando já tinha saído da direção de informação da RTP, anunciou a mudança para a TVI, onde ficou com o cargo de diretora-adjunta de informação. Apresentava ainda regularmente o Jornal das 8.

Paralelamente, Judite Sousa cobriu para a estação de Queluz de Baixo, enquanto grande repórter, acontecimentos como as últimas eleições presidenciais no Brasil, os incêndios em Pedrógão Grande e as últimas presidenciais francesas (vencidas por Macron). Escreveu ainda livros como Álvaro, Eugénio e Ana — sobre o histórico líder do PCP Álvaro Cunhal, a sua irmã Eugénia e a sua filha Ana —, Segredos — histórias dos bastidores da política portuguesa contadas por comentadores e antigos intervenientes políticos —, Duas ou Três Coisas Sobre Mim e ainda Político Esfaqueado ou é Morto ou é Eleito, este último a propósito da eleição de Jair Bolsonaro no Brasil.

Em novembro, depois de ter sido exibida na estação uma discussão da antiga diretora-adjunta de informação da TVI com um repórter de imagem — encontravam-se ambos em reportagem no Brasil —, Judite Sousa chegou a afirmar no seu Facebook estar “preocupada com quem me quer tramar na TVI”. E acrescentou: “Isso agora vai ter que ser descoberto. Custe o que custar. A mim e à empresa que me contratou em 2011”. O episódio aconteceu cerca de dois meses antes de Judite Sousa ter começado a ponderar a saída da estação, segundo revelou agora ao Observador.

(Em atualização)