El bloqueo continua. À quarta eleição em quatro anos, os espanhóis continuam a não ter uma solução clara para desbloquear o impasse político que impede o país de ter um Governo estável. Depois das eleições de 28 de abril deste ano, o líder socialista e primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, não conseguiu assegurar um acordo de Governo com o líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias, e o país foi agora de novo a votos — para deixar de novo Espanha sem uma maioria clara, que seria atingida com uma soma de 176 deputados.
Sánchez convocou as novas eleições convencido de que sairia reforçado e pronto a governar de maneira confortável: mesmo sem maioria absoluta, teria mais deputados do que qualquer outro bloco e conseguiria ver a sua investidura aprovada; ao mesmo tempo, o Unidas Podemos perderia votos e deixaria de ser fundamental para uma coligação, podendo o PSOE governar sozinho buscando acordos pontuais à esquerda (em matérias sociais teria o apoio do Podemos) e à direita (em questões económicas ou, sobretudo, no tema Catalunha).
Sánchez faz apelo a todos os partidos para desbloquear Espanha
Mas a estratégia correu mal para o líder socialista. O PSOE voltou, é certo, a ser o partido mais votado, mas perdeu três deputados relativamente a abril — e tem hoje a vida muito mais difícil no processo de formação de governo. Também o Unidas Podemos, de Pablo Iglesias, desceu face ao último ato eleitoral, perdendo sete assentos no Congresso dos Deputados. A maior queda foi, porém, à direita, com o Ciudadanos a ter um resultado desastroso, passando de 57 deputados eleitos em abril para apenas 10 agora. Em sentido inverso, o PP de Pablo Casado cresceu de 66 deputados para 87. E o Vox, de extrema-direita, registou a maior subida da noite, passando de 24 para 52 membros do parlamento.
[As reações dos líderes políticos aos resultados eleitorais ]
Falhando a maioria absoluta, Pedro Sánchez precisa de se lançar novamente às negociações para tentar formar um Governo. No discurso desta noite, Sánchez assumiu o seu “empenho” na formação de um “governo progressista liderado pelo Partido Socialista”.
Mas o cenário não é fácil: virando-se para o bloco das esquerdas — Unidas Podemos e Más País, que já na noite de domingo se mostraram disponíveis —, não consegue reunir deputados suficientes para alcançar os 176 deputados, metade dos 350 que compõem o Congresso dos Deputados. Só juntando-se também aos partidos independentistas e regionais é que tal será possível. Por outro lado, o bloco da direita, sendo inferior ao da esquerda, também não chega para formar uma maioria de 176 deputados. A única solução direta do ponto de vista matemático seria um bloco central entre o PSOE e o PP.
Solução à esquerda: impossível
A solução mais óbvia, que seria à esquerda, falha logo na matemática. Somando os 120 deputados do PSOE aos 35 do Unidas Podemos e aos três do Más País, o bloco das esquerdas fica com 158 deputados, a 18 de alcançar metade dos lugares do congresso.
No discurso de reação aos resultados esta noite, o líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias, considerou que “a única maneira de travar a extrema-direita em Espanha é com um governo que tenha estabilidade parlamentar suficiente” e sublinhou que a formação de um governo de coligação — que era em abril “uma oportunidade histórica” — é hoje “uma necessidade histórica”.
E estendeu novamente a mão a Sánchez, de forma clara: quer negociar e quer fazer parte do Governo. “Estamos dispostos a negociar já a partir de amanhã um governo de coligação, em que cada força política esteja representada exclusivamente na proporção dos votos e apoios eleitorais que teve”.
Também o líder do Más País, Íñigo Errejón, se mostrou disponível e comprometido com a negociação. “Temos de assumir a responsabilidade de formar um governo progressista e evitar terceiras eleições”, afirmou.
O que é certo é que, apenas com estas duas forças políticas, não vai ser possível chegar à maioria. Sánchez vai precisar de explorar outras possibilidades.
Solução à esquerda com independentistas: possível, mas difícil
Do ponto de vista matemático, se Pedro Sánchez conseguir a proeza de juntar aos apoios do Unidas Podemos e do Más País os deputados eleitos pelos outros oito partidos que se identificam com a área política da esquerda, incluindo os partidos independentistas da Catalunha e do País Basco, é possível alcançar uma confortável maioria de 197 deputados.
Porém, se no caso anterior há possibilidade de convergência mas não há números, aqui há números mas a convergência é difícil ao ponto de se considerar uma solução praticamente impossível. As duas forças políticas mais significativas neste grupo de partidos independentistas de que Sánchez precisaria são a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), com 13 lugares, e o Juntos pela Catalunha (a coligação formada por Carles Puigdemont, a viver na Bélgica), com 8 deputados.
Para perceber as dificuldades deste cenário, basta recuar ao debate da semana passada, o único entre os cinco principais candidatos, em que Pedro Sánchez anunciou medidas contra o independentismo catalão, como a criminalização de “referendos ilegais como o da Catalunha”, e assumiu até o compromisso de trazer Carles Puigdemont de volta a Espanha para “prestar contas à justiça espanhola”.
Porém, quando Pablo Casado insistiu com Sánchez para que assumisse se ia ou não coligar-se com os independentistas, o líder socialista não se quis comprometer e fugiu à pergunta. Com posições destas relativamente ao independentismo catalão, fica difícil para Sánchez assegurar um apoio daqueles partidos.
Bloco central: possível
A única solução para assegurar uma verdadeira maioria parlamentar parece ser a criação de um bloco central entre o PSOE e o PP. Juntos, os dois maiores partidos somam 208 deputados. Em teoria, seria difícil: com o PSOE no poder, o PP assumiria naturalmente o seu lugar na oposição; e os socialistas tenderiam, também naturalmente, a apontar o seu olhar mais para a esquerda do que para o PP. Porém, a excecionalidade da situação espanhola pode levar a uma solução drástica para desbloquear o impasse político. Convocar um terceiro ato eleitoral desde a moção de censura a Mariano Rajoy é improvável — mesmo sabendo, como comenta o El País, que “nada é impossível na nova política espanhola” — e dificilmente seria aceite pelos eleitores. E o líder do PP, Pablo Casado, não fechou a porta uma eventual negociação — “exigente” — com os socialistas.
Afirmando o PP como “uma alternativa às esquerdas”, Casado sublinhou que o seu partido é “do centro” e afirmou que Pedro Sánchez “perdeu o seu referendo”, sendo “o grande derrotado” da noite. Ainda assim, assumiu que é Sánchez que “tem a bola do seu lado”. E garantiu que “Espanha não pode continuar bloqueada” — com o PP a ter um papel nesse desbloqueio.
Da parte de Pedro Sánchez, também não se pode dizer que a porta esteja fechada. Parece certo que o líder socialista não recusa falar com o PP, depois de ter feito um apelo “a todos os partidos políticos” para ajudar no desbloqueio do impasse político, excepto àqueles que “se centram no discurso de ódio”.
Alternativa à direita: impossível
Uma outra alternativa, em tese, seria um bloco de direita, com o PP e o Ciudadanos a juntarem-se ao Vox e também ao Navarra + e à coligação que elegeu dois deputados nas Canárias. Mas, muito devido ao desastre eleitoral do Ciudadanos, os partidos de direita — mesmo que se juntassem todos — não conseguiriam alcançar os 176 deputados necessários para a maioria. Isto apesar de o Vox ter acabado por ser um dos maiores vencedores da noite, mais do que duplicando a sua representação parlamentar.