894kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Espanha. PSOE e Podemos chegam a pré-acordo; Iglesias será vice de Sánchez

Este artigo tem mais de 5 anos

Pedro Sánchez e Pablo Iglesias chegaram a um pré-acordo para formarem um governo de coligação em Espanha. Os pormenores só serão divulgados depois da investidura.

Pedro Sánchez e Pablo Iglesias durante uma conferência de imprensa, na manhã desta terça-feira, em Madrid
i

Pedro Sánchez e Pablo Iglesias durante uma conferência de imprensa, na manhã desta terça-feira, em Madrid

Getty Images

Pedro Sánchez e Pablo Iglesias durante uma conferência de imprensa, na manhã desta terça-feira, em Madrid

Getty Images

Durou tanto tempo que até ganhou um nome próprio: el bloqueo. Desde a moção de censura contra o governo de Mariano Rajoy aprovada em junho do ano passado, Espanha teve de ir a votos duas vezes para que o líder socialista, Pedro Sánchez, conseguisse chegar a um acordo que lhe permite agora, e pela primeira vez, governar o país em plenas funções. O que foi impossível após as eleições de abril deste ano está agora prestes a concretizar-se: o PSOE e o Podemos, de Pablo Iglesias, chegaram a um pré-acordo para formarem um governo de coligação em que Iglesias será mesmo vice-primeiro-ministro.

Os vencedores e os vencidos da noite em que o bloqueio não desapareceu

A subida de Iglesias ao segundo lugar do governo é uma cedência considerável da parte de Pedro Sánchez. Após as eleições de abril, o líder socialista procurou sempre negociar uma solução semelhante à que aconteceu em Portugal em 2015 e assegurar o apoio parlamentar do Podemos, não pretendendo a entrada de ministros do partido de Iglesias no governo — ao passo que o Podemos insistiu sempre num governo de coligação. Este desentendimento (ainda que, no final, o PSOE ainda tenha oferecido algumas pastas, mas nenhuma das mais importantes, que o Podemos queria) acabaria mesmo por levar ao colapso das negociações e à convocação de um novo ato eleitoral para o último domingo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O que é certo é que a eleição acabaria por não correr bem para nenhum dos dois potenciais parceiros de acordo: o PSOE perdeu três deputados e o Unidas Podemos perdeu sete. Agora, juntos, os dois partidos somam 155 deputados — o que não é suficiente para chegar à metade do parlamento (176 dos 350). Ou seja, a viabilização deste acordo vai depender de uma aritmética politicamente muito incerta, como assinala o jornal espanhol El País. Em abril, as duas forças políticas somaram 165 assentos — e, embora continuassem a depender de outros apoios, teriam tido a vida mais facilitada caso tivessem apresentado este acordo ao parlamento.

Calculadora de coligações. Como se pode desbloquear Espanha?

Agora, explica o El País, é provável que a estes 155 deputados se juntem os sete eleitos pelo PNV (Partido Nacionalista Basco) e os três eleitos pelo Más País (formado por Iñigo Errejon, que saiu do Podemos em rutura com Pablo Iglesias). Ainda assim, estes 165 não chegam para fazer aprovar a investidura do governo de coligação. Nem sequer a abstenção dos dez deputados do Ciudadanos (um dos grandes derrotados da noite eleitoral, que perdeu 47 deputados) serão suficientes. Seria preciso que partidos como a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) ou o Bildu (partido independentista do País Basco) se abstenham. Para garantir a abstenção dos 13 deputados da ERC será agora fundamental conhecer os detalhes do acordo relativamente à situação da Catalunha.

“A melhor vacina contra a extrema-direita”, diz Iglesias

Foi ao início da tarde desta terça-feira que, em Madrid, Pedro Sánchez e Pablo Iglesias apareceram em público, perante os jornalistas, para apresentar o primeiro documento com vista ao entendimento entre os dois partidos. A imprensa espanhola revela que as negociações entre Podemos e PSOE arrancaram na noite de segunda-feira, com um encontro discreto entre os dois líderes. Depois desse encontro, só agora tornado público, foram as segundas figuras dos partidos que continuaram o processo negocial. Da parte do PSOE, a vice-secretária-geral Adriana Lastra; do lado do Podemos, a dirigente Irene Montero.

O acordo, consumado com um abraço entre os dois líderes partidários

Getty Images

Na tarde desta terça-feira, Iglesias e Sánchez repetiram perante os jornalistas a ideia que ambos já tinham defendido na noite eleitoral: formar um governo progressista. Iglesias — que no domingo já tinha afirmado que “a única maneira de travar a extrema-direita em Espanha é com um governo que tenha estabilidade parlamentar suficiente” e se tinha mostrado disponível para negociar “já a partir de amanhã um governo de coligação” — sublinhou agora que o pré-acordo alcançado permite chegar a um “governo de coligação progressista” que será a “melhor vacina contra a extrema-direita”.

“Quero agradecer a Pedro Sánchez por querer trabalhar connosco”, acrescentou o líder do Unidas Podemos (coligação que inclui o Podemos, a Izquierda Unida e os ecologistas do Equo), oferecendo a sua “lealdade” num momento que encerrou mais de seis meses durante os quais Pedro Sánchez resistiu sempre à ideia de acolher Iglesias no executivo. Forçado, pelos maus resultados eleitorais, a fazer agora o acordo que não quis fazer após abril, Sánchez afirmou que este será “um governo categoricamente progressista para toda a legislatura”.

Claro que, agora, faltam os apoios parlamentares a este acordo. Os vários partidos do sistema político espanhol têm-se pronunciado sobre a forma como se vão posicionar. O presidente do PP, Pablo Casado, já reagiu ao acordo afirmando que “um governo radical é a última coisa de que Espanha precisa”. “Não seremos participantes num governo a que ele [Sánchez] chama de progressista, ou seja, de esquerda radical e em conluio com a Generalitat da Catalunha que está instalada na ilegalidade. Vamos viver de acordo com as circunstâncias”, afirmou durante uma conferência de imprensa na sede do Partido Popular.

Para Casado, esta é “a notícia que muitos espanhóis temiam”. “É importante que Sánchez se vá embora”, continuou, considerando que “é a ele a quem a opinião pública deve exigir que saia do labirinto em que se meteu”. “O nosso projeto é incompatível com o programa de Sánchez”, assegurou, acrescentando que o líder do PSOE “escolheu” o lado que quis. “A nós nem nos telefonou. Diz agora que vai telefonar. É evidente que fecha a porta, com estrondo, a qualquer colaboração com o PP”, afirmou.

Também o Ciudadanos, através da porta-voz do partido no Congresso, Inés Arrimadas, se posicionou contra este acordo e apelou a um governo de bloco central entre o PSOE, o PP e o próprio Ciudadanos (que teve uma acentuada derrota eleitoral que levou à demissão do líder, Albert Rivera). “Ainda estamos a tempo de que Sánchez retifique. Num momento como este, apelamos à responsabilidade do PSOE e do PP para chegar a um acordo moderado e constitucionalista com o Ciudadanos, baseado em acordos de Estado bons para o nosso país. Pelo bem de Espanha”, escreveu Arrimadas no Twitter.

Santiago Abascal, líder do partido de extrema-direita Vox, também já se pronunciou contra o acordo, criticando os socialistas por se juntarem ao Podemos, partido que defende a realização de um referendo na Catalunha sobre a possibilidade de independência da comunidade autónoma. No Twitter, Abascal escreveu que com este acordo “o PSOE abraça o comunismo bolivariano, os aliados de um golpe de Estado, a meio de um golpe de Estado”. “Vamos responsabilizá-los por cada dano que causem à convivência e à ordem constitucional”, acrescentou o líder do Vox.

“Diálogo” com a Catalunha, chave para aprovação do acordo

O documento do pré-acordo, tornado público pelos dois partidos, contém dez pontos de entendimento prévio entre PSOE e Podemos que vão orientar as negociações para um programa de governo. Especialmente importante é o ponto 9, sobre a situação na Catalunha, que será essencial para garantir a aprovação do acordo no parlamento. É que, feitas as contas, sem a abstenção dos grupos independentistas catalães, o mais provável é que o documento acabe chumbado no Congresso dos Deputados.

No documento, os dois partidos comprometem-se a “garantir a convivência na Catalunha” e destacam a necessidade de “diálogo”. Se Pedro Sánchez, no debate que antecedeu a eleição, tinha sido duro na forma como prometeu trazer Carles Puigdemont de volta a Espanha para “prestar contas à justiça espanhola” e criminalizar “referendos ilegais como o da Catalunha”, a posição do Podemos a favor de um referendo poderá contribuir para que o acordo seja menos explícito nesse capítulo, deixando margem para a abstenção dos independentistas — em especial dos 13 deputados da ERC.

O pré-acordo pode ser um primeiro passo nesse sentido. “Garantir a convivência na Catalunha: o Governo de Espanha terá como prioridade garantir a convivência na Catalunha e a normalização da vida política. Com esse fim, fomentar-se-á o diálogo na Catalunha, procurando fórmulas de entendimento e encontro, sempre dentro da Constituição. Também se fortalecerá o Estado das autonomias para assegurar a prestação adequada dos direitos e serviços da sua competência. Garantiremos a igualdade entre todos os espanhóis”, lê-se no pré-acordo.

Para já, a ERC diz que não está de acordo com o que foi apresentado — mas uma decisão definitiva só será tomada depois das negociações. A porta-voz da ERC, Marta Vilalta, falou à imprensa espanhola esta tarde e insistiu que é preciso “sentar-se, falar e negociar”. A posição do acordo PSOE-Podemos sobre a forma de diálogo com a Catalunha será fundamental para definir o voto da ERC. “A nossa proposta é muito clara: exigimos o reconhecimento de um conflito político. É muito simples, é muito claro”, afirmou Marta Vilalta.

“Queremos reconhecer que este conflito político requer uma solução democrática e política, que se tem de basear e sentar-se, falar e negociar. Acreditamos que é muito simples e têm de o fazer se querem algo de nós”, disse a porta-voz da ERC, sublinhando que, para já, o partido vota não. “Agora mesmo, a nossa resposta é um não. Agora mesmo, é um não ao que nos apresentaram. Se não se movem neste sentido, não há nada a fazer.”

Quem deverá votar a favor será o PNV, Partido Nacionalista Basco, que, através do porta-voz Aitor Esteban, classificou o acordo como “necessário”. Porém, o representante do PNV lamentou que o acordo não tenha sido alcançado antes, em abril, dando espaço à realização de umas eleições em que acabaria por ser evidente o crescimento da extrema-direita (o Vox duplicou a sua representação parlamentar, passando de 24 para 52 deputados).

“Já vínhamos a pedir desde há muito tempo porque era necessário, antes e também agora, para formar uma maioria. O que lamentamos é que tenham tido de passar meses, que os dois partidos tenham perdido 1,5 milhões de votos e a maioria no Senado, e que o Vox tenha aparecido com muita força no Congresso. Lamentamos que tenha de ter acontecido tudo isto para que tenha havido um acordo”, afirmou Esteban.

O conflito independentista na Catalunha será um ponto-chave nas negociações para a aprovação do acordo alcançado por Sánchez e Iglesias

MARTA PEREZ/EPA

O acordo Sánchez-Iglesias pode assim contar com os sete deputados do PNV, com os três do Más País, com os dois da Coligação Canárias e com o deputado único do BNG (da Galiza). Este conjunto de 168 deputados terá, assim, de ser complementado com a abstenção da ERC e do Bildu (do País Basco) para que o acordo possa ser aprovado. Segundo a imprensa espanhola, os dois partidos já estabeleceram contactos durante a tarde desta terça-feira do modo e ambos exigem sentar-se e negociar com Sánchez e Iglesias de modo a poderem incluir no programa do governo algumas das suas reivindicações independentistas — só isso levará ambos os partidos a absterem-se na votação.

Crescimento, luta contra a corrupção e alterações climáticas

Do acordo constam os “eixos prioritários de atuação do governo progressista de coligação”, embora os detalhes do programa só se devam conhecer mais tarde. Por agora, conhecem-se os princípios orientadores de “uma negociação encaminhada para completar a estrutura e funcionamento do novo governo, que se vai reger pelos princípios da coesão, lealdade e solidariedade governamental”.

Entre as principais prioridades, contam-se a consolidação do crescimento económico e o combate à precariedade laboral com a criação de emprego; a luta contra as alterações climáticas; a proteção das pequenas e médias empresas; a legislação relativa à eutanásia e a aprovação de “políticas feministas”. Também a luta contra a corrupção ocupa um ponto central no documento, que sublinha a necessidade de “proteger os serviços públicos” e direitos fundamentais com o sistema de saúde, o sistema de pensões, o direito à habitação e a recuperação do “talento emigrado”.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.