Duas pessoas morreram, na ilha Pellestrina, uma das línguas de areia que separa a cidade de Veneza do oceano, na sequência das inundações que têm afetado a zona. As bombas para proteger as casas explodiram e a ilha ainda está completamente inundada, avançou o La Repubblica. Umas das pessoas é um idoso que terá morrido eletrocutado quando a água entrou na casa e provocou um curto-circuito enquanto outro homem foi encontrado morto em casa, embora se suspeite que tenha morrido de causas naturais.
Na conferência de imprensa dada o início da tarde, o presidente da câmara Luigi Brugnaro classificou a situação atual em Veneza como “uma tragédia”. “Uma tragédia que só vamos perceber completamente quando chegarem as contas. Temos que começar do zero, encontrando soluções e permanecendo unidos”, afirmou destacando o plano que foi desenhado depois da subida das águas em outubro de 2018: “Revelaram-se todos extraordinários também graças ao novo protocolo do emergência que foi desenvolvido há um ano quando a água ficou 20 centímetros mais abaixo. São 20 centímetros que fazem a diferença e se traduzem neste drama”.
[Veneza. As imagens das piores inundações na cidade desde 1966:]
A marca da água atingiu 1,87 metros na terça-feira às 22h40 (hora local, menos uma em Portugal), o que significa que mais de 85% da cidade foi inundada. O nível mais alto registado até agora foi de 1,98 metros durante as inundações em 1966.
Na terça-feira, grande parte de Veneza estava submersa e a famosa Basílica de São Marcos estava inundada, levantando novas preocupações sobre os danos aos mosaicos e outras obras de arte que estão no seu interior.
Luigi Brugnaro, o presidente da Câmara, pediu a rápida conclusão de um projeto que está atrasado para a construção de barreiras exteriores. Chamadas de “Moisés”, as barreiras móveis submarinas destinam-se a limitar as inundações na cidade, causadas por ventos de sul que empurram a maré para Veneza. No entanto, o polémico projeto tem a oposição dos ambientalistas que estão preocupados com os danos no ecossistema da lagoa. O projeto foi adiado devido aos custos excessivos e escândalos de corrupção.
A chuva intensa tem caído desde terça-feira em Itália, afetando em particular as regiões da Sicília, Calábria e Basilicata e Veneza, que se confrontou também com uma acqua alta (maré alta) excecional.
Sarà una lunga notte. L'acqua alta inizia a scendere. La paura di qualche ora fa ora lascia spazio alla conta dei primi danni. Una marea a 187 cm è una ferita che lascia segni indelebili. Adesso il governo deve ascoltare #Venezia pic.twitter.com/bRIxKwm8vn
— Luigi Brugnaro (@LuigiBrugnaro) November 12, 2019
Em Veneza, a célebre praça de São Marcos está submersa devido também à maré alta, situação que se prevê que dure até sábado. O vestíbulo da basílica de São Marcos, joia da cidade, também foi inundado e o seu procurador (autoridade local), Pierpaolo Campostrini, preveniu os turnos de guarda para vigiarem a subida da água.
#Venezia è in ginocchio. La Basilica di San Marco ha subito gravi danni come l’intera città e le isole.
Siamo qui con il Patriarca Moraglia per portare il nostro sostegno ma c’è bisogno dell’aiuto di tutti per superare queste giornate che ci stanno mettendo a dura prova. pic.twitter.com/3Qy7070hZn— Luigi Brugnaro (@LuigiBrugnaro) November 13, 2019
Segundo Campostrini, uma inundação como a de terça-feira ocorreu apenas cinco vezes na história da basílica — erigida em 828 e reconstruída depois de um incêndio em 1063 —, com o dado mais preocupante de três destas cinco situações terem ocorrido nos últimos 20 anos, com a última a verificar-se em 2018.
Primeiro-ministro italiano foi a Veneza
Giuseppe Conte foi a Veneza ainda esta quarta-feira para ver os danos que as fortes chuvas e subida do nível das águas provocaram na cidade. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro italiano ao final da manhã, no Twitter.
Questo pomeriggio sarò a #Venezia, duramente colpita dal maltempo. Voglio vedere da vicino i danni e rendermi conto della situazione. Con @DPCgov massima attenzione anche alle altre regioni.
— Giuseppe Conte (@GiuseppeConteIT) November 13, 2019
A contribuir para os danos em Veneza, além da chuva e da consequente subida das águas estiveram também as rajadas de vento que se fizeram sentir essencialmente na última noite. O secretário de Estado do Ministério do Interior Achille Variati fala em “danos incalculáveis”. “A situação em Vezena é dramática. Contam-se vítimas, danos incalculáveis. Acabei de falar ao telefone com Luigi Brugnaro e com o governador Luca Zaia, colocando-me inteiramente à disposição. Não só pelo que posso fazer a partir do Ministério do Interior , mas também pela experiência que vivi enquanto presidente da câmara. A terrível inundação de 2010 em Vicenza, quando tivemos que reconstruir uma cidade invadida por água e lama”, afirmou Achille Variati.
Durante a última noite, os bombeiros responderam a dezenas de ocorrências relacionadas com incêndios, resultantes de curto-circuitos provocados pela entrada das águas nos edifícios da cidade. Na manhã desta quarta-feira estava previsto que o nível das águas atingisse o 1,60 metros, mas cerca das 10h00 — o pico mais alto registado no dia de hoje — ficou um pouco abaixo, nos 1,44 metros.
“Acqua Alta”. Altura máxima da subida das águas em Veneza
Este é o segundo ano consecutivo em que Veneza é afetada por uma grande subida das águas — acqua alta (maré alta) — que causam graves danos na cidade, embora ainda longe dos níveis desta noite, os registos ultrapassaram o metro e meio, até aos 1,56metros no final do mês de outubro de 2018. Níveis atingidos na noite desta quarta-feira aproximam-se de máximo histórico de 1,94 metros.
- 4 de novembro de 1966 — 1,94 metros
- 22 de dezembro de 1979 – 1,66 metros
- 1 de fevereiro de 1986 – 1,58 metros
- 1 de dezembro de 2008 – 1,56 metros
- 28 de outubro de 2018 – 1,56 metros
12 de novembro de 2019 – 1,87 metros
(Artigo atualizado em 14 de novembro, às 7h16)