Já lá vai o tempo em que os conflitos criados entre diferentes clubes por transferências tinham unicamente que ver com jogadores. Nos últimos anos, o caráter identitário de cada treinador, cada vez mais personalizado, cada vez mais único, tem tornado atrativo o mercado que gira à volta dos bancos de suplentes. De repente, quando um técnico fica livre e, por consequência, um clube fica sem treinador, a dança das cadeiras apressa-se a começar e os rumores de quem vai para onde e de quem fica onde não demoram a chegar.
Na Premier League, depois de na temporada passada a saída de José Mourinho do Manchester United ter sido o grande destaque no que a este capítulo diz respeito, a ida do mesmo Mourinho para o Tottenham esta época voltou a ser a primeira grande história do ano no futebol inglês. Pouco tempo depois, e de forma expectável, o Arsenal decidiu despedir Unai Emery. E o Everton tomou a mesma decisão logo de seguida em relação a Marco Silva. Ora, Mourinho, Emery e Silva estão intrinsecamente ligados em todo este processo — assim como o Tottenham, o Arsenal e o Everton. Mas a novela não termina sem que entre em campo o Manchester City e um treinador que não é Pep Guardiola.
Comecemos pelo princípio. José Mourinho era, desde o início da temporada e desde que começou a ser visível que Unai Emery não ia ficar muito tempo em Londres, o nome preferido da Direção do Arsenal para substituir o espanhol. O Tottenham antecipou-se, despediu Pochettino primeiro e também convenceu Mourinho primeiro: de repente, o Arsenal estava confrontado com a inevitabilidade de rescindir com Emery mas não tinha um nome claro para atacar no dia seguinte. Nuno Espírito Santo esteve dentro das possibilidades, Brendan Rodgers renovou com o Leicester pouco depois da primeira abordagem informal dos gunners e Pochettino só está aberto a propostas no verão.
No meio de tudo isto, e enquanto Ljungberg assumiu o comando interino da equipa, o Everton despediu Marco Silva e ficou sem treinador — assim como o Nápoles, que dispensou Carlo Ancelotti por incompatibilidades com a cúpula do clube e depois de o veterano italiano ter garantido a presença da equipa nos oitavos da Liga dos Campeões. Ancelotti, que tem três Champions no currículo mas só uma experiência na Premier League (no Chelsea, de 2009 a 2011), tornou-se rapidamente um alvo prioritário para o Arsenal. Mas também para o Everton. E, pelo menos pelo italiano, a Direção dos gunners não estava disposta a abrir uma guerra com outro clube. Por isso virou-se para uma opção que parece cada vez mais definitiva mas que vai, essa sim, beliscar a relação com outro dos big six ingleses.
Mikel Arteta, antigo jogador do Arsenal e atual adjunto de Guardiola no Manchester City, é a grande aposta do Arsenal para suceder a Unai Emery e já reuniu mesmo com Vinai Venkatesham, CEO do clube, e Huss Fahmy, advogado da Direção. Os dois elementos do cérebro do Arsenal foram vistos a entrar na casa de Arteta no domingo à noite e a BBC garante que esta já foi uma segunda reunião entre o adjunto espanhol e os dois executivos. Uma terceira, desta feita com Josh Kroenke (filho de Stan Kroenke, o dono do clube), deve estar iminente e a confirmação de Mikel Arteta como novo treinador do Arsenal pode estar presa por dias.
O Manchester City, porém, não está satisfeito com a forma como o Arsenal conduziu as negociações. Os dois clubes jogaram um contra o outro precisamente no domingo — o City ganhou por 0-3 — e a cúpula dos citizens defende que os dirigentes londrinos deveriam ter abordado o assunto no Emirates, de forma oficial e institucional, aproveitando o facto de ambas as Direções estarem reunidas no mesmo espaço. Assim sendo, e tendo claro que não vai colocar quaisquer entraves à saída de Arteta, o Manchester City não vai abdicar de exigir uma compensação superior a um milhão de libras pela transferência do adjunto a meio da temporada.
De rumor passou a certeza, de certeza passou a confirmação: Marco Silva despedido do Everton
O fim mais provável para a história é que Mikel Arteta, que representou o Arsenal durante cinco temporadas de 2011 a 2016 e chegou a ser capitão de equipa, regresse mesmo a Londres para assumir o comando técnico dos gunners. O espanhol, que terminou a carreira precisamente em 2016 e no Arsenal, é adjunto de Guardiola há três anos e já tinha sido uma das opções em cima da mesa aquando da saída de Arsène Wenger, no ano passado, mas o clube acabou por preferir Unai Emery. Agora, a dança das cadeiras dita que Arteta vai para o Arsenal e que Ancelotti vai para o Everton — e que, pelo menos por agora, Emery e Silva ficam de pé.