Para 2020, a Comissão Europeia vai impor a todos os fabricantes que limitem o valor médio das emissões de dióxido de carbono (CO2) das suas gamas a apenas 95 gramas, valor que depois pode ser alvo de pequenas correcções consoante o tipo de veículos que cada marca (ou grupo) produz, sobretudo relativas ao peso. No caso da Mercedes, o limite deverá ser ligeiramente superior a 95g, mas tanto quanto conseguimos apurar, não muito mais do que 100g de CO2/km.

O construtor alemão, que atravessa um espectacular momento em termos de vendas e resultados comerciais, em parte graças ao sucesso do Classe A, vai ter de realizar um esforço considerável para cumprir esta exigência. Cada grama a mais implica uma multa de 95€ multiplicado pelo total de veículos vendidos, o que, para a Daimler, representa um número em torno dos 3,4 milhões de unidades (comercializadas em 2018). Quer isto dizer que se o grupo alemão falhar o limite por uns míseros 10g, vai ter de enviar para Bruxelas um cheque de 3,2 mil milhões de euros. E como o valor médio das emissões da Daimler está nos 138g de CO2, os alemães têm de realizar um esforço adicional para evitar desembolsar 13,9 mil milhões de euros.

São várias as estratégias a que a Mercedes vai recorrer para reduzir o valor médio da gama de CO2. Primeiro, conta com cada vez mais híbridos plug-in, solução tecnológica à qual são permitidas algumas facilidades pelo legislador, considerando apenas as emissões nos primeiros 100 km, partindo do princípio que a bateria está “cheia” no momento do arranque. Outra solução será a adopção de eléctricos a bateria, opção mais eficaz para reduzir as emissões, mas com que a marca alemã não pode contar em abundância, dado ter apenas disponível (pelo menos para já) o EQC, o SUV que partilha a base com o GLC.

Assim sendo, resta à Mercedes cortar nas vendas dos seus modelos mais poluentes, quase todos a exibir o emblema AMG, sinónimo de mais potência e, necessariamente, maiores consumos e emissões. Segundo o Financial Times, citando fontes não identificadas da marca, espera-se que os responsáveis alemães reduzam até 75% dos modelos Mercedes-AMG. Os equipados com o motor 4.0 V8 biturbo deverão ser as maiores vítimas, mas também alguns 3.0 de seis cilindros podem estar em perigo. Mas estas opções podem ser dramáticas para o lucro, uma vez que as versões mais possantes da AMG são igualmente aquelas que deverão assegurar uma maior fatia de lucro por unidade.

Uma das alternativas para evitar este corte radical na produção da AMG é avançar com a troca do motor 4.0 V8 pelo 2.0 de quatro cilindros, devidamente apoiado por um ou dois motores eléctricos das versões híbridas plug-in (PHEV). Esta unidade 2.0 já atinge 421 cv no mais recente Classe A AMG e facilmente podia dar o salto para 500 ou 600 cv com recurso a motores eléctricos. Durante algum tempo, é claro, pois a pequena bateria dos PHEV não permite grandes aventuras. Nem reproduzir o ruído rouco do V8 biturbo.

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