“Que isto sirva de AVISO: se o Irão atingir quaisquer americanos, ou bens americanos, temos na mira 52 locais iranianos (simbolizando os 52 reféns americanos mantidos pelo Irão há muito tempo), alguns a um alto nível de importância para o Irão e para a cultura iraniana, e esses alvos, e o próprio Irão, VÃO SER ATINGIDOS MUITO RAPIDAMENTE E COM MUITA FORÇA. Os EUA não querem mais ameaças!”

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A ameaça foi feita por Donald Trump há três dias via Twitter e perante o eco de protestos e as tomadas de posição dentro da sua própria administração, o presidente americano teve de recuar, mas a contra-gosto, porque quer cumprir a lei.

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“De acordo com várias leis, devemos ser muito cuidadosos com a herança cultural deles. E sabem que mais? Se é isso que a lei determina eu quero cumprir. Mas pensem bem. Eles matam as nossas pessoas, eles mandam as nossas pessoas pelos ares e nós temos de ser muito cuidadosos com as instituições culturais deles. Mas eu fico bem com isso”.

Palavras apaziguadoras ditas por Donalt Trump esta terça-feira, mas que voltaram a deixar no ar ameaças.

“Se o Irão fizer alguma coisa que não devia estar a fazer, vai sofrer as consequências”.

[Ataque contra os EUA “ainda não foi suficiente”, diz o líder do Irão]

Fazer do património cultural do Irão, país que viu nascer um dos impérios mais antigos do mundo — o persa — um alvo para potencial destruição neste conflito vai ao arrepio das convenções internacionais. O que significa que, a materializar-se, e de acordo com os acordos assinados em Haia e em Genebra, os Estados Unidos estarão a cometer um crime de guerra — de forma não apenas deliberada mas anunciada previamente ao mundo.

Depois da indignação internacional — coroada pela intervenção da diretora da Human Rights Watch em Washington, que rogou a Trump para que “revertesse publicamente as suas ameaças” e ao Departamento de Defesa para que “reafirmasse o seu compromisso de respeitar as leis da guerra” —, Mark Esper demarcou-se publicamente do presidente esta segunda-feira.

Na mesma conferência de imprensa em que tentou explicar a confusão da carta enviada por engano ao Iraque, a dar conta da retirada das tropas americanas do território, o secretário da Defesa reconheceu que atacar património cultural iraniano constituiria um crime de guerra. E garantiu: “Vamos seguir as leis dos conflitos armados”.

Indiferente a toda a polémica — ou imune a ela —, o presidente dos Estados Unidos reiterou as ameaças contra o património cultural iraniano, que inclui vários locais classificados pela Unesco, como as ruínas de Persépolis ou a cidadela de Bam, este domingo, a bordo do Air Force One, em conversa com jornalistas. “Eles podem matar o nosso povo, podem torturar e mutilar o nosso povo, podem usar bombas de beira de estrada e explodir o nosso povo, e nós não podemos tocar nos locais culturais deles? Não é assim que funciona”.

Já esta terça-feira e perante milhares de pessoas reunidas na cidade de Kerman, antes do funeral do general Qassem Soleimani, morto esta sexta-feira em Bagdade, o líder da Guarda Revolucionária do Irão, Hossein Salami, respondeu na mesma moeda. “Vamos vingar-nos; uma vingança que vai ser dura, forte, decisiva, determinante e que vai fazer com se arrependam”, começou Salami. “Vamos incendiar o lugar de que eles gostam, e eles sabem onde fica”, concretizou depois, sendo acolhido por gritos de “Morte a Israel!”, descreve o New York Times, a partir da reportagem da agência estatal iraniana, Fars.