Foi, decididamente, um dos temas mais quentes da semana e continua sem um desfecho à vista. Em matéria de Megxit, até já Isabel II percebeu que é urgente encerrar o caso. Meghan e Harry querem recuar face às suas obrigações reais, decisão que comunicaram ao mundo na passada quarta-feira, mas que certamente terá levado meses a planear. Para a família real britânica, o golpe parece ter sido o anúncio e não a intenção de afastamento. Nos corredores de Buckingham, os intenções dos Sussex eram já minimamente conhecidas. Fora deles, o desconsolo de viver no seio do clã Windsor também já tinha tido o seu tempo de antena no documentário da ITV.

Sem paciência para esperar mais tempo — mesmo depois de a rainha o ter pedido –, o casal fez aquilo a que se chama chutar o pau da barraca. Meghan, entretanto, já foi andando (de volta para  o Canadá), juntando-se ao filho Archie, de oito meses. Em terras de sua majestade permanece Harry, à espera que lhe atendam ao pedido. Aos 93 anos, é Isabel II quem trabalha na resposta à crise, rodeada dos quatro gabinetes que apoiam a realeza — Buckingham, Clarence House, Kensington e Sussex.

Máscaras de papel com as caras de Meghan e Harry © Beata Zawrzel/NurPhoto via Getty Images

Olhando para o 2019 dos Sussex, é fácil perceber que a retirada exigiu meses de preparação. Dentro da família real britânica, Meghan nunca soube o que é ser um peixe na água, dos pequenos atropelos no protocolo à suposta rivalidade que foi crescendo com Kate Middleton, sem esquecer o anuncio da gravidez em cheio no casamento da prima Eugenie. Depois, claro, a relação difícil com a imprensa que, em outubro de 2019, ganhou contornos judiciais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para Patrick Jephson, antigo secretário da princesa Diana, a decisão é o culminar de uma escalada alucinante em que “a vaidade triunfa sobre o dever”. Da vitimização face ao assédio da imprensa às bandeiras sociais e ambientais constantemente hasteadas, apesar de curta, a história do casal está repleta de percalços barulhentos, ou seja, tudo aquilo que qualquer membro da família real deve, a todo o custo, evitar e contornar.

Assessores a postos

Sete semanas e uma espécie de retiro real no Canadá. Em novembro, os Sussex refugiaram-se numa mansão milionária na ilha de Vancouver, depois de uma tour pelo continente africano que há-de ter tido o seu quê de desgastante. Do outro lado do Atlântico, a estadia prolongou-se até ao início do ano. Dia de Ação de Graças, Natal e Ano Novo — ninguém deu por Harry, Meghan e Archie durante a época festiva. No fundo, os três estiveram a gozar daquilo a que chamamos sopas e descanso, sem compromissos chatos e longe das objetivas dos tabloides.

Mas o que parecia um saneamento de fim de ano era, na verdade, um preâmbulo do que o casal tinha já em mente como projeto de vida a curto prazo. A mudança era pensada há meses, segundo escreve a correspondente real do Daily Mail, Rebecca English. Entre os amigos e assessores que fizeram parte deste processo de planeamento esteve Keleigh Thomas Morgan, da Sunshine Sachs, empresa de gestão de crise sediada em Hollywood, o advogado Rick Genow, o gestor Andrew Meyer e o agente Nick Collins.

Meghan e Harry, novembro de 2019 © Samir Hussein/WireImage

Em março, os planos de mudança já estariam em marcha. Sussex Royal, a nova página oficial do casal lançada esta semana, foi registada nessa altura. A sua conceção ficou a cargo da Article, empresa sediada em Toronto e que já havia sido responsável por construir o blogue de Meghan Markle, The Tig.

“Eles passaram sete semanas nesta espécie de vácuo, a pensar, a planear e a afinar esta decisão final. Isto já estava para acontecer em muitos sentidos, mas a conclusão a que chegaram veio assustadoramente rápido”, indicou uma fonte ao Daily Mail. Segundo outras fontes ouvidas pelo jornal em solo britânico, os Sussex ter-se-ão rodeado de amigos com a mesma linha de pensamento e objetivos e, ao mesmo tempo, posicionado estrategicamente longe dos conselheiros do Palácio de Buckingham. No Canadá, a promessa seria de autonomia e de descomprometimento para com a agenda da família real britânica.

Em setembro do ano passado, quatro meses depois do nascimento de Archie, Meghan viajou até Nova Iorque para assistir ao US Open. O casal viajou depois para o continente africano com a duquesa e o bebé a fixarem-se na África do Sul enquanto Harry visitou outros países.

O telefonema de Natal

O próprio Natal dos Windsor, época do ano em que a rainha reúne a família em Sandrigham, foi sintomático do fosso criado entre os Sussex e a restante família. Terá sido a própria rainha a ligar para a Frogmore Cottage no início de novembro, numa tentativa de apurar se Harry, Meghan e Archie passariam o Natal com o resto da família. Um momento foi excecional — normalmente, Isabel II não telefona, apenas recebe telefonemas. Mas as circunstâncias assim o exigiram.

Carlos, William, Kate, Meghan e Harry a caminho da missa de Natal, em Sandrigham, dezembro de 2018 © Joe Giddens/PA Images via Getty Images

“Harry, vens com a família para Sandrigham para o Natal?”, terá indagado a monarca. Mas a rainha teve de esperar dois dias para obter uma resposta. O trio passaria as festas na América do Norte e, de repente, a equipa dos Sussex tinha uma tarefa hercúlea pela frente — arranjar acomodações dignas de uma parelha de duques e do seu rebento. Por sua vez, a rainha reservou a Harry o direito de comunicar publicamente a decisão de passar o Natal do outro lado do Atlântico.

Esta distorção de conto natalício foi na verdade a confirmação de que a distância entre os Sussex e o resto da família já estava mais que traçada. No seu discurso de Natal (onde não houve nenhuma fotografia de Harry, Meghan ou Archie), Isabel II falou de união, porém toda a comunicação feita pelas duas partes foi perfeitamente isolada. Meghan e Harry veicularam os seus próprios votos através do Instagram e até publicaram um vídeo de retrospetiva, no último dia no ano, ao som de Coldplay. No Reino Unido, a rainha juntou a sua linha de sucessão — Carlos, William e George — numa fotografia oficial na Sala do Trono do Palácio de Buckingham.

Uma entrada a pés juntos

A teoria de que o comunicado de quarta-feira não surpreendeu o núcleo duro da família real britânica é defendida por alguns especialistas. Alguns defendem que, há cerca de uma semana, Harry terá dado a conhecer as intenções do casal aos membros mais velhos do clã Windsor, pelo telefone. “A resposta foi ‘OK’. Mas volta, vamos sentar-nos e falar sobre isto”, relatou uma das fontes à publicação britânica.

O canal do diálogo estava aberto e desimpedido entre os Sussex e o resto da família. Na passada segunda-feira, o casal voou para Londres e, no dia seguinte, marcou presença num evento oficial. Um dia depois, quarta-feira, a urgência (ou impaciência) de Harry e Meghan ditaria a publicação do comunicado oficial no Instagram, quando o delicado assunto já estaria a ser digerido no seio da família. Terá sido neste contexto que Isabel II terá pedido a Harry que adiasse a divulgação do comunicado. Claramente, o pedido da monarca foi ignorado.

Meghan e Harry ao lado da rainha em Buckingham © Max Mumby/Indigo/Getty Images

Em Frogmore Cottage, a residência dos Sussex em Windsor, os funcionários do gabinete terão sido informados da decisão do na segunda-feira à noite. Segundo relata o Daily Mail, estes terão apelado para que o casal não a tornasse pública de forma precipitada. “A equipa de Harry e Meghan fez de tudo para impedir que o comunicado viesse cá para fora”, referiu uma fonte. “Foi dito ao casal que não só seria extremamente desrespeitador para a família, mas também um tiro no pé para eles próprios. Foram avisados que, ao optarem por dizer publicamente que queriam trabalhar e ser financeiramente independentes, várias das opções que tinham deixariam de estar em cima da mesa”, acrescentou a fonte ouvida pelo Daily Mail.

Os duques terão ignorado todos os conselhos e tomado a decisão de publicar o comunicado no final do dia de quarta-feira, o que teve o efeito de uma pequena bomba, com os chefes dos gabinetes reais, já a caminho de casa, a dar meia volta e a voltar para os escritórios. Um destes funcionários revelou ter sido requisitado para duas reuniões via telefone em simultâneo, situação que geriu com um telefone de cada lado.

“Toda a gente acha que os Sussex foram extremamente desrespeitosos. Emitiram um comunicado onde dizem que estão a colaborar com a rainha. Quem é que diz isto? Vocês não estão em pé de igualdade com a rainha, toda a gente na família sabe o seu lugar… à exceção deles, pelos vistos”, referiu outra das fontes.