O secretário de Estado para a Área Hospitalar angolano, Leonardo Inocêncio, assegurou esta terça-feira que “nenhum bolseiro angolano” na China foi contaminado pelo novo coronavírus, referindo que as autoridades “estão preocupadas” e “acompanham diariamente” a evolução da situação.

[O coronavírus] é uma preocupação grande por parte do Governo em proteger os cidadãos que estão dentro, como os nossos bolseiros a nível da China. Neste momento não existe nenhum caso entre os nossos estudantes na China e que também é uma preocupação do embaixador da China em Angola que hoje terá uma reunião com a ministra da Saúde”, afirmou hoje, em conferência de imprensa, quando questionado pela Lusa.

Segundo o governante, que fazia alusão às preocupações de bolseiros angolanos na China publicadas pelas redes sociais, “diariamente a embaixada de Angola na China emite um boletim sobre o estado de saúde dos estudantes angolanos” e que “nenhum foi contaminado”. Sem avançar o número de bolseiros angolanos na China, Leonardo Inocêncio adiantou que a questão será igualmente um dos pontos em abordagem no encontro desta terça-feira entre a ministra da Saúde angolana, Sílvia Lutucuta, e o embaixador chinês em Angola, Gong Tao. Na ocasião, o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Angola, Javier Aramburu, referiu que a situação “ainda é uma emergência global”, considerando que a vigilância ao coronavírus deve ser contínua.

Estudantes angolanos na China, cujo número se estima ser superior a 200, reclamaram da falta de apoio da embaixada de Angola no país asiático, que enfrenta uma epidemia causada pelo novo coronavírus, desde o final do ano passado, em Wuhan. As preocupações dos estudantes começaram a ser divulgadas através de vídeos nas redes sociais, focando a falta de alimentos, de produtos higiénicos, nomeadamente máscaras, bem como a possibilidade de retirada essencialmente da cidade de Wuhan, capital da província de Hubei (centro), o epicentro da epidemia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em declarações est terça-feira à agência Lusa, o estudante angolano Luís Leite, na cidade de Quanzhou (sudeste, a cerca de mil quilómetros), disse que a embaixada contactou os estudantes pedindo que acatassem os conselhos das autoridades chinesas em relação ao vírus, mas não passou disso. “É um passo”, disse Luís Leite, porque “pelo menos ouviu a aflição dos estudantes”, mas é necessário agir.

De palavras nós estamos fartos, nós queremos atos, porque estamos a ver amigos de outros países com as suas embaixadas a reagirem, e a nossa não”, referiu.

Segundo o estudante do curso de engenharia eletrónica e telecomunicações, a preocupação maior prende-se com a proteção contra a doença. “Comida não é o mais essencial, a nossa proteção é a maior preocupação. Precisamos de materiais de higiene, como máscaras, lixívia, sabão”, salientou.

O estudante contou que vive na escola e foram fechadas as portas: “Ninguém entra e ninguém sai”, estando em quarentena. “[Se] aqui, onde o vírus não afetou significativamente, está assim, imagine-se como é que estão os nossos colegas em Wuhan”, desabafou.

O Governo angolano anunciou esta terça-feira que foram rastreados, na segunda-feira, 1.630 passageiros – 728 estrangeiros e 902 angolanos -, e “não há qualquer registo no país de um caso suspeito” do novo coronavírus, garantindo “reforço da vigilância epidemiológica”.

A informação foi transmitida esta terça-feira, em conferência de imprensa, pelo diretor nacional de Saúde Pública angolano em exercício, Eusébio Manuel, referindo que entre as ações de vigilância está a instalação de medidas de biossegurança nos pontos de entrada. “Nos aeroportos, portos, paragens de autocarro e fronteiras continuam a ser reforçadas medidas de vigilância epidemiológica”, afirmou o responsável, adiantando que decorrem ações de informação, educação e comunicação nos meios de informação sobre o vírus.

Angola, mesmo sem qualquer registo, tem em funcionamento centros-sentinela, em hospitais nacionais e provinciais para gestão de casos, com “envio diário de orientações técnicas” às províncias e unidades sanitárias. Segundo Eusébio Manuel, uma comissão interministerial elabora, já em fase final, um Plano de Contingência, sendo que todos os dias são elaborados relatórios para atualização da situação epidemiológica do país.

Além do território continental da China, também foram reportados casos de infeção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, França, Alemanha, Austrália e Canadá.

As autoridades chinesas admitiram que a capacidade de propagação do vírus se reforçou. As pessoas infetadas podem transmitir a doença durante o período de incubação, que demora entre um dia e duas semanas, sem que o vírus seja detetado.

O Governo chinês decidiu prolongar o período de férias do Ano Novo Lunar, que deveria terminar na quinta-feira, para tentar limitar a movimentação da população.