Colocar os trabalhadores em regime de teletrabalho é uma das principais medidas adotadas por empresas nacionais e serviços públicos para enfrentar o Covid-19, como está inscrito no Plano Nacional de Preparação e Resposta à Doença pelo novo Coronavírus, divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) na segunda-feira. O documento já prevê que as “empresas se preparem para a possibilidade de parte (ou a totalidade) dos seus trabalhadores não ir trabalhar devido a doença, suspensão de transportes públicos, encerramento de escolas, entre outras situações”.

A EDP, por exemplo, antecipou-se ao cenário provável e colocou metade dos colaboradores em regime de trabalho remoto desde quarta-feira, 11 de março, de forma a “prevenir qualquer potencial risco de contágio”. Ao Observador, confirma que a medida (inscrita no plano de contingência que foi delineado para combater o Covid-19) não vai colocar em causa o normal funcionamento da atividade da empresa. Isto porque as equipas dispõem de “sistemas e ferramentas tecnológicas preparadas para garantir o trabalho à distância sem perturbações”. Neste caso, o trabalho administrativo.

Mas e se a “perturbação” for na rede de distribuição de energia ou uma avaria na iluminação pública, a resolução do problema está assegurada? E nas próximas semanas, quem ligar para a linha de apoio ao cliente porque não tem luz em casa, é imediatamente atendido? A EDP responde sem hesitações: “Não há risco de falhar a manutenção. Os serviços que necessitam de uma presença física estão acautelados”. Pelo menos, por agora.

A mesma resposta é transmitida ao Observador pela Águas de Portugal. Por escrito, a empresa confirma que está preparada, quer no âmbito dos planos de contingência para o Covid-19, quer nos planos operacionais e de emergência, “para gerir os riscos e as contingências inerentes a este tipo de situação, de forma a garantir o abastecimento de água de forma segura e fiável”. No caso dos serviços que requerem a presença física no local de trabalho, a Águas de Portugal assume que estão identificados os trabalhadores habituais e os substitutos por forma a garantir que “não há interrupção de abastecimento de água às populações que abastecemos diretamente” (e que correspondem a cerca de 20% da população de Portugal continental).

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“Primeiro é a corrida aos supermercados, a seguir é a corrida às bombas de gasolina”. Na refinaria da Galp, em Sines, a produção está por enquanto assegurada.

Combustíveis. “É preciso evitar o pânico”

Na refinaria da Galp, em Sines, o plano de contingência da empresa para enfrentar o novo coronavírus também já foi acionado. Parte dos colaboradores dos setores administrativos está em regime de trabalho remoto. Mas a opção não se coloca nas áreas operacionais da refinaria. “Para já, está tudo a funcionar normalmente”, relata ao Observador um dos trabalhadores. Por ser uma das atividades desenvolvidas pela empresa que não pode parar – o que colocaria em causa o fornecimento de combustível – a infeção de um ou mais colaboradores terá de ser evitada a todo o custo. “O facto do trabalho já ser realizado numa área restrita permite controlar o risco de contágio. E se surgir algum problema, teremos de fazer horas extraordinárias para manter a produção”. Certo é que a “máquina” não pode parar. Isso seria o caos. “Depois da corrida aos supermercados, arrancava a corrida às bombas de gasolina. E é preciso evitar o pânico”, relata ao Observador, numa tentativa de desdramatizar a situação, já que o país tem reservas de combustíveis para 90 dias. E isso é tempo suficiente para a “refinaria parar e depois recarregar, se chegarmos a isso”.

Contactada pelo Observador, fonte oficial da Galp confirmou que “além das medidas que garantem o regular funcionamento de infraestruturas críticas para o País” – onde se inclui a rede de postos e áreas de serviço – a Galp quis dar resposta às necessidades dos consumidores e empresa e já tem em curso um “plano de reforço dos stocks das lojas”.

Em relação ao teletrabalho, a Galp antecipou-se às medidas que constam no Plano de Contigência da DGS e aos poucos começou a instituir esse regime que, atualmente, conta já com mais de metade dos colaboradores de instalações não industriais a trabalhar em isolamento através de ferramentas tecnológicas que “permitem assegurar o normal funcionamento das atividades da empresa”.

Telecomunicações. “Manutenção da rede não é posta em causa”

Também o setor das telecomunicações já adotou o trabalho remoto como principal medida na defesa dos seus colaboradores. Em comunicado, a Altice indica que não identificou qualquer caso de contágio na empresa mas intensificou o seu plano de contingência com a “implementação de teletrabalho para grávidas e doentes oncológicos ativos”. O problema, tal como se coloca na EDP, poderá estar na falta de colaboradores para responder aos problemas técnicos que surgem diariamente – que podem ser simples, como uma avaria numa box, ou complexos, como a gestão da rede Siresp (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal). Na impossibilidade de se atender às mais diversas solicitações, a Altice vai dar prioridade às “situações urgentes” e despistar as restantes através do call center.

O Siresp, por exemplo, tem agora a equipa dividida por duas zonas, uma na sede, em Picoas, e a outra, em Linda-a-Velha. “Separar a equipa técnica foi para assegurar que os riscos de contágio são minimizados e a manutenção da rede não é posta em causa”, conta ao Observador fonte da comissão de trabalhadores. Também os quase mil técnicos da MEO têm sido alertados para tomarem precauções em caso de deslocações às residências dos clientes (como por exemplo, utilizar álcool para desinfetar as mãos e equipamentos) mas é possível que estes serviços venham a ser reduzidos ou eliminados com o evoluir da situação. Asseguradas vão ficar sempre as “funções core” (redes básicas de segurança e as das grandes empresas).

Bancos pedem para se “privilegiar o uso dos canais digitais e telefónicos”

Reforçar a higienização das agências bancárias e aumentar o número de colaboradores a exercer funções à distância foi a solução encontrada pelo sector bancário para responder ao Covid-19, segundo comunicado da Associação Portuguesa de Bancos (APB). O plano de contingência para o setor apela, ainda, a uma mudança de hábitos dos clientes, que devem evitar a ida aos balcões e privilegiar os pagamentos com cartões, de preferência contactless, ou através de meios digitais. Esta recomendação aplica-se, em especial, aos clientes idosos ou pessoas com doenças crónicas. A entidade que representa os bancos portugueses frisa ainda que as “operações do dia-a-dia como transferências bancárias, pagamento de serviços ou carregamentos de telemóveis poderão ser executadas através do Homebanking ou App do banco, bem como das máquinas de Self-Service instaladas nas agências ou da rede de ATMs”.

Deverão ser privilegiados os pagamentos com cartão (se possível contactless) ou através de meios digitais. .

Transportes. Plano pode ser “revisto a qualquer momento”

Tal como acontece em outras empresas, os planos de continuidade de negócio do setor bancário vão sendo reavaliados tendo em conta as “especificidades da Covid-19”  e de forma a acomodarem-se à “incerteza científica quanto às características deste vírus”, segundo a DGS. Neste cenário de imprevisibilidade, os transportes públicos estão no topo das prioridades. E por agora, de acordo com as informações obtidas pelo Observador, a suspensão dos serviços não está em cima da mesa.

No caso da Carris, o plano de contingência inclui um conjunto de medidas de proteção aos trabalhadores e aos clientes que pode ser “revisto a qualquer momento”. Para já, estão previstas “medidas de limpeza reforçada dos veículos”, com especial atenção às superfícies mais tocadas como os corrimãos das portas, as pegas do interior, o contorno superior dos bancos e o habitáculo do motorista. Desinfeção só em situações de caso suspeito a bordo. E só aí a Carris prevê entregar a todos os tripulantes um kit composto por máscara, lenços, toalhitas com base de álcool e luvas descartáveis.

Também o Metropolitano de Lisboa reconhece que está “preparado para dar cumprimento ao seu plano de contingência” e vai proceder à “distribuição de máscaras e de outros equipamentos adicionais de proteção pelos colaboradores que contactam com os clientes”, mas só se a DGS assim o recomendar. Para aumentar o nível de proteção aos clientes, prevê um reforço da limpeza e desinfeção das áreas de maior contacto.

Na CP – Comboios de Portugal, o plano de contingência está em vigor e define as medidas que vão assegurar o “serviço público indispensável à mobilidade”, diz empresa em resposta às questões do Observador. Nesse sentido, foi definida uma Comissão de Gestão da Pandemia com o objetivo de fazer o “acompanhamento permanente” da evolução da situação e do nível de absentismo dos colaboradores resultante da doença.

A CP assume, ainda, que já se verifica algum abrandamento da procura nos comboios, facto que deverá “acentuar-se nos próximos dias em função das recentes orientações do Governo”. Apesar de não revelar dados que confirmem essa redução, a CP admite que existem “diversos pedidos de cancelamento, revalidação ou reagendamento de viagens marcadas com antecedência para os próximos dias e semanas”. E dado o carácter excecional da situação, ajustou as condições de reembolso de bilhetes aos clientes que pretendam desistir das viagens – e que o podem fazer nas bilheteiras mediante apresentação do pedido até 3 horas antes da partida do comboio.

Em relação à higiene e limpeza, uma questão sensível  aos utentes, a CP garante que está a reforçar a desinfeção nos locais de maior concentração de pessoas, nomeadamente, bilheteiras, gabinetes de apoio aos clientes, nos espaços de transporte de passageiros (interior das composições) e nas cabines de condução, procedendo-se também à limpeza dos filtros do ar condicionado antes dos serviços.

A TAP indica que os aviões estão equipados com um sistema de reciclagem que renova totalmente o ar da cabine com alta frequência, a cada 2/3 minutos, vinte vezes numa hora

Na TAP, a limpeza e a desinfeção é, atualmente, umas das principais preocupações. Em comunicado, a transportadora revela que o plano de contingência de atuação face a doenças infecto contagiosas foi ativado em janeiro, e desde então, a empresa está em “permanente estado de alerta”. Altura em que a companhia implementou procedimentos de higiene específicos para o coronavírus. Para tranquilizar os passageiros, a TAP assegura que “os aviões estão equipados com um sistema de reciclagem que renova totalmente o ar da cabine com alta frequência, a cada 2/3 minutos, vinte vezes numa hora”. O sistema funciona por secções de 5 filas de bancos, o que garante a “renovação do ar em todas as zonas do avião, ao mesmo tempo e com a mesma qualidade”.
A explicação técnica não impediu, no entanto, uma quebra nas reservas de viagens e que já levou ao cancelamento de 3500 voos ao longo dos próximos meses.

Tribunais vão parar e atendimento ao munícipe mantém-se em funcionamento

A autarquia de Fernando Medina já comunicou que vai adotar medidas temporárias para reduzir os riscos de exposição e contágio do coronavírus. Na sequência das orientações da DGS para diminuir a evolução epidemiológica, Medina decidiu encerrar vários museus, teatros e monumentos na capital, mas também suspender todas as visitas de lazer, turismo ou de âmbito cultural. As medidas estarão em vigor até 3 de abril.
Atualmente, estão encerrados todos os museus, galerias e bibliotecas nacionais, e os teatros municipais São Luiz, LuCa e do Bairro Alto. De porta fechada ficarão também o Padrão dos Descobrimentos, o Cinema São Jorge e as piscinas municipais geridas pelo município e pelas juntas de freguesia. Os serviços de atendimento ao munícipe, assim como os parques e jardins de gestão municipal, incluindo o Castelo de São Jorge, vão manter-se abertos ao público e a funcionar normalmente.

Já os tribunais vão estar parados e só vão realizar processos e diligências urgentes, “nos quais estejam em causa direitos fundamentais”, segundo anunciou o Conselho Superior de Magistratura (CSM). Uma medida excecional que só se aplica aos tribunais de primeira instância. “O evoluir da situação nos tribunais, no que concerne aos receios de propagação e contágio por este vírus, tanto por parte dos Magistrados Judiciais, como por parte de outros intervenientes”, levaram à tomada destas medidas, segundo comunicado do CSM. O documento acrescenta ainda que “deverá ser acionado o plano de contingência específico de cada Comarca”, sempre que se mostrar necessário.