Os mercados financeiros estão em modo de pânico“, concentrando-se em “interpretações negativas dos acontecimentos e não no quadro geral”, e por isso tiveram as quebras históricas que marcaram o dia de quinta-feira. Mas numa manhã (desta sexta-feira) em que se regista alguma estabilização nas bolsas de valores internacionais, o economista Holger Schmieding, do banco de investimento Berenberg, emite uma mensagem de serenidade em que argumenta que esta pandemia não será mais do que um “choque temporário”. Embora haja algo que é uma certeza: os governos vão ter intervir em força, ou seja, como já tinha defendido o economista português Ricardo Reis, em entrevista ao Observador na terça-feira, vão ter de “abrir os cordões à bolsa”.

Em nota enviada aos clientes, esta sexta-feira, o economista do Berenberg, em Londres, assinala que os mercados financeiros aprofundaram as quedas mesmo com notícias de que os bancos centrais iriam avançar com novas injeções de liquidez no sistema financeiro – desde a Reserva Federal dos EUA até ao Banco do Japão, passando pelo Banco Central Europeu, que apresentou um conjunto de medidas cuja probabilidade de eficácia está a dividir os analistas entre aqueles que acharam que soube a pouco (demonstrando que o BCE não pode fazer muito mais) e, por outro lado, aqueles que acreditam que o BCE apresentou exatamente o pacote de medidas cirúrgicas que tinha de apresentar.

Na dúvida, e tendo em conta o enquadramento de aversão ao risco geral, os pessimismo acabou por levar a melhor e as bolsas passaram a cair ainda mais depois da conferência de imprensa de Christine Lagarde. Mas Holger Schmieding argumenta que o BCE não está, de todo, a ficar sem munições: poderá ser aumentado o ritmo de compras de dívida pública e privada, podem ser removidos alguns dos limites auto-impostos nesse programa de intervenção, pode-se aumentar ainda mais os “descontos” que vão ser dados à banca na condição de transmitir os empréstimos às pequenas e médias empresas, entre outras medidas mais inovadoras que possam surgir se a situação se agravar.

Por outro lado, já esta sexta-feira Mário Centeno, presidente do Eurogrupo, promete uma resposta “muito robusta” à crise económica, por parte do Eurogrupo, dando a entender que as regras orçamentais vão ter “flexibilidade total” e que os países da zona euro vão lançar medidas cujo valor total será “muito maior” do que os 27 mil milhões de euros que foram referidos por Lagarde na conferência de imprensa de quinta-feira.

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Apesar destas razões para otimismo, Holger Schmieding reconhece que “os mercados estão em modo de pânico”. Mas “chegará uma altura em que um número suficiente de pessoas vai chegar à conclusão de que, independentemente do gatilho inicial, a pressão de venda e a quebra nas bolsas já foi longe demais“. E, nessa altura, que é impossível de prever quando poderá acontecer, haverá condições para os mercados financeiros estabilizarem.

Tudo aquilo que podemos avaliar é se, em qualquer cenário minimamente razoável que possamos imaginar para o futuro, este enorme ajustamento dos preços dos ativos [ações, etc.] tem alguma justificação nos fundamentos económicos. A nossa opinião é que não tem“, atira Holger Schmieding.

Ainda assim, “infelizmente, vai demorar algum tempo até que se atenue a incerteza entre a trajetória da pandemia e a reação a ela”. Isto embora, na leitura que é feita pelo Berenberg Bank, “em qualquer um dos cenários hipotéticos mais extremos, a maior parte dos custos acabarão por ser suportados pelos Estados“, de uma forma ou de outra – através de apoios públicos às empresas e aos cidadãos.

“Ajudados pela política monetária extremamente expansionista [os juros ultra-baixos] os Governos terão de prestar ajudas sem precedentes às empresas, aos trabalhadores e aos consumidores para evitar o perigo de bancarrotas generalizadas, despedimentos e uma vaga de incumprimentos de crédito com risco sistémico”, diz o economista, confiante de que “mesmo usando cenários extremistas, parece ser pouco razoável antecipar um reajustamento permanente das cotações das ações a um grau como aquele que a recente quebra nas bolsas parece apontar“.

Excedente orçamental? “Governo tem é de abrir os cordões à bolsa” para proteger as pessoas do coronavírus