Os nadadores são, por circunstâncias do calendário olímpico, os primeiros grandes destaques dos Jogos por terem na parte vespertina da semana inicial as suas meias e finais. Também por isso, a pandemia global da Covid-19 que assolou o mundo encontrou neles um dos principais focos, em muitos casos (como em Portugal) face a todos os problemas a nível de treino que criou em muitos atletas com centros de alto rendimento fechados, piscinas que foram isoladas e outras facilidades que se tornaram difíceis de aceder. No entanto, e no caso de Cameron van der Burgh, ex-campeão olímpico que sabe bem a importância deste período na preparação, o dilema é mais complicado porque tem enfrentado dificuldades após ter contraído o novo coronavírus.

“Lido com o Covid-19 há 14 dias. É de longe o pior vírus que alguma vez tive de enfrentar, apesar de ser uma pessoa de boa saúde, com uns pulmões fortes (não fumo/faço desporto), que tem um estilo de vida saudável e ser jovem”, escreveu numa das mensagens escritas na conta pessoal do Twitter. “Ainda que os sintomas mais severos (febre alta) tenham diminuído, sinto uma enorme fadiga e uma tosse que não passa. Qualquer atividade física, como por exemplo caminhar, deixa-me exausto por horas”, explicou o sul-africano de 31 anos.

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Medalha de ouro nos Jogos de 2012 e de prata nos Jogos de 2016 nos 100 metros bruços, que entretanto passaram a ser dominados pelo britânico Adam Peaty, vencedor por seis vezes em Mundiais de Piscina Longa e Piscina Curta entre um total de 18 pódios, Cameron van der Burgh, um dos melhores nadadores sul-africanos de sempre, deixou ainda um alerta para todos aqueles que têm forçado o ritmo para chegarem da melhor forma aos Jogos Olímpicos – que estão cada vez mais em risco em 2020, ou pelo menos com início a 24 de julho.

“A perda de capacidade física tem sido brutal e só consigo pensar nos atletas que podem contrair a Covid-19, especialmente porque vão sofrer uma incrível perda do seu estado de forma nesta fase final. Ter esta infeção tão perto da competição é o pior possível. Os atletas vão continuar a treinar, já que não há uma decisão quanto aos Jogos, e irão continuar a expor-se a riscos desnecessários. E aqueles que eventualmente fiquem mesmo infetados vão tentar apressar a recuperação e muito provavelmente irão prejudicar a recuperação ou prolongar eventuais danos”, frisou, em mais um apelo para que os Jogos não se realizem na data marcada.

A residir em Londres há cerca de seis meses, onde trabalha como analista de mercados (a sua grande paixão e para onde virou os estudos em paralelo com a alta competição) num fundo privado, Cameron van der Burgh, que colocou um ponto final na carreira nos Mundiais de Piscina Curta de 2018 em Hangzhou onde ganhou duas medalhas de ouro (50 e 100 metros bruços), deixou ainda uma mensagem sobre o momento que o mundo está a atravessar – e que deve também ter reflexos a nível de grandes competições desportivas. “Por favor, tenham cuidado. A saúde está em primeiro lugar e a Covid-19 não é uma brincadeira”.