A nova rede de emergência alimentar, que junta várias instituições de solidariedade social, tem recebido centenas de pedidos de ajuda nos últimos dias devido aos efeitos da Covid-19, disse Isabel Jonet, presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, em entrevista à Rádio Observador. Desde sexta-feira, dia em que foi criada a rede, cerca de 950 pessoas pediram ajuda. “O que me preocupa é que isto não é para 15 dias. Receio que esta rede de emergência alimentar, que se quer tão curta quanto possível, vá ter de durar um par de meses“, defende Isabel Jonet. “Temos situações verdadeiramente desesperadas”, acrescenta.
A pandemia da Covid-19 levou a que muitas instituições de solidariedade social fechassem portas e deixassem de ajudar os mais carenciados, o que está a “deixar completamente desprotegidas muitas pessoas que habitualmente recebiam apoio alimentar”. “Acresce que, como estão em casa, muitas destas pessoas tiveram salários reduzidos e deixaram de contar com a alimentação — no caso das mulheres com filhos — que a criança consumia na instituição de solida social”.
Além disso, as medidas restritivas decretadas pelo Governo, como o encerramento de estabelecimentos ao público, deixaram muitas pessoas sem fonte de rendimento, que pedem agora ajuda para comer. “Receio que estejamos em risco de enfrentar situações de fome“, considera Isabel Jonet, acrescentando que “temos situações verdadeiramente desesperadas“. Em causa estão sobretudo pessoas com “rendimentos muito pouco estáveis, que trabalham a recibos verdes ou “de forma informal e foram dispensadas, ou a sua fonte de sustentou encerrou”. É o caso de trabalhadores de cabeleireiros ou empregadas domésticas.
“Estas pessoas vivem sem qualquer almofada de segurança. Todo o dinheiro que ganham é o que é usado para pagar contas, não há folga. Se não têm dinheiro, e se ainda por cima recebem às vezes o saco de alimentos, ficam sem nada. É uma situação muito preocupante”, defende Isabel Jonet.
A rede de emergência alimentar está em funcionamento desde a passada sexta-feira — e desde essa altura já chegaram 950 pedidos de ajuda. “As situações são, muitas vezes, muito aflitivas.”
O objetivo da rede é juntar as instituições que estão em funcionamento. “No caso das instituições que encerraram, procurámos que a própria junta de freguesia acolhesse um local onde pudessem ser entregues alimentos. Quisemos assegurar que há, em todas as freguesias, um local de entrega de comida e uma técnica que pode avaliar a real situação de carência”. Já as famílias que deixaram de ter apoio estão referenciadas pela instituições que as apoiava mas que, devido à pandemia, encerrou portas.
Isabel Jonet nota ainda que muitas pessoas têm oferecido ajuda de voluntariado. Desde terça-feira à tarde, 275 voluntários já tinham mostrado interesse. “Muitos já começaram”, adianta a presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, que garante que serão salvaguardados “todos os cuidados” de higiene e distanciamento social que impõe a Covid-19. Ainda assim, devido aos planos de contingência, os bancos alimentares “não podem acolher tantos voluntários quanto queriam”.
Há também empresas que continuam a doar produtos. As pessoas individuais também podem, a partir de casa, doar alimentar através do site alimentestaideia.pt.
Quanto aos sem-abrigo, “uma população muito difícil de ajudar”, continuam a ter apoio garantido pelas instituições. “Muitos dos sem abrigo viviam com o que os restaurantes e pastelarias lhes iam dando, e as pessoas que passavam na rua. Como há menos pessoas, os restaurantes estão fechados e muitas pastelarias têm limitações na entrada, os sem-abrigo deixaram de ter a comida que tinham durante o dia.”