Com mais de 200 mil casos e mais de 5 mil mortes, os Estados Unidos são já oficialmente o país do mundo mais afetado pela pandemia de Covid-19 — e isto ainda antes de se ter atingido o pico da epidemia no país. É para esse momento que estarão a ser guardados cerca de 10 mil ventiladores de reserva, de acordo com o que garante o Presidente Donald Trump. Mas não só esse número poderia ser superior, como aqueles ventiladores que já estão a ser utilizados muitas vezes não funcionam, de acordo com uma investigação levada a cabo pelo The New York Times.
“Temos quase 10 mil ventiladores prontos a usar. Temos de retê-los um pouco, porque o pico ainda está a caminho e vem com força. Queremos estar capazes de reagir de imediato nessa altura, por isso temo-los a postos”, explicou o Presidente no briefing diário na Casa Branca, no início da semana.
O principal problema com essa decisão é que, quanto mais tempo são guardados, maior risco há de os ventiladores estarem danificados. De acordo com o jornal, vários dos ventiladores que estavam armazenados pelo governo e que estão a ser distribuídos vieram sem bateria, sem mangueiras de oxigénio e outras limitações. O estado da Califórnia confirmou recentemente que 170 dos ventiladores que recebeu estavam danificados, o que impossibilita que estejam “a postos” para serem usados.
Também um representante da empresa Vyaire Medical, Aric Vacchiano, confirmou ao NY Times que a sua empresa tem estado a responder a pedidos de ajuda para arranjar vários dos ventiladores que produz, de modelo LTV 1200, e que faziam parte da reserva de stock federal. “Andam a pedir-nos ajuda de todos os lados”, confirmou.
Oficialmente, a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA na singla original) garante que os ventiladores estão “prontos a usar” e que os problemas registados dizem apenas respeito a problemas com as baterias.
Falta de ventiladores já se sente em Nova Iorque
Outro dos problemas relacionado com o stock nacional de ventiladores é que, segundo o Times, poderiam estar disponíveis mais 2.109 ventiladores, mas que tal não será possível porque o contrato com a empresa responsável por os assegurar não foi de imediato renovado no verão passado. A empresa garante que a culpa está no governo central: “Deram-nos ordem para pararmos de trabalhar ainda antes de começarmos”, assegurou ao jornal Tom Leonard, diretor da empresa Agiliti. “Entre a data do contrato original e a data do novo contrato, não sei quem ficou responsável por assegurar esses aparelhos, se é que ficou alguém. Mas nós não fomos de certeza.”
A falta de ventiladores é tal que os estados têm tentado todas as formas possíveis para obter mais aparelhos, muitas vezes sem sucesso. “Temos muita falta”, queixou-se o governador do Connecticut Ned Lamont à CNN na segunda-feira. “Tínhamos os nossos ventiladores prontos para vir e à última hora a FEMA decidiu antes enviá-los para um sítio que consideraram mais urgente do que o Connecticut.”
Vacchiano, da Vayre Medical, explica ao The New York Times que a necessidade de ventiladores em alguns locais é tanta que se arranjam todo o tipo de soluções: “Muitas vezes nem é claro se os ventiladores vêm do stock nacional ou se vêm de outro hospital ou de outro estado ou de outra entidade qualquer.” A sua empresa tem respondido a apelos vindos sobretudo do estado de Nova Iorque (cerca de 80%), a região mais afetada de todo o país neste momento. “Em muitos casos, sobretudo em Nova Iorque, trabalhamos a noite toda para lhes enviar o material e tentar ajudar.”