Num “tempo” que reconhece ser “cada vez mais difícil”, a rainha Isabel II falou aos britânicos. Um passo inédito — é apenas a quinta vez que o faz em 68 anos de reinado — para elogiar o seu “espírito nacional” e consolar o seu povo: “Vamos encontrar-nos outra vez”, numa referência à canção de Vera Lynn,“We’ll Meet Again”, que teve sucesso durante a Segunda Guerra Mundial.

Dias melhores virão: vamos estar com os nossos amigos novamente, vamos estar com as nossas famílias novamente, vamos encontrar-nos outra vez“, disse.

Num discurso transmitido para todo o país, pela BBC, a monarca que está prestes a completar 94 anos descreveu esta pandemia como “um tempo de perturbação da vida no nosso país: perturbação que trouxe desgosto a alguns, dificuldades financeiras a muitos e enormes mudanças às vidas quotidianas de todos nós”.

Junto combatemos esta doença e quero assegurar-vos que, se nos mantivermos unidos e firmes, iremos superá-la”, disse.

A rainha Isabel II pediu depois que os britânicos tenham “orgulho” neles próprios. “O orgulho de quem somos não faz parte do nosso passado, define o nosso presente e o nosso futuro”, considerou. “Espero que, nos próximos anos, toda a gente possa orgulhar-se forma como responderam a este desafio. E os que virão depois dirão que os britânicos desta geração foram tão fortes como quaisquer outros. E que as virtudes da autodisciplina, da determinação calma e bem humorada e do sentimento pelo próximo ainda caracterizam este país”, acrescentou.

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Reconhecendo que o isolamento possa ser “difícil”, a rainha Isabel II lembrou que “muitas pessoas de todas as religiões, e de nenhuma, estão a descobrir que [o isolamento] é uma oportunidade de desacelerar, pausar e refletir, em oração ou meditação“.

“Embora já tenhamos enfrentado desafios no passado, este é diferente. Desta vez, juntamo-nos a todas as nações do mundo num esforço comum, fazendo uso dos grandes avanços da ciência e e da nossa compaixão instintiva para curar”, disse ainda a monarca.

A monarca não deixou de deixar um agradecimento – fê-lo, aliás, logo nos primeiros minutos da transmissão – “a todos a linha da frente do Serviço Nacional de Saúde”, aos “cuidadores e aos que desempenham papéis essenciais que de forma altruísta continuam os seus deveres diários fora de casa, em apoio a todos nós”. Para a monarca, “os momentos em que o Reino Unido se uniu para aplaudir” os profissionais de saúde “serão lembrados como uma expressão do espírito nacional. “E o seu símbolo será o arco-íris desenhado pelas crianças ”, acrescenta.

Também quero agradecer a todos que estão em casa, ajudando dessa forma a proteger os vulneráveis e poupar muitas famílias à dor que já sentiram aqueles que perderam entes queridos”, acrescentou.

Fora as tradicionais mensagens de Natal, esta foi a quinta vez em 68 anos no trono que a rainha Isabel II se dirigiu aos britânicos, numa transmissão televisiva: tal só tinha acontecido em situações como a Guerra do Golfo, a morte da princesa Diana, da rainha mãe e o jubileu do próprio reinado.

Por isso, a monarca lembrou até o primeiro discurso que deu, quando era adolescente, em 1940, com a sua irmã, a princesa Margaret. “Enquanto crianças, falámos a partir daqui, em Windsor, às crianças que foram retiradas das suas casas e mandadas embora pela sua segurança”, disse, para depois acrescentar: “Hoje, mais uma vez, muitos sentirão uma sensação dolorosa de separação dos seus entes queridos. Mas agora, como então, sabemos, no fundo, que é a coisa certa a fazer”.

A rainha Isabel II (à direita) com a sua irmã, a princesa Margaret (Foto: AFP via Getty Images)

A mensagem foi gravada na Sala Branca do castelo e foram seguidas fortes medidas de segurança. Apenas um operador de câmara da BBC entrou para poder gravar e usou equipamento de proteção individual: os profissionais estavam noutra divisão.

Pela quarta vez no seu reinado, Isabel II deixará uma mensagem especial aos espectadores britânicos

Aos 93 anos e fazendo parte de um grupo de risco, a monarca deixou o Palácio de Buckingham, em Londres, para se isolar com o marido, de 98 anos, na sua propriedade em Windsor, a 50 minutos de carro da capital, a 19 de março. Nesse dia, a rainha enalteceu a capacidade do país para se unir e para “combinar esforços com o foco num objetivo comum”, naquela que foi a sua primeira mensagem oficial na sequência da pandemia. “Agora, mais do que em qualquer outro momento do nosso passado recente, temos um papel individual vital a desempenhar — hoje e nos próximos dias, semanas e meses”, escreveu a rainha.

Isabel II isola-se em Windsor. “Tenho a certeza de que estamos à altura do desafio”

Até ao momento, apenas um membro da casa real britânica está infetado com o novo coronavírus: é o seu filho, o príncipe Carlos, de 71 anos. A informação foi confirmada a 25 de março oficialmente em comunicado no site da Clarence House, a residência oficial, em Londres, de Camilla e Carlos.

De acordo com os jornais britânicos, a última vez que o herdeiro da coroa viu a mãe foi a 12 de março. A nota adiantava que o príncipe tinha sintomas ligeiros, não tendo sido possível determinar quem o teria infetado “devido ao elevado número de contactos” que tinha mantido nas últimas semanas.

A mulher de Carlos, Camila, foi testada e o resultado foi negativo. Apesar de os dois estarem na casa Birkhall, em Balmoral, na Escócia, Camila isolou-se do marido. Na passada segunda-feira, uma atualização mais recente do mesmo comunicado dá conta de que o príncipe Carlos já não estaria em isolamento, depois de ter sido visto por um médico.