O pedido é simples: uma contribuição no valor de um ordenado. Foi isso que o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga pediu a todos os padres da arquidiocese nesta Páscoa, numa mensagem enviada a todos os sacerdotes. O objetivo é reforçar um fundo criado pela diocese de Braga por altura da crise de 2010: o Fundo Partilhar com Esperança.

Na missiva, D. Jorge Ortiga é claro ao afirmar que a Igreja “não se pode ficar pelo mero exigir às pessoas”, sendo necessário que a Igreja encontre “soluções que, de um modo novo e totalmente diferente, garantam a sustentabilidade de todas as instâncias da arquidiocese”, segundo uma nota publicada no site da diocese de Braga.

O fundo, criado inicialmente para apoiar os portugueses durante a crise de 2009/2010 deverá agora ser canalizado para ajudar “pessoas com fome, desempregados”, sem esquecer os “empregados e trabalhadores dos centros sociais” que, considera D. Jorge Ortiga, poderão vir “a ter dificuldades por causa da nova situação económica”.

Numa altura em que os católicos vivem uma Páscoa diferente daquela que conhecem, recolhidos na sua grande maioria a casa e sem oportunidade de participar em comunidade nas celebrações pascais — podendo apenas acompanhar através da televisão ou internet —, D. Jorge Ortiga diz que este é também um tempo de “retirar lições” e que pode ser utilizado pelos padres para refletir “sobre a Igreja do futuro”.

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Recorde-se que a arquidiocese de Braga já tinha disponibilizado o Hotel do Lago, no Santuário do Bom Jesus, para alojar os profissionais de saúde que não desejam regressar a casa durante o combate à pandemia. O anúncio foi feito pelo arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, que notou que a iniciativa se enquadrava no atual “momento de corresponsabilidade solidária”. A diocese criou também, no final de março, uma linha telefónica para apoiar pessoas que estejam, por exemplo, em isolamento ou de luto e que não tenham acesso à internet através do número verde 800 210 114.

“Estou convencido que haverá um efeito muito positivo deste vírus que fará uma sociedade mais unida”

Em entrevista no Direto ao Assunto da Rádio Observador, D. Jorge Ortiga afirmou que a pandemia da Covid-19 servirá para que “olhemos uns para os outros” além da habitual “atitude de sobranceria”. “Todos estamos convencidos que quando esta crise passar nada vai ficar na mesma. Estou convencido que haverá um efeito muito positivo deste vírus que fará uma sociedade mais unida. Viveremos um pouco mais na igualdade tão proclamada, mas tão pouco vivida”, afirmou.

Dom Jorge Ortiga: “é previsível um número bastante elevado de situações de carência”

O arcebispo de Braga reconhece que o país irá passar “por um momento difícil” e, deixando algumas críticas aos bancos, frisa que existe “fome, solidão e carência de coisas essenciais” e que é tempo também da Igreja cumprir o desígnio de ser “uma Igreja que se quer pobre ao serviço dos pobres”.

“Uma grande guerra que nos vai trazer grandes complicações”, definiu o arcebispo que apelou a todos os padres da diocese que pudessem doar o equivalente a um salário. Ao Observador diz que a adesão dos sacerdotes está “a ser muito boa”, conforme esperava, e que posteriormente a hipótese de receber doações de outras pessoas poderá acontecer com o alargamento do fundo.

O arcebispo frisou ainda a responsabilidade assumida por todos, sem “cair em amadorismos”, mas cumprindo com o isolamento social recomendado pelo Governo. Isolamento social esse que terá também efeitos nas celebrações pascais deste ano que se farão em igrejas vazias que os fiéis poderão acompanhar através da televisão ou internet.