Em Portugal, são os cidadãos mais jovens os maiores defensores de medidas de restrição mais apertadas para conter a pandemia de Covid-19. A conclusão é de um estudo — “Impacto Social da Pandemia” — realizado pelo Instituto de Ciências Sociais e o ISCTE, da Universidade de Lisboa, entre os dias 25 e 29 de março (durante o primeiro período de estado de emergência) e com uma amostra de 11.500 inquiridos.

A faixa etária não foi o único fator a ter em conta — sexo, escolaridade, rendimentos e alinhamento políticos também foram tidos em conta na análise. “De facto, à medida que aumentam a idade, a escolaridade e os rendimentos dos inquiridos, diminui a propensão para a defesa de maiores limitações”, pode ler-se no documento. Num estudo em que nove em cada dez inquiridos afirmou concordar com o estado de emergência declarado a 18 de março, são as mulheres, mais do que os homens, que tendem também a exigir mais restrições.

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Entre os que defendem que o país precisa de medidas de contenção e restrição mais apertadas, as principais preocupações prendem-se com o desrespeito pelo isolamento social e com a provável importação de casos. Alguns inquiridos defendem ainda um “encerramento mais abrangente de empresas e serviços”, algo que diz respeito, em especial, aos supermercados. Há ainda quem veja a necessidade de o país apertar as medidas higiénico-sanitárias, como o uso obrigatório de máscara e luvas em público.

Quanto às expectativas em relação à duração das restrições, um terço da amostra acredita que as atuais medidas deverão estender-se até ao final do verão. “A incerteza e a crença no pior cenário” incidem especialmente no caso dos mais velhos e daqueles que têm maiores dificuldades económicas. Os mais jovens, por sua vez, são os que acreditam que as atuais restrição terminarão em breve, entre abril e maio.

A confiança na informação e na resposta à pandemia

Quanto à confiança da amostra na resposta das autoridades decisoras à pandemia, a tendência reflete a conclusão acima tirada. Além de serem os que mais defendem o aperto das restrições, são também as camadas jovens da população as que menos confiam na resposta do Presidente da República, do Primeiro-ministro, da ministra da Saúde e da diretora-geral da Saúde à atual crise sanitária.

“A confiança dos inquiridos também diminui à medida que declaram que tinham maiores dificuldades em viver com o rendimento que auferiam antes da pandemia”, lê-se ainda no documento. Contudo, a confiança tende a aumentar, de forma difusa entre os diferentes grupos sociais e políticos, quando o foco é dirigido dos cargos políticos para instituições como as forças de seguranças e o Serviço Nacional de Saúde. Também aqui, a menor confiança entre os mais jovens e os que sentiam maiores dificuldades económicas continua evidente.

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Quanto à informação veiculada pelos meios de comunicação social, são os mais jovens e com menores níveis de escolarização, os que menos confiam na televisão e na imprensa. Quanto ao nível económico, “a confiança nestes meios de informação aumenta quanto mais ‘confortáveis’ as pessoas se sentem com o seu nível de rendimento”, conclui o estudo.

No caso das redes sociais, são os estratos económicos mais baixos e a população com menores níveis de instrução que apresentam maior confiança na informação veiculada. “É entre as camadas mais jovens da população (entre os 25 e os 34 anos) que a fiabilidade da informação proveniente das redes sociais é mais questionada”, pode ler-se.

Com os níveis mais baixos de escolaridade surge também uma maior confiança nas informações transmitidas por amigos e família. No caso particular dos indivíduos que pertencem a grupos de risco, estes tendem a depositar mais confiança nas informações dadas pelas suas relações pessoais.

O impacto económico nas famílias

As conclusões revelam que os indivíduos com situações económicas precárias já antes da crise estão a ser mais afetados financeiramente. “Mesmo numa fase muito inicial, são os indivíduos em situações económicas mais precárias que estão a ser mais afetados financeiramente pela crise”, afirma o estudo.

O nível de instrução dos inquiridos “não parece ter influenciado a perda de rendimentos quase imediata”. Contudo, questionados sobre o atual nível de conforto financeiro, a correlação surge bastante fortes. Quem se afirma confortável possui, regra geral, habilitações académicas mais elevadas. Os que identificam mais dificuldades têm uma instrução menor. Ainda assim, o estudo assinala que as preocupações com os rendimentos são transversais a todos os inquiridos.

Os autores esclarecem que o objetivo do estudo é apenas identificar uma tendência e não retirar conclusões universais para a população portuguesa. O inquérito voltará a ser realizado na última semana de abril. Atualmente, Portugal regista 15.987 casos confirmados de infeção pelo o novo coronavírus e 470 mortes. O Presidente da República prolongou o estado de emergência até 14 de abril, com medidas especialmente apertadas neste fim de semana de Páscoa.