Um dia depois da polémica em torno do pagamento por saldar da primeira prestação de Rúben Amorim ao Sp. Braga, que obrigaria a que os leões tivessem de realizar o mesmo até esta sexta-feira sob pena de ficar a dever não só a totalidade das outras tranches mas também multas previstas, Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting com o pelouro das finanças e administrador da SAD, garantiu que os compromissos serão cumpridos mas que os verde e brancos fizeram um ato de gestão e que nem por isso terão de pagar qualquer coima por tal. Mais: de acordo com o dirigente, a hipótese de poder falhar as provas europeias na próxima época é um “não assunto”.

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“Em primeiro lugar é importante contextualizar a situação. Tem-se falado do caso Rúben Amorim como noutros quando estamos numa situação e num contexto nunca antes vividos e por isso é ridículo andarmos a falar de atrasos de pagamentos a fornecedores de 15 dias ou menos de um mês no contexto em que estamos. O Sporting pela primeira vez na história anunciou um lay-off, que não é o único porque há no país inteiro e no mundo inteiro, o FMI acaba de anunciar que Portugal vai ter a maior quebra no PIB de que há registo e neste contexto anormal falamos de atraso de pagamentos de dias a um fornecedor. Ou não se percebe o contexto em que se está ou não se sabe o que é gerir uma empresa nestas condições”, começou por referiu, em entrevista à SportTV.

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“O que o Sporting tem feito é uma gestão séria e preocupada, tendo em conta o contexto e a necessidade de criar a maior almofada possível e as melhores condições para ultrapassar um contexto inacreditável. Ainda assim, e em comparação com março de 2019 ou março de 2018, o Sporting está hoje numa posição mais confortável. Em condições difíceis e tomando medidas difíceis, queremos passar pela crise mitigando ao máximo o seu impacto, saindo vivos para retomar a atividade dentro da normalidade possível. Não é só a pandemia, são os meses que se vão seguir. Alguém sabe se está a vender bilhetes de época em junho ou julho? Se os estádios estão abertos em julho ou agosto? Esta é uma gestão preocupada que prepara o mundo a seguir à Covid-19″, prosseguiu, antes de entrar especificamente no tema da contratação de Rúben Amorim e dos prazos de pagamento.

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“Não vou entrar em detalhes do contrato, que são confidenciais. Se o Sp. Braga fez isso, não estou de acordo. Mas de uma forma genérica o Sporting não falhou nenhum pagamento relevante relativo a acordos deste estilo antes da Covid-19 e do Estados de Emergência. E vai cumprir com todas as suas responsabilidades, só está a tentar gerir as coisas para passar a crise da forma menos má possível. Estava preciso e bastante claro que íamos pagar até ao final do segundo prazo [final de março] mas houve uma alteração de contexto. Aliás, está previsto na lei que alterações de circunstâncias fundamentadas por coisas anormais, como é o caso. Não há nada mais anormal…”, disse, antes de falar noutros pagamentos falhados e do fair-play financeiro.

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“Também tenho clientes que me estão a falhar pagamentos agora, alguns que falham há uns meses e outros que vão falhar e querem já alterar as condições e os prazos de pagamento. Há determinados clubes que se esquecem do contexto e tentam jogar com os media para criarem algum tipo de pressão. Ainda por cima no dia em que anunciámos o lay-off, que foi o ato de gestão mais difícil que tomámos, com colaboradores que ganham muitas vezes pouco… As receitas desta indústria, como noutras, sofreram cortes quase totais. Sobre o IVA, é um não assunto, porque é dedutível. Eventuais penalidades pelo atraso? O Sporting vai pagar os dez milhões com o plano de pagamento que anunciou mas houve uma alteração de circunstâncias. Tenho de gerir a tesouraria de outra forma, não temos receitas. Fair-play financeiro? O fecho dessa janela é 31 de março mas abrange os resultados até final de dezembro, só isso respondia. E a UEFA ainda adiou um mês essa janela”, argumentou.

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Por fim, Francisco Salgado Zenha manifestou a surpresa positiva pela solidariedade demonstrada por todos os colaboradores com quem falou, e que “fizeram o esforço para aceitarem o plano de forma construtiva”, e também do plantel de futebol. “A decisão foi colegial, unânime e assinámos o acordo com todos os jogadores cujo o passe é detido pelo Sporting. Vai-me surpreender muito se todos os clubes não o fizerem”, disse, assumindo a posição difícil e a tentativa de criar as melhores condições para sair da mesma. Sobre o regresso da Liga, o dirigente frisou a crença de que as dez últimas jornadas perante determinadas condições e um plano de ação bem feito mas admitiu que o cenário mais provável é que o futebol volte mesmo numa fase inicial à porta fechada.

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