O antigo ministro das Finanças grego criticou esta sexta-feira o ministro das Finanças português, afirmando que o acordo aprovado pelo Eurogrupo, que consiste num pacote europeu de 540 mil milhões para combater a crise, é o início do fim do euro. Em entrevista à TSF, Yanis Varoufakis garante ainda: “Vai haver austeridade”.

Eurogrupo chegou ao acordo já esperado (a valer 540 mil milhões) mas deixou “coronabonds” para segundas núpcias

“O valor faz dó. O resto do mundo está a rir-se da Europa, e com razão. É só 0,2% do PIB da zona euro. O resto é empréstimos, e os empréstimos são inúteis“, lamenta, referindo que a Alemanha está a canalizar injeções diretas de 6%. Já em Portugal e na Grécia são cerca de 0,9%, o que irá “ampliar os desequilíbrios já existentes”.

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Varoufakis vai mais longe e defende que “os resgates a Portugal e à Grécia foram disfarçados de solidariedade”, mas avisa que, neste momento, não é uma questão de solidariedade. “Nós, os países do Sul, não devemos apelar à solidariedade. Devemos apelar ao bom senso”, frisa, referindo-se aos eurobonds.

Segundo o antigo ministro das Finanças grego, os eurobonds, pedidos pela Grécia e Portugal, são essenciais, uma vez que constituem uma reestruturação da dívida, que passa a ser partilhada pela Europa. “Espalhando a dívida, o valor líquido diminui nos próximos 20 anos, tornando-se mais gerível”, acrescenta.

Ao optar por empréstimos do Mecanismo Europeu de Estabilidade ou dos mercados, Varoufakis explica que “países como a Grécia ou Portugal vão estar tão endividados no próximo ano que, mesmo sem restrições orçamentais europeias, vai haver um nível de austeridade pior do que a de 2011“.

Não pode haver melhor presente para os eurocéticos, para os nacionalistas que querem destruir a União”, diz, referindo-se à segunda vaga de recessão que garante que irá acontecer e será imposta por Bruxelas e Frankfurt.

É por isso que acho que o Eurogrupo de dia 9 de abril vai ser lembrado como o momento em que a desintegração da União Europeia e da zona euro começou”, frisa.

Questionado acerca do desempenho de Mário Centeno enquanto mediador do acordo e presidente do Eurogrupo, o antigo ministro grego classifica-o como “vergonhoso”, frisando que este “tinha o dever moral e político para com os povos português e europeu de não repetir os desempenhos do sr. Juncker e do sr. Dijsselbloem quando eram presidentes do Eurogrupo“.

“Ele devia baixar a cabeça com vergonha por ter arranjado este não-acordo. Se esta não fosse uma situação trágica seria uma piada”, afirma, acrescentando: “Não tenho dúvidas de que o lamentável Eurogrupo ao qual o sr. Centeno presidiu condenou a zona euro a ser um bloco económico doente. A China, os Estados Unidos e o Reino Unido vão ter uma recuperação muito mais rápida”.