A CGTP diz “não aceitar” que se tente impedir as comemorações do 25 de abril na Assembleia da República “sob falsos pretextos”. Em comunicado, a intersindical garante que “está em curso uma campanha levada a cabo por quem ainda não desistiu de acertar contas com o 25 de abril e as suas conquistas e valores”.

Isabel Camarinha: “Está-se a tentar transformar celebrações do 25 de abril na Assembleia da República num atento à saúde dos portugueses”

“[Uma campanha] com que se pretende impedir as comemorações da Revolução que devolveu aos trabalhadores e ao povo português a Liberdade, a Democracia e um vasto conjunto de valores e de direitos que continuamos a defender e a exigir que sejam cumpridos na sua totalidade (…) Face a esta campanha, a CGTP-IN reafirma que, na situação provocada pelo surto epidémico que veio alterar as nossas vidas e em que são fundamentais medidas de proteção da vida e da saúde, é também imprescindível que sejam garantidos os direitos e interesses dos trabalhadores”, acrescenta a organização.

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Entretanto, o jornal Público avança que, esta segunda-feira, os serviços da Assembleia da República vão reunir com o gabinete da ministra da Saúde e representantes da Direção-Geral da Saúde para informar as autoridades sobre as presenças de deputados, convidados, funcionários e jornalistas na sessão do 25 de abril. A informação já foi confirmada por fonte oficial do gabinete de Ferro Rodrigues ao Observador e a reunião deve realizar-se ao final da tarde desta segunda-feira.

Em declarações à Rádio Observador, a secretária-geral da CGTP afirmou que se tem “transformado uma coisa que vai ser realizada na Assembleia da República no dia 25 de abril como se fosse um atentado à saúde dos portugueses”. “Não se compreende como é que se está a tentar fazer crer que a CGTP vai mobilizar milhares de trabalhadores para as ruas”, acrescentou Isabel Camarinha, que adiantou ainda que o Conselho Nacional vai reunir esta segunda-feira para decidir “onde e como vai realizar as ações” pensadas para o 1.º de maio que vão levar para as ruas “os protestos, as indignações e as exigências dos trabalhadores”. “O Presidente da República e o primeiro-ministro concordaram que é importantíssimo assinalar estas datas”, concluiu a líder sindical, que garantiu ainda que “se for recomendada a utilização de máscaras” os elementos nas iniciativas vão usá-las.

[Ouça aqui as declarações da secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, à Rádio Observador]

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A CGTP dedica então alguns parágrafos às comemorações do 1.º de maio e recorda a declaração feita a 14 de abril, quando a intersindical garantiu que não iria realizar “manifestações, concentrações e desfiles”. “Neste dia 1.º de maio de 2020, estaremos na rua, garantindo a proteção e o distanciamento sanitário pois preocupamo-nos com a saúde dos trabalhadores e de toda a população. Não teremos a participação de centenas de milhares de trabalhadores e de reformados que estarão solidários a partir das suas residências”, adianta a CGTP.

A intersindical indica ainda que a “campanha está a tentar também que no 1.º de maio os trabalhadores não possam expressar a sua indignação face à situação que estão a viver, de brutal ataque ao emprego, aos salários, aos direitos consagrados na lei e na contratação coletiva” e garante que é necessário “trazer para a rua a voz do trabalho e dos trabalhadores, da denúncia do desemprego, dos cortes de salários, da incerteza no dia de amanhã, da destruição das vidas de tantos trabalhadores e da exigência da tomada de medidas”. Por fim, a CGTP garante que no dia 25 de abril, às 15h, irá cantar “a Grândola e o Hino Nacional”.

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A sessão solene programada para a Assembleia da República no próximo dia 25 de abril, com 77 parlamentares e 50 convidados, tem motivado muitas críticas e até deu origem a várias petições online — umas contra as comemorações, outras a favor. Este sábado, já depois de o presidente do CDS ter garantido que não marcará presença na sessão, o presidente da Assembleia da República afirmou que o 25 de abril “tem de ser e vai ser celebrado” no Parlamento. Em declarações ao jornal Público, Eduardo Ferro Rodrigues acrescentou que a comemoração se justifica “mais do que em qualquer outro momento” e adiantou que a “Assembleia da República não saiu do terreno da vida política democrática com a pandemia, o estado de emergência ou a pressão de saudosistas, anti-parlamentares ou seguidores de fake news“.

Além de Francisco Rodrigues dos Santos, também o autarca de Cascais, Carlos Carreiras, anunciou que não ia permitir as comemorações no concelho, considerando mesmo um “erro” as habituais celebrações do 25 de abril, mas também do 1.º de maio e do 10 de junho, pelo potencial de concentração de pessoas.

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Já Ana Catarina Mendes, a líder parlamentar do PS, disse que as críticas feitas às comemorações têm uma motivação “ideológica” e não de defesa da saúde pública. Em declarações à Agência Lusa, Ana Catarina Mendes garantiu que o partido não vai pactuar com “inverdades” e que está preocupado com o combate à pandemia como está “preocupado em simbolicamente assinalar o dia da liberdade, o dia da democracia em Portugal”. Também Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, sublinhou que a sessão solene, com intervenções de todos os partidos, “corresponde à obrigação dos titulares de cargos políticos que foram eleitos”.

João Soares e Manuel Alegre, dois históricos do PS, dividiram-se. No Facebook, o antigo ministro da Cultura disse ser “um disparate persistir na ideia” de celebrar o 25 de abril “no modelo tradicional” e acrescentou que “a Assembleia da República, com o seu Presidente à cabeça e a pronta anuência do Presidente da República, conseguiu o que não passaria pela cabeça de um cão tinhoso — pôr uma boa parte dos portugueses contra as comemorações do 25 de abril”. Já Manuel Alegre, que foi o convidado do programa “Vichyssoise” da Rádio Observador na passada sexta-feira, defendeu que “a democracia não está suspensa” e que é “perfeitamente natural e legítimo que o Parlamento comemore o 25 de abril”.