O site que Afonso Moreira Pires, empreendedor e fotógrafo, criou chama-se “juntosnisto.pt”. Como diz o nome, o objetivo da plataforma é mostrar que, nesta época de pandemia, toda a gente está junta no mesmo barco. No entanto, há quem continue a ter de sair de casa para manter a sociedade a funcionar, como os profissionais de saúde e as forças de segurança. É o trabalho destas pessoas que Afonso quer ajudar com o lucro que obtém destas t-shirts. E que dizem isto mesmo: “Juntos Nisto”.
“A ideia surgiu há duas semanas, numa noite em que estava com alguma dificuldade em dormir”, conta ao Observador o empreendedor e fotógrafo. Irrequieto, Afonso afirma que queria fazer alguma coisa que não o fizesse estar só em casa. Nessa noite, escreveu numa nota no telemóvel: “T-shirts corona. Dinheiro vai para hospitais, bombeiros, forças de segurança”. Com esse esboço, nasceu a ideia que, em três dias começou vendas. Duas semanas depois, já vendeu 548 t-shirts para angariar donativos através do site que criou.
Com 26 anos, Afonso vai dividindo nestes dia a operação entre casas dos pais, onde vive, e o escritório da sua empresa, a Dwyc. É nesse espaço que, com os materiais que compra, estão também a ser feitos os equipamentos pedidos pelas instituições.
Para agilizar o processo de venda destas t-shirts, Afonso utilizou a empresa que detém, a Dwyc Unipessoal (siglas para Do What You Can’t], para avançar com a ideia. Antes de pandemia, utilizava esta entidade para fazer trabalhos de fotografia e ações em eventos como o Nos Alive. “Se fosse começar do zero nunca mais saía daqui. Percebi: tenho uma empresa criada, o NIF feito, até na Makro ajudou a fazer o cartão mais rapidamente tendo em conta o cariz da situação”, esclarece.
Para onde é que vai o dinheiro? Afonso diz que “não é como Pedrógão”
Em números, dos 11 euros que uma pessoa gasta numa t-shirt (mais portes de envio), cinco euros são para os donativos, o resto é para impostos e custos de produção. Para não dar o dinheiro diretamente a instituições — para evitar “um caso como os donativos de Pedrógão”, que não foram todos alocados para o pretendido –, Afonso tomou outra decisão. Procura instituições que precisem de material e, com o dinheiro arrecadado, compra o que é preciso.
“Para já, temos três causas associadas. Temos a ULSBA – Unidade local de Saúde do Baixo Alentejo (hospital de Beja), onde sabemos que tinham costureiras a fazer peças, como cóbulas e perneiras. Estamos a tentar comprar o tecido com o dinheiro que temos”. Além disso, há “os Bombeiros Voluntários de Lisboa, para quem já comprámos algum material, mas ainda faltam coisas”. Os “toalhetes desinfetantes têm sido mais difíceís” de encontrar, assume. Por fim, está a ajudar a Comunidade Vida e Paz – Lisboa, que precisa de luvas e máscaras para a distribuição de refeições nas ruas.
Cada t-shirt custa 11 euros mais portes de envio, com IVA incluído, e Afonso Moreira Pires promete que quer ser totalmente transparente com os custos. Até agora, diz: “Não pus dinheiros, pus trabalho”. “Paguei a primeira mensalidade do site, que foi devolvida [pela Jumpseller], para me darem um empurrão a isto”, conta. Ainda na parte online, está a usar “todas as versões de testes” para minimizar os custos.
O design é todo da sua autoria. Já a ajuda logística, essa tem sido feita com a ajuda da melhor amiga, Rita Albuquerque, que é comissária de bordo na Tap e está em lay-off. Além disso, a namorada, Inês Rau Silva, também tem ajudado. Além disso, atualmente, tem contado com costureiras voluntárias que estão a ajudar a fazer as cogulas pedidas pela ULSBA.
Quanto aos restantes custos para fazer as t-shirts, contou com a ajuda do amigo Frederico Gonçalves, que, além de ser conhecido antigamente como Dj Frederik, também gere a Kornimprime, uma empresa de estampagem de t-shirts. Fez-lhe um “preço especial [mais barato]” e ajuda na logística, mas Afonso justifica: “Calculo que tenha [algum lucro], mas têm 18 salários para pagar”.
[No Facebook, semanalmente o projeto quer publicar um mapa semelhante aos dos casos confirmados de Covid-19, mas a mostrar as cidades para onde já foram enviadas t-shirts]
https://www.facebook.com/juntosnisto/posts/116682859997381
A distribuição das t-shirts em Lisboa é feita pela Expeed, uma empresa de outros amigos, Afonso Anjos e Guilherme Pacheco. Contudo, como a ideia está a crescer, os CTT entraram em contacto com o empreendedor para tratar das entregas para o resto do país, também com um custo. Agora, só falta chegarem ao estrangeiro: “Temos dezenas de portugueses no estrangeiro, em Londres e na Alemanha, a pedir as t-shirts. Estamos a tratar disso”, garante.