É mais um desafio para os médicos na linha da frente do combate à Covid-19. Há doentes que depois de terem sido dados como curados — com testes negativos — voltam a testar positivo, alguns até 70 dias depois dos resultados negativos. Ainda que sem sintomas, e sem que haja registo que tenham infetado outras pessoas, os médicos chineses em Wuhan, a primeira região do mundo que lutou e conseguiu conter a propagação da pandemia, acrescentam agora mais estes dados à já de si complexa equação do novo coronavírus.
“Já não aguento mais”, diz um dos doentes em isolamento ao psicólogo que o visita no apartamento onde está a cumprir mais um período de quarentena. O relato é feito pela Reuters, que acompanhou Du, o psicólogo, na visita a um dos doentes que continua a testar positivo para a Covid-19 depois de mais de terem passado mais de dois meses desde que foi diagnosticado. Já foi tratado em dois hospitais e depois acabou por ser transferido para um centro de quarentena criado na zona industrial de Wuhan. A primeira vez que foi testado foi no início de fevereiro e, na terceira semana de abril, continua a dar positivo. Não tem sintomas, tal como vários outros casos que os médicos chineses começam a reportar.
Quem é transferido para este centro de quarentena só é autorizado a sair depois de 28 dias e dois testes negativos. Um dos doentes que o psicólogo acompanha já fez mais de dez testes desde a terceira semana de fevereiro. Alguns com resultado negativo, mas a grande maioria com resultado positivo e nunca dois negativos seguidos, o que lhe permitiria regressar a casa. “Estou bem e não tenho sintomas, mas faço o teste e é positivo, repito e é positivo. Que vírus é este?”, questiona o homem que não foi identificado pela Reuters.
De acordo com os médicos chineses, em algum momento do tratamento estas pessoas testaram negativo, mas voltaram a testar positivo “alguns até 70 dias mais tarde”, a maior parte cerca de “50-60 dias” depois do primeiro teste negativo. Depois do final da quarentena na região e do progressivo regresso à normalidade, este é agora um dos desafios com que os médicos se confrontam, para tentar evitar um novo surto antes do surgimento da vacina. Para já, segundo as autoridades chinesas de saúde, não há registo que estes doentes que voltaram a testar positivo tenham infetado outras pessoas.
Um dos casos relatados à Reuters, pelo vice-presidente do hospital Zhongnan, Yuan Yufeng, é de um doente que voltou a testar positivo 70 dias depois do primeiro teste positivo. “Não vimos nada como isto durante a SARS”, disse o médico. Tal como seguido nos países onde há casos da pandemia, os doentes chineses só foram considerados curados depois de dois testes negativos feitos pelo menos com 24 horas de diferença entre eles, algo que os médicos chineses querem agora que seja aumentado para três testes negativos ou mais.
Segundo a Reuters, os relatórios dos hospitais chineses a que teve acesso dão conta de dezenas de casos de doentes que voltaram a testar positivo. Na Coreia do Sul, cerca de mil pessoas testaram positivo durante quatro ou mais semanas, relato semelhante ao dos médicos italianos. Considerando a diferença temporal entre os 14 dias que são atualmente considerados como período de contágio e que obrigam ao isolamento do doente e os relatos de mais de quatro semanas com testes positivos, os médicos em Wuhan estão a optar por manter os doentes em isolamento durante mais tempo.
O presidente do hospital Jinyintan, onde foram tratados os doentes mais graves com a Covid-19, afirma que as autoridades de saúde assumem que se possa tratar de um período de isolamento “excessivo”, em especial para os doentes que não estão contagiosos, mas considerando a abertura da cidade e o regresso à normalidade “é preferível aumentar o isolamento e proteger a população”.
Mas a dúvida permanece: foram falsos negativos ou são doentes que foram novamente infetados pelo novo coronavírus, o que poderá significar que não ficaram imunes? O médico Zhao Yan garante que os doentes não foram “novamente infetados”, já que cumpriram um estrito isolamento e mantiveram-se em quarentena. “Tenho a certeza que não foram novamente infetados”, diz.
Já Jung Eun-kyeong, diretor do centro sul-coreano para controlo e prevenção de doenças afirmou que o vírus foi “reativado” em 91 doentes sul-coreanos que testaram positivo depois de terem sido classificados como livres da doença.