O Benfica garantiu esta quinta-feira que irá pagar amanhã o empréstimo obrigacionista lançado em 2017, de 50 milhões de euros. Em entrevista à BTV, Domingos Soares de Oliveira, administrador da SAD, explicou que, ao invés do que tem sido habitual, não existiu o lançamento de um novo empréstimo obrigacionista para pagar o cessante, recordou ainda os 25 milhões que foram pagos em janeiro no mesmo tipo de operação e aproveitou para falar de outros temas, nomeadamente o impacto da pandemia nas contas do clube e do próprio futebol.
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“Durante muito tempo, o método normal passava por lançar novos empréstimos obrigacionistas para fazer o reembolso anterior, numa operação apoiada por uma entidade financeira. Desta vez, mesmo com condições de mercado que são diferentes, aproveitámos a disponibilidade de tesouraria suficiente para fazer este reembolso de quase 50 milhões de euros mas também o de janeiro, com o reembolso antecipado de umas obrigações que venciam em 2021. Juntando estas duas operações, estamos a falar num total de reembolsos feitos por meios próprios, sem recurso a financiamento extraordinário, de cerca de 75 milhões de euros”, começou por referir, antes de admitir que, face ao atual contexto, “era possível tecnicamente fazer uma suspensão ou adiamento do reembolso”.
“Era necessário convocar uma AG de obrigacionistas, o que se faz normalmente com um mês de antecedência e explicar, à imagem do que o Sporting fez creio que há cerca de um ano [n.d.r. maio de 2018], em que conseguiu o adiamento do reembolso. No nosso caso, uma das questões críticas do Benfica é garantir que em nenhum momento falhamos perante os nossos financiadores, bancos, obrigacionistas e outras entidades. Se as pessoas que investem no Benfica ficaram de certa forma dececionadas em janeiro quando antecipámos o reembolso [do empréstimo de 2021], desta vez este reembolso vai desta vez poder ajudar na gestão das tesourarias pessoais em tempos incertos”, explicou, traçando uma primeira diferença entre contexto antes e depois da Covid-19.
Não está excluída a hipótese de haver um outro empréstimo obrigacionista no futuro. Foi positivo termos capacidade financeira para fazermos agora o reembolso, se nada tivesse mudado não falaríamos mais nisso mas já percebemos que esta crise terá impacto na indústria e é natural que, caso o mercado anime, possamos fazer alguma emissão obrigacionista”, admitiu Soares de Oliveira.
O administrador da sociedade encarnada falou depois das contas da SAD e do universo Benfica. Antes de, na última mensagem da entrevista, recordar os tempos em que as águias estiveram quase em situação de falência, “não só técnica mas também prática”, Soares de Oliveira regozijou-se com o trabalho feito nos últimos anos para chegar a uma situação consolidada como a atual e revelou que a venda de João Félix para o Atl. Madrid por 126 milhões de euros foi apenas uma das partes que justificam o equilíbrio financeiro e no plano de tesouraria.
“Depois desta operação, temos um total de empréstimos obrigacionistas a decorrer de cerca de 60 milhões de euros e mais uma operação de financiamento junto de uma entidade financeira de dez milhões. A nossa dívida sujeita a encargos financeiros, que se chama dívida financeira, é assim de cerca de 70 milhões de euros, um valor extremamente baixo. Se olharmos numa perspetiva história, só no início do século, quando ainda não tínhamos novo estádio e bem Benfica Campus, é que tínhamos uma dívida tão baixa”, salientou.
“Em parte, é verdade que a venda do João Félix ajudou a isso mas é uma análise curta. É preciso ver toda a nossa evolução na última década, sobretudo nestes últimos sete anos. Independentemente do que possa acontecer e do impacto da pandemia, os resultados que vamos apresentar serão sempre positivos porque o ano correu bem e são sete anos seguidos com resultados positivos. De forma paulatina fomos construindo um modelo de redução de endividamento, o contrato com a NOS também permitiu uma redução mais acentuada. Temos disponibilidades de tesouraria altas mesmo depois deste reembolso. Tivemos um pico máximo de endividamento em 2013/14, acima dos 300 milhões, e agora estamos nos 70 milhões. Esta redução, de quase 250 milhões de euros, não pode ser só explicada com o efeito da venda de João Félix”, detalhou de seguida, antes de abordar o futuro.
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“Há aqui duas questões: uma de tesouraria, outra de resultados financeiros. Já antecipámos o impacto que pode haver este ano e que está dependente de haver jogos ou não há porta fechada e dos direitos televisivos mas os resultados serão sempre positivos. Em termos de caixa, tínhamos 100 milhões, com o reembolso dos 50 milhões ainda é favorável mas não nos permite continuar sem competição mais uma época por exemplo”, frisou, antes de falar em termos práticos das receitas que o Benfica foi deixando de receber com esta paragem da Liga.
“Se somarmos as receitas de Red Pass, camarotes e executive seats, com variações de 10%, estamos a falar num valor de 25 milhões de euros. Se fizermos 25 jogos na Luz, o custo de cada um ser à porta fechada é de um milhão. Se não tivermos jogos o impacto é maior por causa do contrato com a NOS, que envolve direitos televisivos e a exploração da própria BTV, e também por existe a parte do merchandising e das receitas das provas europeias, que não existem. Mas hoje estamos melhor preparados do que há um ano e há um ano estávamos melhor preparados do que há dois anos. Temos uma confiança moderada. Moderada porque temos estas nuvens negras que não sabemos quando vão desaparecer mas confiança pela realidade económico-financeira e de tesouraria”, disse.
Por fim, o administrador da Benfica SAD com o pelouro das finanças abordou ainda a variação negativa que tem existido a nível de valor de mercado dos jogadores e os ajustes internos feitos perante a atual situação, que nesta fase passaram até aqui pela suspensão de alguns investimentos internos que estavam a ser preparados.
“Vai tudo depender da capacidade que o Benfica terá para fazer face à crise mas temos uma situação líquida positiva e como tal, não havendo necessidades extremas de caixa, não entramos num mercado onde os jogadores que temos estão agora desvalorizados. Os valores do próximo mercado de transferências serão diferentes. Temos estado a analisar as informações do mercado, o impacto nas contas, a olhar para cada realidade porque o universo Benfica são dez empresas. Não posso dar nenhuma garantia no futuro mas só entraremos num processo de redução de custos se for mesmo necessário. Íamos fazer mudanças no estádio na luz, no som e nos megascreens, isso foi suspenso tal como outras coisas no Seixal e parte do investimento na pré-época. Vão ser 12/18 meses desafiantes. A indústria não tem de se reinventar, vai sim passar por desafios. Há ou não espetadores? Há ou não transferências? Há ou não jogos? Essas respostas terão um grande impacto”, concluiu Soares de Oliveira.